«Quando Portugal é classificado como “lixo” pelas agências de rating ou notação financeira (ou seja, alguns dos principais envolvidos no escândalo financeiro de 2008 que precipitou esta crise estrutural do capitalismo), é altura de dizer, para quem ainda não tenha percebido, que não é com a mesma receita que nos trouxe a este buraco que vamos conseguir sair.
Mudar caras, nomes e símbolos partidários – para prosseguir e acentuar as mesmas opções políticas de fundo que já vinham de trás com os Governos anteriores – não resolve nada. O roubo no subsídio de Natal é mais uma etapa de um caminho que não acaba aqui: eles simplesmente vão dizer que afinal não chega. A mudança que se impõe, tal como vimos alertando, só se concretiza com uma política patriótica e de esquerda e com um Governo em condições de a pôr em prática. Há quem tenha expressado escândalo e indignação com os malvados dos senhores das agências de rating. Mas a verdade é que, com mais do mesmo, fazendo o jeito aos capitalistas, a resposta do capitalismo só pode ser uma: querer mais. Está na sua natureza. Isto não é o capitalismo numa fase desagradável. É o capitalismo, ponto final.
Ora, como não é cedendo ao chantagista que se acaba com a chantagem, a saída só é possível com coragem política para enfrentar os interesses instalados e o poder económico. É preciso dizer Basta! E a exigência de uma mudança de políticas, a defesa concreta dos direitos, só se faz com a acção e a luta. Como há dias sublinhou a Direcção da Organização Regional de Setúbal do PCP, saudando desde logo as lutas vitoriosas dos trabalhadores da CP e da FISIPE, só a luta é o caminho para defender e conquistar direitos.
É assim que se responde a essa ideologia dominante que faz passar incessantemente as teses da inevitabilidade, do conformismo, do “tem que ser”. Aliás, como também a DORS do PCP relembrou, que nenhuma das medidas contidas no programa do Governo ou do pacto da troika estão aprovadas: é possível e necessário fazer frente e impedir a concretização de cada uma das medidas negativas.
O PCP apela aos trabalhadores e ao povo que prossigam e intensifiquem a luta contra a política de direita. E destacou particularmente a luta deste Sábado, dia 9 de Julho, com o PicNic contra a precariedade, acção dinamizada pela Interjovem, Juventude Operária Católica, Associação de Bolseiros de Investigação Científica e Movimento 12 de Março. É aliás curioso que esta luta dos jovens trabalhadores, contra a precariedade, tenha sido agora tão silenciada na comunicação social dominante (e dominada)…
É preciso avisar toda a gente, como dizia o poeta. É da maior importância a participação nas acções de protesto e de defesa dos direitos e da dignidade e do futuro do próprio país. É isso que está em causa também, já neste próximo dia 14 Julho, às 15 horas, na manifestação que partirá do Largo de Santos para a Assembleia da República, convocada pela CGTP-IN.
Há um caminho para sairmos desta situação. O PCP tem afirmado a exigência de uma ruptura com a política de direita que abra caminho a uma outra política, patriótica e de esquerda que, rompendo com as orientações da União Europeia e os interesses do grande capital: valorize os salários e os direitos de quem produz riqueza; defenda a produção nacional; imponha a tributação dos lucros dos grupos económicos; avance com a renegociação da dívida; concretize o reforço dos serviços públicos e do sector empresarial do Estado.
Desde já, o PCP avança na Assembleia da República com a proposta imediata de renegociação da dívida, uma medida da máxima urgência para possibilitar a dinamização da produção nacional (a única resposta estruturante para a crise económica). O debate vai ter lugar no Plenário da AR, já na próxima sessão que está agendada para dia 20. É preciso impedir o caminho de catástrofe económico-financeira para onde estão a querer empurrar o país: procuram encurralar o país numa situação de total fragilidade e de impossível posição negocial perante os abutres da especulação financeira (também conhecidos por mercados), e só aí então dizer-nos que é altura de renegociar ou reestruturar a dívida. Não podemos esperar que nos cortem as pernas para depois começarmos a correr. Simples de entender, certo?»
domingo, 10 de julho de 2011
domingo, 19 de junho de 2011
GREEN, THE FILM
Parece verde. Mas não é.
«DEFORESTATION OF INDONESIA IS MADE POSSIBLE BY:»(...)
THE COMPANIES BEHIND THE WOOD INDUSTRY
Sinar Mas Group – Indonesia
Salim Group – Indonesia
Barito Pacific Group – Indonesia
Bakrie & Brothers Group – Indonesia
Tanjung Lingga – Indonesia
Astra International - Indonesia
Djajanti Group – Indonesia
Kalimanis Group – Indonesia
Kayu Lapis Group – Indonesia
Korindo Group – Indonesia
Gudang Garam – Indonesia
Raja Garuda Mas Group – Indonesia
PT Uniseraya Group - Indonesia
PT Diamond Raya – Indonesia
Mitra Usaha Sejati Abadi (MUSA) – Indonesia
Surya Dumai – Indonesia
Sumalindo Lestari Jaya Group - Indonesia
PT Inhutani - Indonesia
Benua Indah Group – Indonesia
Lyman Group – Indonesia
Alas Kusuma Group - Indonesia
Sumber Mas Group Samarinda - Indonesia
Hasko Group – Indonesia
Central Cipta Murdaya Group – Indonesia
PT Tanjung Kreasi - Indonesia
Rimbunan Hijau – Malaysia
WTK Group – Malaysia
Samling Global Limited - Malaysia
Kerwara Limited – Malaysia
THE COMPANIES BEHIND PULP AND PAPER INDUSTRY
Sinar Mas Group- Indonesia
Asia Pulp and Paper (APP) – Indonesia
Indah Kiat – Indonesia
Kertas Nusantura - Indonesia
Kalimanis Group – Indonesia
Raja Garuda Mas – Indonesia
Kiani Kertas – Indonesia
Raja Garuda Mas International – Indonesia
Asia Pacific Ressources International Holdings (APRIL) – Indonesia
PT Inti Indorayon Utama – Indonesia
PT Riau Andalan Pulp and Paper - Indonesia
PT Tanjung Enim Lestari Pulp and Paper (TEL) - Indonesia
PT Musi Hutan Persada Pacific Timber – Indonesia
PT Arara Abadi – Indonesia
United Fiber System Limited (Unifiber) - Singapore
Jaakko Pöyry - Finland
THE COMPANIES BEHIND THE PALM OIL PRODUCTION
Sinar Mas Group - Indonesia
Astra Agro Lestari – Indonesia
Raja Garuda Mas International – Indonesia
Asian Agri – Indonesia
Salim Group - Indonesia
Inti Indosawit Subur - Indonesia
Musim Mas Group – Indonesia
Duta Palma – Indonesia
Inexco – Indonesia
Indofood Sukses Makmur – Indonesia
Makin Group – Indonesia
London Sumatra – Indonesia
Bakrie and Brothers – Indonesia
Anglo Eastern Plantations Plc – Indonesia
First Resources Limited – Indonesia
Agro Group – Indonesia
Austindo Nusantara Jaya – Indonesia
Surya Dumai Group - Indonesia
Sime Darby Group – Malaysia
IOI Group – Malaysia
JC Chang Group – Malaysia
Guthrie – Malaysia
Golden Hope – Malaysia
Kuala Lumpur Kepong – Malaysia
Asiatic Development – Malaysia
Boustead Holdings – Malaysia
United Plantations – Malaysia
IJM Plantations – Malaysia
Tradewinds Plantation – Malaysia
Golden Agri – Singapore
CTP Holdings Pte Ltd – Singapore
Wilmar / Kuok / ADM - USA
Cargill - USA
MP Evans Group – United Kingdom
Socfindo – Belgium
THE BANKS AND FINANCIAL INSTITUTIONS SUPPORTING IN THE ABOVE INDUSTRIES
World Bank
International Monetary Fund (IMF)
International Finance Corporation (IFC)
World Trade Organization (WTO)
Asian Development Bank (ADB)
World Resources Institute (WRI)
COFACE – France
Export Credits Guarentee Department (ECGD) – United Kingdom
Export Import Bank (EX-IM) – USA
Overseas Economic Cooperation Fund – Japan
Finnvera - Finland
Export Development Canada - Canada
Export Credit Guarantee Board – Sweden
CellMark - Sweden
Gerling-NCM - Germany
National Machinery Equipment Import Export Corporation (CMEC) – China
China Export & Credit Insurance Corporation - China
Sinar Mas Bank – Indonesia
ABN Amro Bank – Indonesia
Bank Central Asia - Indonesia
Bank Mandiri – Indonesia
Babobank Duta - Indonesia
Bank DBS – Indonesia
Bank Panin – Indonesia
Bank Resona Perdania – Indonesia
Danareksa Securities – Indonesia
OCBC Bank – Singapore
DBS Bank – Singapore
AFC Merchant Bank - Singapore
CIBM Group – Malaysia
Malayan Banking - Malaysia
SOCFIN – Belgium
Sipet – Belgium
Bank Brussels Lambert – Belgium
Raifeisen Zentralbank Österreich AG – Austria
Andritz – Austria
Rabobank – Netherlands
ING Bank- Netherlands
Fortis Bank – Netherlands
German Development Bank (DEG) – Germany
Deutsche Bank – Germany
Commerzbank – Germany
HSH Nordbank AG – Germany
HSBC – United Kingdom
Legal & General – United Kingdom
Barclays – United Kingdom
Standard Chartered Bank - United Kingdom
Royal Bank of Scotland – United Kingdom
Edinburgh Java Trust – United Kingdom
Collins Stewart – United Kingdom
Loyds Bank – United Kingdom
Numis Corporation – United Kingdom
Astra Zeneca – Sweden / United Kingdom
UBS – Switzerland
Credit Suisse – Switzerland
Goldman Sachs - Switzerland
Bank of Tokyo-Mitsubishi (UFJ) – Japan
Mizuho Bank - Japan
Vivendi Water – France
Natixis – France
BNP Paribas - France
Credit Agricole – France
AXA – France
Société Générale – France
Citibank – USA
Cornell Capital Partners – USA
Merrill Lynch – USA
Morgan Stanley – USA
JP Morgan Chase – USA
Lehman Brothers – USA
Amroc – USA
Blackrock – USA
THE COMPANIES TRADING OR BUYING WOOD PRODUCTS FROM INDONESIA
CSH Industrial Group - Singapore
Aeonic International Trade - Singapore
Wajilam Exports – Singapore
Jason Parquet - Singapore
Neeshai Trading – Singapore
Nature Wood - SIngapore
Chippel Overseas Supplies – Singapore
Tong Hin Timber Group - Singapore
Sitra Holdings – Singapore
Chiang Leng Hup Plywood - Singapore
Pargan - Singapore
Sunlight Mercantile – Singapore
Sunrise Doors International - Singapore
Wason Industries – Singapore
Dowlet Trading Enterprises – Singapore
Pan Majestic Holdings – Malaysia
Acmeco Ventures – Malaysia
Flooring Box - Malaysia
Hok Lai Timber - Malaysia
Kim Teck Lee Timber Flooring – Malaysia
McCorry Group - Malaysia
Sumec International Technology Trade – China
Jiangsu Kuaile Wood Industry Group – China
Xiamen Xinda Import Export Trading Company – China
Sino Forest Corporation – China
Celandine Co. – China
Montague Meyer – United Kingdom
Wolseley Group – United Kingdom
Homebase – United Kingdom
Habitat – United Kingdom
International Plywood – United Kingdom
Premier Forest Products – United Kingdom
Kingfisher Group (B&Q, Castorama, Brico Dépôts, Hornbach) – United Kingdom
John Lewis – United Kingdom
Travis Perkins - United Kingdom
Kiani – United Kingdom
Wolseley Group – United Kingdom
Maison du Monde – United Kingdom
Jewson – United Kingdom
Allied Carpets – United Kingdom
Caledonian Plywood - United Kingdom
Cipta - United Kingdom
Wood International Agency - United Kingdom
Armstrong World Industries - USA
Lowe’s - USA
Koch Industries Inc. - USA
Chesapeake Hardwoods – USA
Plywood Tropics – USA
Geogia Pacific – USA
Taraca Pacific – USA
North Pacific Lumber – USA`
Far East American – USA
IHLO sales & Imports - USA
The Home Depot – USA
Les Mousquetaires (Bricomarché) - France
Leroy Merlin – France
Saint Gobain Group (Point P / Lapeyre / Jewson / Raab Karcher / Dahl) - France
Maison Coloniale - France
Pier Import - France
Pont Meyer – Netherlands
Hoek Lopik – Netherlands
Oldeboom – Netherlands
Tarkett - Germany
Possling – Germany
Roggemenn – Germany
Daiken – Japan
Seihuko – Japan
Nippindo – Japan
Kahrs - Sweden
IKEA – Sweden
DLH Group – Denmark
Junckers – Denmark
Finnforest - Finland
FEPCO – Belgium
Glencore International – Switzerland
Goodfellow – Canada
THE COMPANIES TRADING PULP AND PAPER FROM INDONESIA
United Fiber System Limited (Unifiber) – Singapore
PaperlinX Asia - Singapore
International Paper Company – USA
Weyerhaeuser Company – USA
Kimberly-Clark - USA
MeadWestvaco Corporation - USA
Procter & Gamble - USA
Koch Industries - USA
OJI Paper – Japan
Nippon Paper Group - Japan
Sumitomo Forestry Co - Japan
Marubeni Corporation - Japan
Itochu -Japan
Marubeni – Japan
Sojitz – Japan
Stora Enso Oyj - Finland
UPM-Kymmene Corporation - Finland
Metsälliitto - Finland
Cellmark – Sweden
Bomo-Cypap Pulp and Paper– Cyprus
THE COMPANIES TRADING OR BUYING PALM OIL FROM INDONESIA
Sinar Mas Group – Indonesia
Permata Hijau Sawit – Indonesia
Golden Agri – Indonesia
Indofood Sukses Makmur – Indonesia
Arnott Indonesia – Indonesia
Wilmar Group – Singapore
Charleston Holdings (Tropical Oil Products) - Singapore
Pacific Rim Plantations Services – Singapore
Olam International - Singapore
Intercontinental Oils and Fats – Singapore
Lam Soon - Singapore
Kuok Group – Malaysia
Sime Darby – Malaysia
Giant – Malaysia
Mitsui & Co – Malaysia
Yee Lee Corporation – Malaysia
Intercontinental Specialty Fats - Malaysia
SSD Oils Mills Co – India
Nirma – India
Hindustan Lever – India
Godrej Industries – India
China Grains & Oils Group Corporation – China
China National Vegetable Oil Corporation – China
Beijing Orient-Huaken Cereal & Oil – China
Beijing Heyirong Cereals & Oils – China
Cargill - USA
Bunge – USA
Archer Daniels Midland (ADM) - USA
Kentuky Fried Chicken (KFC) - USA
Kraft - USA
ConAgra Trade Group Inc. – USA
Reckitt Benckiser - USA
Procter & Gamble - USA
Johnson & Johnson – USA
Wal-Mart - USA
Hershey - USA
Kroger Co - USA
Shaw’s – USA
Safeway Inc – USA
Costco Wholesale Corporation – USA
Kroger Co – USA
Pepsi Co Inc. - USA
Krafts Food Inc. - USA
SYSCO - USA
Pizza Hut -USA
Mc Cain - USA
Burger King – USA
Mc Donalds – USA
US Foodservice – USA
Aramark – USA
Estée Lauder – USA
McKee Foods Corporation – USA
Kellogg's – USA
Starbuck – USA
Colgate Palmolive – USA
Safeway – USA
Shaw’s – USA
Albertson’s – USA
Ahold – USA
Sara Lee Corporation - USA
Unilever - Netherlands / United Kingdom
HJ Heinz – United Kingdom
Cadbury Schweppes – United Kingdom
Body Shop International – United Kingdom
Tesco - United Kingdom
Sainsbury's – United Kingdom
Boots – United Kingdom
Marks and Spencer – United Kingdom
Macphilips Foods – United Kingdom
Compas Group – United Kingdom
Associated British Foods – United Kingdom
Tate & Lyle – United Kingdom
Musgrave – United Kingdom
John Lewis Partnership – United Kingdom
Co-operative Group – United Kingdom
ASDA – United Kingdom
Britannia Food Ingredients – United Kingdom
United Biscuits – United Kingdom
Aarhus – United Kingdom
Northern Foods plc – United Kingdom
Burton’s Foods Ltd – United Kingdom
Croda – United Kingdom
Whitbread Group – United Kingdom
ICI – United Kingdom
ASDA – United Kingdom
Waitrose – United Kingdom
Morrisons – United Kingdom
Carrefour – France
Edouard Leclerc - France
Auchan – France
Pinault Printemps Redoute – France
Danone – France
Gillette – France
SAS Devineau – France
L’Oréal – France
Henkel - Germany
Cognis – Germany
Alfred C Toepfer International – Germany
Metro Group – Germany
Aldi Group – Germany
Schwarz Group – Germany
Rewe – Germany
Cognis – Germany
Cremer Oleo – Germany
Walter Rau – Germany
ALDI Group – Germany
Goodman Fielder – Australia
Gardner Smith – Australia
Coles Group – Australia
Australian Food – Australia
Woolworths Limited – Australia
Arnott's - Australia
Foodstuffs – New Zealand
Progressive Enterprises – New Zealand
Ahold NV - Nertherlands
CSM – Netherlands
Cefetra – Netherlands
Glencore Grain – Netherlands
Nidera – Netherlands
Akzo Nobel - Netherlands
Nestlé - Switzerland
Barry Callebaut – Switzerland
Glencore International – Switzerland
Lindt – Switzerland
Florin – Switzerland
Nutriswiss – Switzerland
Coop – Switzerland
Migros - Switzerland
DaiEi – Japan
Kao Corporation – Japan
Saraya Co Ltd – Japan
Fuji Oil Group – Japan
Mitsubishi Corporation – Japan
Myojo Foods – Japan
Rainbow Energy Corporation - Japan
Arthur Goethels – Belgium
Delhalze Group – Belgium
FEDIOL - Belgium
Danisco – Denmark
Dragsbaek – Denmark
Goteborts Kex – Sweden
Cloetta Fazer – Sweden
Mills DA – Norway
Orkla Group – Norway
Saetre Kjeks – Norway
Kantolan Keksi – Finland
Musgrave Budgens Longis - Ireland
Savola – Saudi Arabia
Thai President Foods - Thailand
THE COMPANIES INVESTING IN BIO DIESEL MADE FROM PALM OIL
Wilmar Group - Singapore
Continental BioEnergy – Singapore
Carotino Sdn Bhd - Malaysia
Zurex Corporation – Malaysia
SPC Biodiesel – Malaysia
DXN Oleochemicals - Malaysia
PT Vision Renewable fuels - Malaysia
Natural Fuel – Australia
PME Biofuels – Australia
Mission NewEnergy Limited – Australia
Sterling Bioduels - Australia
Biofuels Corporation – United Kingdom
Greenergy – United Kingdom
BP International – United Kingdom
D1 Oils –United Kingdom
EDF Energy – United Kingdom
WHEB Biofuels – United Kingdom
Cargill – USA
BioFuel Merchants (BFM) – USA
BioX Group – Netherlands
Costal Energy limited – India
ED&F Man Biofuels – France
BioDiesel Oils – New Zealand
Neste Oil – Finland
OKQ8 - Sweden
ECO Solutions Co – South Korea
Rainbow Energy Corporation – Japan
Biopetrol Industries - Switzerland
AND OUR PASSIVITY»
«DEFORESTATION OF INDONESIA IS MADE POSSIBLE BY:»(...)
THE COMPANIES BEHIND THE WOOD INDUSTRY
Sinar Mas Group – Indonesia
Salim Group – Indonesia
Barito Pacific Group – Indonesia
Bakrie & Brothers Group – Indonesia
Tanjung Lingga – Indonesia
Astra International - Indonesia
Djajanti Group – Indonesia
Kalimanis Group – Indonesia
Kayu Lapis Group – Indonesia
Korindo Group – Indonesia
Gudang Garam – Indonesia
Raja Garuda Mas Group – Indonesia
PT Uniseraya Group - Indonesia
PT Diamond Raya – Indonesia
Mitra Usaha Sejati Abadi (MUSA) – Indonesia
Surya Dumai – Indonesia
Sumalindo Lestari Jaya Group - Indonesia
PT Inhutani - Indonesia
Benua Indah Group – Indonesia
Lyman Group – Indonesia
Alas Kusuma Group - Indonesia
Sumber Mas Group Samarinda - Indonesia
Hasko Group – Indonesia
Central Cipta Murdaya Group – Indonesia
PT Tanjung Kreasi - Indonesia
Rimbunan Hijau – Malaysia
WTK Group – Malaysia
Samling Global Limited - Malaysia
Kerwara Limited – Malaysia
THE COMPANIES BEHIND PULP AND PAPER INDUSTRY
Sinar Mas Group- Indonesia
Asia Pulp and Paper (APP) – Indonesia
Indah Kiat – Indonesia
Kertas Nusantura - Indonesia
Kalimanis Group – Indonesia
Raja Garuda Mas – Indonesia
Kiani Kertas – Indonesia
Raja Garuda Mas International – Indonesia
Asia Pacific Ressources International Holdings (APRIL) – Indonesia
PT Inti Indorayon Utama – Indonesia
PT Riau Andalan Pulp and Paper - Indonesia
PT Tanjung Enim Lestari Pulp and Paper (TEL) - Indonesia
PT Musi Hutan Persada Pacific Timber – Indonesia
PT Arara Abadi – Indonesia
United Fiber System Limited (Unifiber) - Singapore
Jaakko Pöyry - Finland
THE COMPANIES BEHIND THE PALM OIL PRODUCTION
Sinar Mas Group - Indonesia
Astra Agro Lestari – Indonesia
Raja Garuda Mas International – Indonesia
Asian Agri – Indonesia
Salim Group - Indonesia
Inti Indosawit Subur - Indonesia
Musim Mas Group – Indonesia
Duta Palma – Indonesia
Inexco – Indonesia
Indofood Sukses Makmur – Indonesia
Makin Group – Indonesia
London Sumatra – Indonesia
Bakrie and Brothers – Indonesia
Anglo Eastern Plantations Plc – Indonesia
First Resources Limited – Indonesia
Agro Group – Indonesia
Austindo Nusantara Jaya – Indonesia
Surya Dumai Group - Indonesia
Sime Darby Group – Malaysia
IOI Group – Malaysia
JC Chang Group – Malaysia
Guthrie – Malaysia
Golden Hope – Malaysia
Kuala Lumpur Kepong – Malaysia
Asiatic Development – Malaysia
Boustead Holdings – Malaysia
United Plantations – Malaysia
IJM Plantations – Malaysia
Tradewinds Plantation – Malaysia
Golden Agri – Singapore
CTP Holdings Pte Ltd – Singapore
Wilmar / Kuok / ADM - USA
Cargill - USA
MP Evans Group – United Kingdom
Socfindo – Belgium
THE BANKS AND FINANCIAL INSTITUTIONS SUPPORTING IN THE ABOVE INDUSTRIES
World Bank
International Monetary Fund (IMF)
International Finance Corporation (IFC)
World Trade Organization (WTO)
Asian Development Bank (ADB)
World Resources Institute (WRI)
COFACE – France
Export Credits Guarentee Department (ECGD) – United Kingdom
Export Import Bank (EX-IM) – USA
Overseas Economic Cooperation Fund – Japan
Finnvera - Finland
Export Development Canada - Canada
Export Credit Guarantee Board – Sweden
CellMark - Sweden
Gerling-NCM - Germany
National Machinery Equipment Import Export Corporation (CMEC) – China
China Export & Credit Insurance Corporation - China
Sinar Mas Bank – Indonesia
ABN Amro Bank – Indonesia
Bank Central Asia - Indonesia
Bank Mandiri – Indonesia
Babobank Duta - Indonesia
Bank DBS – Indonesia
Bank Panin – Indonesia
Bank Resona Perdania – Indonesia
Danareksa Securities – Indonesia
OCBC Bank – Singapore
DBS Bank – Singapore
AFC Merchant Bank - Singapore
CIBM Group – Malaysia
Malayan Banking - Malaysia
SOCFIN – Belgium
Sipet – Belgium
Bank Brussels Lambert – Belgium
Raifeisen Zentralbank Österreich AG – Austria
Andritz – Austria
Rabobank – Netherlands
ING Bank- Netherlands
Fortis Bank – Netherlands
German Development Bank (DEG) – Germany
Deutsche Bank – Germany
Commerzbank – Germany
HSH Nordbank AG – Germany
HSBC – United Kingdom
Legal & General – United Kingdom
Barclays – United Kingdom
Standard Chartered Bank - United Kingdom
Royal Bank of Scotland – United Kingdom
Edinburgh Java Trust – United Kingdom
Collins Stewart – United Kingdom
Loyds Bank – United Kingdom
Numis Corporation – United Kingdom
Astra Zeneca – Sweden / United Kingdom
UBS – Switzerland
Credit Suisse – Switzerland
Goldman Sachs - Switzerland
Bank of Tokyo-Mitsubishi (UFJ) – Japan
Mizuho Bank - Japan
Vivendi Water – France
Natixis – France
BNP Paribas - France
Credit Agricole – France
AXA – France
Société Générale – France
Citibank – USA
Cornell Capital Partners – USA
Merrill Lynch – USA
Morgan Stanley – USA
JP Morgan Chase – USA
Lehman Brothers – USA
Amroc – USA
Blackrock – USA
THE COMPANIES TRADING OR BUYING WOOD PRODUCTS FROM INDONESIA
CSH Industrial Group - Singapore
Aeonic International Trade - Singapore
Wajilam Exports – Singapore
Jason Parquet - Singapore
Neeshai Trading – Singapore
Nature Wood - SIngapore
Chippel Overseas Supplies – Singapore
Tong Hin Timber Group - Singapore
Sitra Holdings – Singapore
Chiang Leng Hup Plywood - Singapore
Pargan - Singapore
Sunlight Mercantile – Singapore
Sunrise Doors International - Singapore
Wason Industries – Singapore
Dowlet Trading Enterprises – Singapore
Pan Majestic Holdings – Malaysia
Acmeco Ventures – Malaysia
Flooring Box - Malaysia
Hok Lai Timber - Malaysia
Kim Teck Lee Timber Flooring – Malaysia
McCorry Group - Malaysia
Sumec International Technology Trade – China
Jiangsu Kuaile Wood Industry Group – China
Xiamen Xinda Import Export Trading Company – China
Sino Forest Corporation – China
Celandine Co. – China
Montague Meyer – United Kingdom
Wolseley Group – United Kingdom
Homebase – United Kingdom
Habitat – United Kingdom
International Plywood – United Kingdom
Premier Forest Products – United Kingdom
Kingfisher Group (B&Q, Castorama, Brico Dépôts, Hornbach) – United Kingdom
John Lewis – United Kingdom
Travis Perkins - United Kingdom
Kiani – United Kingdom
Wolseley Group – United Kingdom
Maison du Monde – United Kingdom
Jewson – United Kingdom
Allied Carpets – United Kingdom
Caledonian Plywood - United Kingdom
Cipta - United Kingdom
Wood International Agency - United Kingdom
Armstrong World Industries - USA
Lowe’s - USA
Koch Industries Inc. - USA
Chesapeake Hardwoods – USA
Plywood Tropics – USA
Geogia Pacific – USA
Taraca Pacific – USA
North Pacific Lumber – USA`
Far East American – USA
IHLO sales & Imports - USA
The Home Depot – USA
Les Mousquetaires (Bricomarché) - France
Leroy Merlin – France
Saint Gobain Group (Point P / Lapeyre / Jewson / Raab Karcher / Dahl) - France
Maison Coloniale - France
Pier Import - France
Pont Meyer – Netherlands
Hoek Lopik – Netherlands
Oldeboom – Netherlands
Tarkett - Germany
Possling – Germany
Roggemenn – Germany
Daiken – Japan
Seihuko – Japan
Nippindo – Japan
Kahrs - Sweden
IKEA – Sweden
DLH Group – Denmark
Junckers – Denmark
Finnforest - Finland
FEPCO – Belgium
Glencore International – Switzerland
Goodfellow – Canada
THE COMPANIES TRADING PULP AND PAPER FROM INDONESIA
United Fiber System Limited (Unifiber) – Singapore
PaperlinX Asia - Singapore
International Paper Company – USA
Weyerhaeuser Company – USA
Kimberly-Clark - USA
MeadWestvaco Corporation - USA
Procter & Gamble - USA
Koch Industries - USA
OJI Paper – Japan
Nippon Paper Group - Japan
Sumitomo Forestry Co - Japan
Marubeni Corporation - Japan
Itochu -Japan
Marubeni – Japan
Sojitz – Japan
Stora Enso Oyj - Finland
UPM-Kymmene Corporation - Finland
Metsälliitto - Finland
Cellmark – Sweden
Bomo-Cypap Pulp and Paper– Cyprus
THE COMPANIES TRADING OR BUYING PALM OIL FROM INDONESIA
Sinar Mas Group – Indonesia
Permata Hijau Sawit – Indonesia
Golden Agri – Indonesia
Indofood Sukses Makmur – Indonesia
Arnott Indonesia – Indonesia
Wilmar Group – Singapore
Charleston Holdings (Tropical Oil Products) - Singapore
Pacific Rim Plantations Services – Singapore
Olam International - Singapore
Intercontinental Oils and Fats – Singapore
Lam Soon - Singapore
Kuok Group – Malaysia
Sime Darby – Malaysia
Giant – Malaysia
Mitsui & Co – Malaysia
Yee Lee Corporation – Malaysia
Intercontinental Specialty Fats - Malaysia
SSD Oils Mills Co – India
Nirma – India
Hindustan Lever – India
Godrej Industries – India
China Grains & Oils Group Corporation – China
China National Vegetable Oil Corporation – China
Beijing Orient-Huaken Cereal & Oil – China
Beijing Heyirong Cereals & Oils – China
Cargill - USA
Bunge – USA
Archer Daniels Midland (ADM) - USA
Kentuky Fried Chicken (KFC) - USA
Kraft - USA
ConAgra Trade Group Inc. – USA
Reckitt Benckiser - USA
Procter & Gamble - USA
Johnson & Johnson – USA
Wal-Mart - USA
Hershey - USA
Kroger Co - USA
Shaw’s – USA
Safeway Inc – USA
Costco Wholesale Corporation – USA
Kroger Co – USA
Pepsi Co Inc. - USA
Krafts Food Inc. - USA
SYSCO - USA
Pizza Hut -USA
Mc Cain - USA
Burger King – USA
Mc Donalds – USA
US Foodservice – USA
Aramark – USA
Estée Lauder – USA
McKee Foods Corporation – USA
Kellogg's – USA
Starbuck – USA
Colgate Palmolive – USA
Safeway – USA
Shaw’s – USA
Albertson’s – USA
Ahold – USA
Sara Lee Corporation - USA
Unilever - Netherlands / United Kingdom
HJ Heinz – United Kingdom
Cadbury Schweppes – United Kingdom
Body Shop International – United Kingdom
Tesco - United Kingdom
Sainsbury's – United Kingdom
Boots – United Kingdom
Marks and Spencer – United Kingdom
Macphilips Foods – United Kingdom
Compas Group – United Kingdom
Associated British Foods – United Kingdom
Tate & Lyle – United Kingdom
Musgrave – United Kingdom
John Lewis Partnership – United Kingdom
Co-operative Group – United Kingdom
ASDA – United Kingdom
Britannia Food Ingredients – United Kingdom
United Biscuits – United Kingdom
Aarhus – United Kingdom
Northern Foods plc – United Kingdom
Burton’s Foods Ltd – United Kingdom
Croda – United Kingdom
Whitbread Group – United Kingdom
ICI – United Kingdom
ASDA – United Kingdom
Waitrose – United Kingdom
Morrisons – United Kingdom
Carrefour – France
Edouard Leclerc - France
Auchan – France
Pinault Printemps Redoute – France
Danone – France
Gillette – France
SAS Devineau – France
L’Oréal – France
Henkel - Germany
Cognis – Germany
Alfred C Toepfer International – Germany
Metro Group – Germany
Aldi Group – Germany
Schwarz Group – Germany
Rewe – Germany
Cognis – Germany
Cremer Oleo – Germany
Walter Rau – Germany
ALDI Group – Germany
Goodman Fielder – Australia
Gardner Smith – Australia
Coles Group – Australia
Australian Food – Australia
Woolworths Limited – Australia
Arnott's - Australia
Foodstuffs – New Zealand
Progressive Enterprises – New Zealand
Ahold NV - Nertherlands
CSM – Netherlands
Cefetra – Netherlands
Glencore Grain – Netherlands
Nidera – Netherlands
Akzo Nobel - Netherlands
Nestlé - Switzerland
Barry Callebaut – Switzerland
Glencore International – Switzerland
Lindt – Switzerland
Florin – Switzerland
Nutriswiss – Switzerland
Coop – Switzerland
Migros - Switzerland
DaiEi – Japan
Kao Corporation – Japan
Saraya Co Ltd – Japan
Fuji Oil Group – Japan
Mitsubishi Corporation – Japan
Myojo Foods – Japan
Rainbow Energy Corporation - Japan
Arthur Goethels – Belgium
Delhalze Group – Belgium
FEDIOL - Belgium
Danisco – Denmark
Dragsbaek – Denmark
Goteborts Kex – Sweden
Cloetta Fazer – Sweden
Mills DA – Norway
Orkla Group – Norway
Saetre Kjeks – Norway
Kantolan Keksi – Finland
Musgrave Budgens Longis - Ireland
Savola – Saudi Arabia
Thai President Foods - Thailand
THE COMPANIES INVESTING IN BIO DIESEL MADE FROM PALM OIL
Wilmar Group - Singapore
Continental BioEnergy – Singapore
Carotino Sdn Bhd - Malaysia
Zurex Corporation – Malaysia
SPC Biodiesel – Malaysia
DXN Oleochemicals - Malaysia
PT Vision Renewable fuels - Malaysia
Natural Fuel – Australia
PME Biofuels – Australia
Mission NewEnergy Limited – Australia
Sterling Bioduels - Australia
Biofuels Corporation – United Kingdom
Greenergy – United Kingdom
BP International – United Kingdom
D1 Oils –United Kingdom
EDF Energy – United Kingdom
WHEB Biofuels – United Kingdom
Cargill – USA
BioFuel Merchants (BFM) – USA
BioX Group – Netherlands
Costal Energy limited – India
ED&F Man Biofuels – France
BioDiesel Oils – New Zealand
Neste Oil – Finland
OKQ8 - Sweden
ECO Solutions Co – South Korea
Rainbow Energy Corporation – Japan
Biopetrol Industries - Switzerland
AND OUR PASSIVITY»
domingo, 1 de maio de 2011
BOM 1º DE MAIO
A história do 1º de Maio: «No dia 1 de Maio de 1886, o operariado norte-americano ergueu um poderoso conjunto de greves e de grandes acções de massas, reivindicando direitos laborais e, entre eles, as oito horas diárias de trabalho.
Em Chicago, no dia 4 de Maio desse ano, no decorrer de um comício sindical, a polícia montou uma provocação, fazendo explodir uma bomba que matou um polícia, assim criando o pretexto para a brutal vaga repressiva que se seguiu: dezenas de mortos, centenas de feridos, centenas de trabalhadores presos, designadamente dirigentes operários, oito dos quais foram submetidos a um julgamento que se revelaria como a continuação da provocação montada no dia 4: um juiz, um júri e testemunhas todos escolhidos a dedo...
E, como a provocação previamente determinara, os acusados foram condenados a penas cruéis, tendo quatro deles - Adolph Fischer, Albert Parsons, August Spies e George Engel - sido enforcados em 11 de Novembro do ano seguinte.
(...) A repercussão destes acontecimentos - que constituíram um novo estádio na luta dos trabalhadores contra a exploração capitalista - fez-se sentir em todo o mundo.
E três anos depois, o Congresso Operário Internacional de Paris, em homenagem aos "Mártires de Chicago", aprovou uma resolução que fixava o dia 1º de Maio como Dia Internacional do Trabalhador.
(...) Desde então, todos os anos, no 1º de Maio, por todo o mundo, milhões de trabalhadores saem às ruas em memoráveis jornadas de confraternização, de luta e de exigência reivindicativa aos governos e ao patronato, exigência que comporta, sempre, a redução do horário de trabalho - sendo certo que em alguns países, as oito horas diárias são, ainda hoje, a reivindicação primeira dessas manifestações.
E tal é o significado do 1º de Maio, enquanto sinónimo de liberdade na luta pelos direitos e interesses dos trabalhadores, que só nos países onde a opressão domina ele não é comemorado livremente».
Em Chicago, no dia 4 de Maio desse ano, no decorrer de um comício sindical, a polícia montou uma provocação, fazendo explodir uma bomba que matou um polícia, assim criando o pretexto para a brutal vaga repressiva que se seguiu: dezenas de mortos, centenas de feridos, centenas de trabalhadores presos, designadamente dirigentes operários, oito dos quais foram submetidos a um julgamento que se revelaria como a continuação da provocação montada no dia 4: um juiz, um júri e testemunhas todos escolhidos a dedo...
E, como a provocação previamente determinara, os acusados foram condenados a penas cruéis, tendo quatro deles - Adolph Fischer, Albert Parsons, August Spies e George Engel - sido enforcados em 11 de Novembro do ano seguinte.
(...) A repercussão destes acontecimentos - que constituíram um novo estádio na luta dos trabalhadores contra a exploração capitalista - fez-se sentir em todo o mundo.
E três anos depois, o Congresso Operário Internacional de Paris, em homenagem aos "Mártires de Chicago", aprovou uma resolução que fixava o dia 1º de Maio como Dia Internacional do Trabalhador.
(...) Desde então, todos os anos, no 1º de Maio, por todo o mundo, milhões de trabalhadores saem às ruas em memoráveis jornadas de confraternização, de luta e de exigência reivindicativa aos governos e ao patronato, exigência que comporta, sempre, a redução do horário de trabalho - sendo certo que em alguns países, as oito horas diárias são, ainda hoje, a reivindicação primeira dessas manifestações.
E tal é o significado do 1º de Maio, enquanto sinónimo de liberdade na luta pelos direitos e interesses dos trabalhadores, que só nos países onde a opressão domina ele não é comemorado livremente».
domingo, 24 de abril de 2011
AS PORTAS QUE ABRIL ABRIU
Um poema que conta uma parte da história de Portugal.
As Portas que Abril Abriu
José Carlos Ary dos Santos
Era uma vez um país
onde entre o mar e a guerra
vivia o mais infeliz
dos povos à beira-terra.
Onde entre vinhas sobredos
vales socalcos searas
serras atalhos veredas
lezírias e praias claras
um povo se debruçava
como um vime de tristeza
sobre um rio onde mirava
a sua própria pobreza.
Era uma vez um país
onde o pão era contado
onde quem tinha a raiz
tinha o fruto arrecadado
onde quem tinha o dinheiro
tinha o operário algemado
onde suava o ceifeiro
que dormia com o gado
onde tossia o mineiro
em Aljustrel ajustado
onde morria primeiro
quem nascia desgraçado.
Era uma vez um país
de tal maneira explorado
pelos consórcios fabris
pelo mando acumulado
pelas ideias nazis
pelo dinheiro estragado
pelo dobrar da cerviz
pelo trabalho amarrado
que até hoje já se diz
que nos tempos do passado
se chamava esse país
Portugal suicidado.
Ali nas vinhas sobredos
vales socalcos searas
serras atalhos veredas
lezírias e praias claras
vivia um povo tão pobre
que partia para a guerra
para encher quem estava podre
de comer a sua terra.
Um povo que era levado
para Angola nos porões
um povo que era tratado
como a arma dos patrões
um povo que era obrigado
a matar por suas mãos
sem saber que um bom soldado
nunca fere os seus irmãos.
Ora passou-se porém
que dentro de um povo escravo
alguém que lhe queria bem
um dia plantou um cravo.
Era a semente da esperança
feita de força e vontade
era ainda uma criança
mas já era a liberdade.
Era já uma promessa
era a força da razão
do coração à cabeça
da cabeça ao coração.
Quem o fez era soldado
homem novo capitão
mas também tinha a seu lado
muitos homens na prisão.
Esses que tinham lutado
a defender um irmão
esses que tinham passado
o horror da solidão
esses que tinham jurado
sobre uma côdea de pão
ver o povo libertado
do terror da opressão.
Não tinham armas é certo
mas tinham toda a razão
quando um homem morre perto
tem de haver distanciação
uma pistola guardada
nas dobras da sua opção
uma bala disparada
contra a sua própria mão
e uma força perseguida
que na escolha do mais forte
faz com que a força da vida
seja maior do que a morte.
Quem o fez era soldado
homem novo capitão
mas também tinha a seu lado
muitos homens na prisão.
Posta a semente do cravo
começou a floração
do capitão ao soldado
do soldado ao capitão.
Foi então que o povo armado
percebeu qual a razão
porque o povo despojado
lhe punha as armas na mão.
Pois também ele humilhado
em sua própria grandeza
era soldado forçado
contra a pátria portuguesa.
Era preso e exilado
e no seu próprio país
muitas vezes estrangulado
pelos generais senis.
Capitão que não comanda
não pode ficar calado
é o povo que lhe manda
ser capitão revoltado
é o povo que lhe diz
que não ceda e não hesite
– pode nascer um país
do ventre duma chaimite.
Porque a força bem empregue
contra a posição contrária
nunca oprime nem persegue
– é força revolucionária!
Foi então que Abril abriu
as portas da claridade
e a nossa gente invadiu
a sua própria cidade.
Disse a primeira palavra
na madrugada serena
um poeta que cantava
o povo é quem mais ordena.
E então por vinhas sobredos
vales socalcos searas
serras atalhos veredas
lezírias e praias claras
desceram homens sem medo
marujos soldados «páras»
que não queriam o degredo
dum povo que se separa.
E chegaram à cidade
onde os monstros se acoitavam
era a hora da verdade
para as hienas que mandavam
a hora da claridade
para os sóis que despontavam
e a hora da vontade
para os homens que lutavam.
Em idas vindas esperas
encontros esquinas e praças
não se pouparam as feras
arrancaram-se as mordaças
e o povo saiu à rua
com sete pedras na mão
e uma pedra de lua
no lugar do coração.
Dizia soldado amigo
meu camarada e irmão
este povo está contigo
nascemos do mesmo chão
trazemos a mesma chama
temos a mesma ração
dormimos na mesma cama
comendo do mesmo pão.
Camarada e meu amigo
soldadinho ou capitão
este povo está contigo
a malta dá-te razão.
Foi esta força sem tiros
de antes quebrar que torcer
esta ausência de suspiros
esta fúria de viver
este mar de vozes livres
sempre a crescer a crescer
que das espingardas fez livros
para aprendermos a ler
que dos canhões fez enxadas
para lavrarmos a terra
e das balas disparadas
apenas o fim da guerra.
Foi esta força viril
de antes quebrar que torcer
que em vinte e cinco de Abril f
ez Portugal renascer.
E em Lisboa capital
dos novos mestres de Aviz
o povo de Portugal
deu o poder a quem quis.
Mesmo que tenha passado
às vezes por mãos estranhas
o poder que ali foi dado
saiu das nossas entranhas.
Saiu das vinhas sobredos
vales socalcos searas
serras atalhos veredas
lezírias e praias claras
onde um povo se curvava
como um vime de tristeza
sobre um rio onde mirava
a sua própria pobreza.
E se esse poder um dia
o quiser roubar alguém
não fica na burguesia
volta à barriga da mãe.
Volta à barriga da terra
que em boa hora o pariu
agora ninguém mais cerra
as portas que Abril abriu.
Essas portas que em Caxias
se escancararam de vez
essas janelas vazias
que se encheram outra vez
e essas celas tão frias
tão cheias de sordidez
que espreitavam como espias
todo o povo português.
Agora que já floriu
a esperança na nossa terra
as portas que Abril abriu
nunca mais ninguém as cerra.
Contra tudo o que era velho
levantado como um punho
em Maio surgiu vermelho
o cravo do mês de Junho.
Quando o povo desfilou
nas ruas em procissão
de novo se processou
a própria revolução.
Mas eram olhos as balas
abraços punhais e lanças
enamoradas as alas
dos soldados e crianças.
E o grito que foi ouvido
tantas vezes repetido
dizia que o povo unido
jamais seria vencido.
Contra tudo o que era velho
levantado como um punho
em Maio surgiu vermelho
o cravo do mês de Junho.
E então operários mineiros
pescadores e ganhões
marçanos e carpinteiros
empregados dos balcões
mulheres a dias pedreiros
reformados sem pensões
dactilógrafos carteiros
e outras muitas profissões
souberam que o seu dinheiro
era presa dos patrões.
A seu lado também estavam
jornalistas que escreviam
actores que se desdobravam
cientistas que aprendiam
poetas que estrebuchavam
cantores que não se vendiam
mas enquanto estes lutavam
é certo que não sentiam
a fome com que apertavam
os cintos dos que os ouviam.
Porém cantar é ternura
escrever constrói liberdade
e não há coisa mais pura
do que dizer a verdade.
E uns e outros irmanados
na mesma luta de ideais
ambos sectores explorados
ficaram partes iguais.
Entanto não descansavam
entre pragas e perjúrios
agulhas que se espetavam
silêncios boatos murmúrios
risinhos que se calavam
palácios contra tugúrios
fortunas que levantavam
promessas de maus augúrios
os que em vida se enterravam
por serem falsos e espúrios
maiorais da minoria
que diziam silenciosa
e que em silêncio fazia
a coisa mais horrorosa:
minar como um sinapismo
e com ordenados régios
o alvor do socialismo
e o fim dos privilégios.
Foi então se bem vos lembro
que sucedeu a vindima
quando pisámos Setembro
a verdade veio acima.
E foi um mosto tão forte
que sabia tanto a Abril
que nem o medo da morte
nos fez voltar ao redil.
Ali ficámos de pé
juntos soldados e povo
para mostrarmos como é
que se faz um país novo.
Ali dissemos não passa!
E a reacção não passou.
Quem já viveu a desgraça
odeia a quem desgraçou.
Foi a força do Outono
mais forte que a Primavera
que trouxe os homens sem dono
de que o povo estava à espera.
Foi a força dos mineiros
pescadores e ganhões
operários e carpinteiros
empregados dos balcões
mulheres a dias pedreiros
reformados sem pensões
dactilógrafos carteiros
e outras muitas profissões
que deu o poder cimeiro
a quem não queria patrões.
Desde esse dia em que todos
nós repartimos o pão
é que acabaram os bodos
— cumpriu-se a revolução.
Porém em quintas vivendas
palácios e palacetes
os generais com prebendas
caciques e cacetetes
os que montavam cavalos
para caçarem veados
os que davam dois estalos
na cara dos empregados
os que tinham bons amigos
no consórcio dos sabões
e coçavam os umbigos
como quem coça os galões
os generais subalternos
que aceitavam os patrões
os generais inimigos
os generais garanhões
teciam teias de aranha
e eram mais camaleões
que a lombriga que se amanha
com os próprios cagalhões.
Com generais desta apanha
já não há revoluções.
Por isso o onze de Março
foi um baile de Tartufos
uma alternância de terços
entre ricaços e bufos.
E tivemos de pagar
com o sangue de um soldado
o preço de já não estar
Portugal suicidado.
Fugiram como cobardes
e para terras de Espanha
os que faziam alardes
dos combates em campanha.
E aqui ficaram de pé
capitães de pedra e cal
os homens que na Guiné
aprenderam Portugal.
Os tais homens que sentiram
que um animal racional
opõe àqueles que o firam
consciência nacional.
Os tais homens que souberam
fazer a revolução
porque na guerra entenderam
o que era a libertação.
Os que viram claramente
e com os cinco sentidos
morrer tanta tanta gente
que todos ficaram vivos.
Os tais homens feitos de aço
temperado com a tristeza
que envolveram num abraço
toda a história portuguesa.
Essa história tão bonita
e depois tão maltratada
por quem herdou a desdita
da história colonizada.
Dai ao povo o que é do povo
pois o mar não tem patrões.
– Não havia estado novo
nos poemas de Camões!
Havia sim a lonjura
e uma vela desfraldada
para levar a ternura
à distância imaginada.
Foi este lado da história
que os capitães descobriram
que ficará na memória
das naus que de Abril partiram
das naves que transportaram
o nosso abraço profundo
aos povos que agora deram
novos países ao mundo.
Por saberem como é
ficaram de pedra e cal
capitães que na Guiné
descobriram Portugal.
E em sua pátria fizeram
o que deviam fazer:
ao seu povo devolveram
o que o povo tinha a haver:
Bancos seguros petróleos
que ficarão a render
ao invés dos monopólios
para o trabalho crescer.
Guindastes portos navios
e outras coisas para erguer
antenas centrais e fios
dum país que vai nascer.
Mesmo que seja com frio
é preciso é aquecer
pensar que somos um rio
que vai dar onde quiser
pensar que somos um mar
que nunca mais tem fronteiras
e havemos de navegar
de muitíssimas maneiras.
No Minho com pés de linho
no Alentejo com pão
no Ribatejo com vinho
na Beira com requeijão
e trocando agora as voltas
ao vira da produção
no Alentejo bolotas
no Algarve maçapão
vindimas no Alto Douro
tomates em Azeitão
azeite da cor do ouro
que é verde ao pé do Fundão
e fica amarelo puro
nos campos do Baleizão.
Quando a terra for do povo
o povo deita-lhe a mão!
É isto a reforma agrária
em sua própria expressão:
a maneira mais primária
de que nós temos um quinhão
da semente proletária
da nossa revolução.
Quem a fez era soldado
homem novo capitão
mas também tinha a seu lado
muitos homens na prisão.
De tudo o que Abril abriu
ainda pouco se disse
um menino que sorriu
uma porta que se abrisse
um fruto que se expandiu
um pão que se repartisse
um capitão que seguiu
o que a história lhe predisse
e entre vinhas sobredos
vales socalcos searas
serras atalhos veredas
lezírias e praias claras
um povo que levantava
sobre um rio de pobreza
a bandeira em que ondulava
a sua própria grandeza!
De tudo o que Abril abriu
ainda pouco se disse
e só nos faltava agora
que este Abril não se cumprisse.
Só nos faltava que os cães
viessem ferrar o dente
na carne dos capitães
que se arriscaram na frente.
Na frente de todos nós
povo soberano e total
que ao mesmo tempo é a voz
e o braço de Portugal.
Ouvi banqueiros fascistas
agiotas do lazer
latifundiários machistas
balofos verbos de encher
e outras coisas em istas
que não cabe dizer aqui
que aos capitães progressistas
o povo deu o poder!
E se esse poder um dia
o quiser roubar alguém
não fica na burguesia
volta à barriga da mãe!
Volta à barriga da terra
que em boa hora o pariu
agora ninguém mais cerra
as portas que Abril abriu!
As Portas que Abril Abriu
José Carlos Ary dos Santos
Era uma vez um país
onde entre o mar e a guerra
vivia o mais infeliz
dos povos à beira-terra.
Onde entre vinhas sobredos
vales socalcos searas
serras atalhos veredas
lezírias e praias claras
um povo se debruçava
como um vime de tristeza
sobre um rio onde mirava
a sua própria pobreza.
Era uma vez um país
onde o pão era contado
onde quem tinha a raiz
tinha o fruto arrecadado
onde quem tinha o dinheiro
tinha o operário algemado
onde suava o ceifeiro
que dormia com o gado
onde tossia o mineiro
em Aljustrel ajustado
onde morria primeiro
quem nascia desgraçado.
Era uma vez um país
de tal maneira explorado
pelos consórcios fabris
pelo mando acumulado
pelas ideias nazis
pelo dinheiro estragado
pelo dobrar da cerviz
pelo trabalho amarrado
que até hoje já se diz
que nos tempos do passado
se chamava esse país
Portugal suicidado.
Ali nas vinhas sobredos
vales socalcos searas
serras atalhos veredas
lezírias e praias claras
vivia um povo tão pobre
que partia para a guerra
para encher quem estava podre
de comer a sua terra.
Um povo que era levado
para Angola nos porões
um povo que era tratado
como a arma dos patrões
um povo que era obrigado
a matar por suas mãos
sem saber que um bom soldado
nunca fere os seus irmãos.
Ora passou-se porém
que dentro de um povo escravo
alguém que lhe queria bem
um dia plantou um cravo.
Era a semente da esperança
feita de força e vontade
era ainda uma criança
mas já era a liberdade.
Era já uma promessa
era a força da razão
do coração à cabeça
da cabeça ao coração.
Quem o fez era soldado
homem novo capitão
mas também tinha a seu lado
muitos homens na prisão.
Esses que tinham lutado
a defender um irmão
esses que tinham passado
o horror da solidão
esses que tinham jurado
sobre uma côdea de pão
ver o povo libertado
do terror da opressão.
Não tinham armas é certo
mas tinham toda a razão
quando um homem morre perto
tem de haver distanciação
uma pistola guardada
nas dobras da sua opção
uma bala disparada
contra a sua própria mão
e uma força perseguida
que na escolha do mais forte
faz com que a força da vida
seja maior do que a morte.
Quem o fez era soldado
homem novo capitão
mas também tinha a seu lado
muitos homens na prisão.
Posta a semente do cravo
começou a floração
do capitão ao soldado
do soldado ao capitão.
Foi então que o povo armado
percebeu qual a razão
porque o povo despojado
lhe punha as armas na mão.
Pois também ele humilhado
em sua própria grandeza
era soldado forçado
contra a pátria portuguesa.
Era preso e exilado
e no seu próprio país
muitas vezes estrangulado
pelos generais senis.
Capitão que não comanda
não pode ficar calado
é o povo que lhe manda
ser capitão revoltado
é o povo que lhe diz
que não ceda e não hesite
– pode nascer um país
do ventre duma chaimite.
Porque a força bem empregue
contra a posição contrária
nunca oprime nem persegue
– é força revolucionária!
Foi então que Abril abriu
as portas da claridade
e a nossa gente invadiu
a sua própria cidade.
Disse a primeira palavra
na madrugada serena
um poeta que cantava
o povo é quem mais ordena.
E então por vinhas sobredos
vales socalcos searas
serras atalhos veredas
lezírias e praias claras
desceram homens sem medo
marujos soldados «páras»
que não queriam o degredo
dum povo que se separa.
E chegaram à cidade
onde os monstros se acoitavam
era a hora da verdade
para as hienas que mandavam
a hora da claridade
para os sóis que despontavam
e a hora da vontade
para os homens que lutavam.
Em idas vindas esperas
encontros esquinas e praças
não se pouparam as feras
arrancaram-se as mordaças
e o povo saiu à rua
com sete pedras na mão
e uma pedra de lua
no lugar do coração.
Dizia soldado amigo
meu camarada e irmão
este povo está contigo
nascemos do mesmo chão
trazemos a mesma chama
temos a mesma ração
dormimos na mesma cama
comendo do mesmo pão.
Camarada e meu amigo
soldadinho ou capitão
este povo está contigo
a malta dá-te razão.
Foi esta força sem tiros
de antes quebrar que torcer
esta ausência de suspiros
esta fúria de viver
este mar de vozes livres
sempre a crescer a crescer
que das espingardas fez livros
para aprendermos a ler
que dos canhões fez enxadas
para lavrarmos a terra
e das balas disparadas
apenas o fim da guerra.
Foi esta força viril
de antes quebrar que torcer
que em vinte e cinco de Abril f
ez Portugal renascer.
E em Lisboa capital
dos novos mestres de Aviz
o povo de Portugal
deu o poder a quem quis.
Mesmo que tenha passado
às vezes por mãos estranhas
o poder que ali foi dado
saiu das nossas entranhas.
Saiu das vinhas sobredos
vales socalcos searas
serras atalhos veredas
lezírias e praias claras
onde um povo se curvava
como um vime de tristeza
sobre um rio onde mirava
a sua própria pobreza.
E se esse poder um dia
o quiser roubar alguém
não fica na burguesia
volta à barriga da mãe.
Volta à barriga da terra
que em boa hora o pariu
agora ninguém mais cerra
as portas que Abril abriu.
Essas portas que em Caxias
se escancararam de vez
essas janelas vazias
que se encheram outra vez
e essas celas tão frias
tão cheias de sordidez
que espreitavam como espias
todo o povo português.
Agora que já floriu
a esperança na nossa terra
as portas que Abril abriu
nunca mais ninguém as cerra.
Contra tudo o que era velho
levantado como um punho
em Maio surgiu vermelho
o cravo do mês de Junho.
Quando o povo desfilou
nas ruas em procissão
de novo se processou
a própria revolução.
Mas eram olhos as balas
abraços punhais e lanças
enamoradas as alas
dos soldados e crianças.
E o grito que foi ouvido
tantas vezes repetido
dizia que o povo unido
jamais seria vencido.
Contra tudo o que era velho
levantado como um punho
em Maio surgiu vermelho
o cravo do mês de Junho.
E então operários mineiros
pescadores e ganhões
marçanos e carpinteiros
empregados dos balcões
mulheres a dias pedreiros
reformados sem pensões
dactilógrafos carteiros
e outras muitas profissões
souberam que o seu dinheiro
era presa dos patrões.
A seu lado também estavam
jornalistas que escreviam
actores que se desdobravam
cientistas que aprendiam
poetas que estrebuchavam
cantores que não se vendiam
mas enquanto estes lutavam
é certo que não sentiam
a fome com que apertavam
os cintos dos que os ouviam.
Porém cantar é ternura
escrever constrói liberdade
e não há coisa mais pura
do que dizer a verdade.
E uns e outros irmanados
na mesma luta de ideais
ambos sectores explorados
ficaram partes iguais.
Entanto não descansavam
entre pragas e perjúrios
agulhas que se espetavam
silêncios boatos murmúrios
risinhos que se calavam
palácios contra tugúrios
fortunas que levantavam
promessas de maus augúrios
os que em vida se enterravam
por serem falsos e espúrios
maiorais da minoria
que diziam silenciosa
e que em silêncio fazia
a coisa mais horrorosa:
minar como um sinapismo
e com ordenados régios
o alvor do socialismo
e o fim dos privilégios.
Foi então se bem vos lembro
que sucedeu a vindima
quando pisámos Setembro
a verdade veio acima.
E foi um mosto tão forte
que sabia tanto a Abril
que nem o medo da morte
nos fez voltar ao redil.
Ali ficámos de pé
juntos soldados e povo
para mostrarmos como é
que se faz um país novo.
Ali dissemos não passa!
E a reacção não passou.
Quem já viveu a desgraça
odeia a quem desgraçou.
Foi a força do Outono
mais forte que a Primavera
que trouxe os homens sem dono
de que o povo estava à espera.
Foi a força dos mineiros
pescadores e ganhões
operários e carpinteiros
empregados dos balcões
mulheres a dias pedreiros
reformados sem pensões
dactilógrafos carteiros
e outras muitas profissões
que deu o poder cimeiro
a quem não queria patrões.
Desde esse dia em que todos
nós repartimos o pão
é que acabaram os bodos
— cumpriu-se a revolução.
Porém em quintas vivendas
palácios e palacetes
os generais com prebendas
caciques e cacetetes
os que montavam cavalos
para caçarem veados
os que davam dois estalos
na cara dos empregados
os que tinham bons amigos
no consórcio dos sabões
e coçavam os umbigos
como quem coça os galões
os generais subalternos
que aceitavam os patrões
os generais inimigos
os generais garanhões
teciam teias de aranha
e eram mais camaleões
que a lombriga que se amanha
com os próprios cagalhões.
Com generais desta apanha
já não há revoluções.
Por isso o onze de Março
foi um baile de Tartufos
uma alternância de terços
entre ricaços e bufos.
E tivemos de pagar
com o sangue de um soldado
o preço de já não estar
Portugal suicidado.
Fugiram como cobardes
e para terras de Espanha
os que faziam alardes
dos combates em campanha.
E aqui ficaram de pé
capitães de pedra e cal
os homens que na Guiné
aprenderam Portugal.
Os tais homens que sentiram
que um animal racional
opõe àqueles que o firam
consciência nacional.
Os tais homens que souberam
fazer a revolução
porque na guerra entenderam
o que era a libertação.
Os que viram claramente
e com os cinco sentidos
morrer tanta tanta gente
que todos ficaram vivos.
Os tais homens feitos de aço
temperado com a tristeza
que envolveram num abraço
toda a história portuguesa.
Essa história tão bonita
e depois tão maltratada
por quem herdou a desdita
da história colonizada.
Dai ao povo o que é do povo
pois o mar não tem patrões.
– Não havia estado novo
nos poemas de Camões!
Havia sim a lonjura
e uma vela desfraldada
para levar a ternura
à distância imaginada.
Foi este lado da história
que os capitães descobriram
que ficará na memória
das naus que de Abril partiram
das naves que transportaram
o nosso abraço profundo
aos povos que agora deram
novos países ao mundo.
Por saberem como é
ficaram de pedra e cal
capitães que na Guiné
descobriram Portugal.
E em sua pátria fizeram
o que deviam fazer:
ao seu povo devolveram
o que o povo tinha a haver:
Bancos seguros petróleos
que ficarão a render
ao invés dos monopólios
para o trabalho crescer.
Guindastes portos navios
e outras coisas para erguer
antenas centrais e fios
dum país que vai nascer.
Mesmo que seja com frio
é preciso é aquecer
pensar que somos um rio
que vai dar onde quiser
pensar que somos um mar
que nunca mais tem fronteiras
e havemos de navegar
de muitíssimas maneiras.
No Minho com pés de linho
no Alentejo com pão
no Ribatejo com vinho
na Beira com requeijão
e trocando agora as voltas
ao vira da produção
no Alentejo bolotas
no Algarve maçapão
vindimas no Alto Douro
tomates em Azeitão
azeite da cor do ouro
que é verde ao pé do Fundão
e fica amarelo puro
nos campos do Baleizão.
Quando a terra for do povo
o povo deita-lhe a mão!
É isto a reforma agrária
em sua própria expressão:
a maneira mais primária
de que nós temos um quinhão
da semente proletária
da nossa revolução.
Quem a fez era soldado
homem novo capitão
mas também tinha a seu lado
muitos homens na prisão.
De tudo o que Abril abriu
ainda pouco se disse
um menino que sorriu
uma porta que se abrisse
um fruto que se expandiu
um pão que se repartisse
um capitão que seguiu
o que a história lhe predisse
e entre vinhas sobredos
vales socalcos searas
serras atalhos veredas
lezírias e praias claras
um povo que levantava
sobre um rio de pobreza
a bandeira em que ondulava
a sua própria grandeza!
De tudo o que Abril abriu
ainda pouco se disse
e só nos faltava agora
que este Abril não se cumprisse.
Só nos faltava que os cães
viessem ferrar o dente
na carne dos capitães
que se arriscaram na frente.
Na frente de todos nós
povo soberano e total
que ao mesmo tempo é a voz
e o braço de Portugal.
Ouvi banqueiros fascistas
agiotas do lazer
latifundiários machistas
balofos verbos de encher
e outras coisas em istas
que não cabe dizer aqui
que aos capitães progressistas
o povo deu o poder!
E se esse poder um dia
o quiser roubar alguém
não fica na burguesia
volta à barriga da mãe!
Volta à barriga da terra
que em boa hora o pariu
agora ninguém mais cerra
as portas que Abril abriu!
segunda-feira, 18 de abril de 2011
DEMOCRACIA EM EXERCÍCIO IV
«Aos amiguinhos dos alemães e dos mercados»
«Portugal had strong economic performance in the 1990s and was managing its recovery from the global recession better than several other countries in Europe, but it has come under unfair and arbitrary pressure from bond traders, speculators and credit rating analysts who, for short-sighted or ideological reasons, have now managed to drive out one democratically elected administration and potentially tie the hands of the next one.
If left unregulated, these market forces threaten to eclipse the capacity of democratic governments — perhaps even America’s — to make their own choices about taxes and spending.»
A ler, obrigatoriamente: Portugal’s Unnecessary Bailout, no NY Times.»
Nota de Miguel Marujo, no Facebook.
«South Bend, Ind.
PORTUGAL’S plea for help with its debts from the International Monetary Fund and the European Union last week should be a warning to democracies everywhere.
The crisis that began with the bailouts of Greece and Ireland last year has taken an ugly turn. However, this third national request for a bailout is not really about debt. Portugal had strong economic performance in the 1990s and was managing its recovery from the global recession better than several other countries in Europe, but it has come under unfair and arbitrary pressure from bond traders, speculators and credit rating analysts who, for short-sighted or ideological reasons, have now managed to drive out one democratically elected administration and potentially tie the hands of the next one.
If left unregulated, these market forces threaten to eclipse the capacity of democratic governments — perhaps even America’s — to make their own choices about taxes and spending.
Portugal’s difficulties admittedly resemble those of Greece and Ireland: for all three countries, adoption of the euro a decade ago meant they had to cede control over their monetary policy, and a sudden increase in the risk premiums that bond markets assigned to their sovereign debt was the immediate trigger for the bailout requests.
But in Greece and Ireland the verdict of the markets reflected deep and easily identifiable economic problems. Portugal’s crisis is thoroughly different; there was not a genuine underlying crisis. The economic institutions and policies in Portugal that some financial analysts see as hopelessly flawed had achieved notable successes before this Iberian nation of 10 million was subjected to successive waves of attack by bond traders.
Market contagion and rating downgrades, starting when the magnitude of Greece’s difficulties surfaced in early 2010, have become a self-fulfilling prophecy: by raising Portugal’s borrowing costs to unsustainable levels, the rating agencies forced it to seek a bailout. The bailout has empowered those “rescuing” Portugal to push for unpopular austerity policies affecting recipients of student loans, retirement pensions, poverty relief and public salaries of all kinds.
The crisis is not of Portugal’s doing. Its accumulated debt is well below the level of nations like Italy that have not been subject to such devastating assessments. Its budget deficit is lower than that of several other European countries and has been falling quickly as a result of government efforts.
And what of the country’s growth prospects, which analysts conventionally assume to be dismal? In the first quarter of 2010, before markets pushed the interest rates on Portuguese bonds upward, the country had one of the best rates of economic recovery in the European Union. On a number of measures — industrial orders, entrepreneurial innovation, high-school achievement and export growth — Portugal has matched or even outpaced its neighbors in Southern and even Western Europe.
Why, then, has Portugal’s debt been downgraded and its economy pushed to the brink? There are two possible explanations. One is ideological skepticism of Portugal’s mixed-economy model, with its publicly supported loans to small businesses, alongside a few big state-owned companies and a robust welfare state. Market fundamentalists detest the Keynesian-style interventions in areas from Portugal’s housing policy — which averted a bubble and preserved the availability of low-cost urban rentals — to its income assistance for the poor.
A lack of historical perspective is another explanation. Portuguese living standards increased greatly in the 25 years after the democratic revolution of April 1974. In the 1990s labor productivity increased rapidly, private enterprises deepened capital investment with help from the government, and parties from both the center-right and center-left supported increases in social spending. By the century’s end the country had one of Europe’s lowest unemployment rates.»
«Portugal had strong economic performance in the 1990s and was managing its recovery from the global recession better than several other countries in Europe, but it has come under unfair and arbitrary pressure from bond traders, speculators and credit rating analysts who, for short-sighted or ideological reasons, have now managed to drive out one democratically elected administration and potentially tie the hands of the next one.
If left unregulated, these market forces threaten to eclipse the capacity of democratic governments — perhaps even America’s — to make their own choices about taxes and spending.»
A ler, obrigatoriamente: Portugal’s Unnecessary Bailout, no NY Times.»
Nota de Miguel Marujo, no Facebook.
«South Bend, Ind.
PORTUGAL’S plea for help with its debts from the International Monetary Fund and the European Union last week should be a warning to democracies everywhere.
The crisis that began with the bailouts of Greece and Ireland last year has taken an ugly turn. However, this third national request for a bailout is not really about debt. Portugal had strong economic performance in the 1990s and was managing its recovery from the global recession better than several other countries in Europe, but it has come under unfair and arbitrary pressure from bond traders, speculators and credit rating analysts who, for short-sighted or ideological reasons, have now managed to drive out one democratically elected administration and potentially tie the hands of the next one.
If left unregulated, these market forces threaten to eclipse the capacity of democratic governments — perhaps even America’s — to make their own choices about taxes and spending.
Portugal’s difficulties admittedly resemble those of Greece and Ireland: for all three countries, adoption of the euro a decade ago meant they had to cede control over their monetary policy, and a sudden increase in the risk premiums that bond markets assigned to their sovereign debt was the immediate trigger for the bailout requests.
But in Greece and Ireland the verdict of the markets reflected deep and easily identifiable economic problems. Portugal’s crisis is thoroughly different; there was not a genuine underlying crisis. The economic institutions and policies in Portugal that some financial analysts see as hopelessly flawed had achieved notable successes before this Iberian nation of 10 million was subjected to successive waves of attack by bond traders.
Market contagion and rating downgrades, starting when the magnitude of Greece’s difficulties surfaced in early 2010, have become a self-fulfilling prophecy: by raising Portugal’s borrowing costs to unsustainable levels, the rating agencies forced it to seek a bailout. The bailout has empowered those “rescuing” Portugal to push for unpopular austerity policies affecting recipients of student loans, retirement pensions, poverty relief and public salaries of all kinds.
The crisis is not of Portugal’s doing. Its accumulated debt is well below the level of nations like Italy that have not been subject to such devastating assessments. Its budget deficit is lower than that of several other European countries and has been falling quickly as a result of government efforts.
And what of the country’s growth prospects, which analysts conventionally assume to be dismal? In the first quarter of 2010, before markets pushed the interest rates on Portuguese bonds upward, the country had one of the best rates of economic recovery in the European Union. On a number of measures — industrial orders, entrepreneurial innovation, high-school achievement and export growth — Portugal has matched or even outpaced its neighbors in Southern and even Western Europe.
Why, then, has Portugal’s debt been downgraded and its economy pushed to the brink? There are two possible explanations. One is ideological skepticism of Portugal’s mixed-economy model, with its publicly supported loans to small businesses, alongside a few big state-owned companies and a robust welfare state. Market fundamentalists detest the Keynesian-style interventions in areas from Portugal’s housing policy — which averted a bubble and preserved the availability of low-cost urban rentals — to its income assistance for the poor.
A lack of historical perspective is another explanation. Portuguese living standards increased greatly in the 25 years after the democratic revolution of April 1974. In the 1990s labor productivity increased rapidly, private enterprises deepened capital investment with help from the government, and parties from both the center-right and center-left supported increases in social spending. By the century’s end the country had one of Europe’s lowest unemployment rates.»
DEMOCRACIA EM EXERCÍCIO III
«A senhora verdade... mentiu»
«A senhora verdade, a senhora que teve razão antes de tempo, a senhora que devíamos ter ouvido. Não poupam nos encómios os que dizem que Manuela Ferreira Leite é que falou verdade em 2009 na campanha e que o estúpido do eleitor português (só não é estúpido se votar em nobres neoliberais que andam aí) se deixou levar no canto socrático. Mas como se soube ontem, via Público, "para salvar Portugal de um procedimento comunitário por défices excessivos em 2003, o Governo de Durão Barroso titularizou dívidas fiscais, para receber do Citigroup, de uma só vez, a quantia de 1760 milhões de euros. Mas a ministra das Finanças Manuela Ferreira Leite nunca especificou qual seria o "preço" a pagar pelo Estado. A auditoria do Tribunal de Contas (TC) à operação de titularização, ontem divulgada, refere que, só até Fevereiro de 2010, o custo em juros e despesas de operação foi de 300 milhões de euros". [sublinhado nosso]
Ou seja: estamos a falar de alguém que omitiu a factura para as gerações futuras para não excedermos o défice naquele ano (onde é que ouvimos isto agora, não é?). Quando nos falam em "15 anos de socialismo", a expressão favorita à direita, devem estar a querer incluir a senhora verdade, no governo do comissário europeu e do seu ministro das fotocópias. Para falar verdade, MFL não hipotecou Portugal. Hipotecou a verdade. Por isso, não a apresentem como paladina de algo que ela nunca foi.»
Nota de Miguel Marujo no Facebook.
«A senhora verdade, a senhora que teve razão antes de tempo, a senhora que devíamos ter ouvido. Não poupam nos encómios os que dizem que Manuela Ferreira Leite é que falou verdade em 2009 na campanha e que o estúpido do eleitor português (só não é estúpido se votar em nobres neoliberais que andam aí) se deixou levar no canto socrático. Mas como se soube ontem, via Público, "para salvar Portugal de um procedimento comunitário por défices excessivos em 2003, o Governo de Durão Barroso titularizou dívidas fiscais, para receber do Citigroup, de uma só vez, a quantia de 1760 milhões de euros. Mas a ministra das Finanças Manuela Ferreira Leite nunca especificou qual seria o "preço" a pagar pelo Estado. A auditoria do Tribunal de Contas (TC) à operação de titularização, ontem divulgada, refere que, só até Fevereiro de 2010, o custo em juros e despesas de operação foi de 300 milhões de euros". [sublinhado nosso]
Ou seja: estamos a falar de alguém que omitiu a factura para as gerações futuras para não excedermos o défice naquele ano (onde é que ouvimos isto agora, não é?). Quando nos falam em "15 anos de socialismo", a expressão favorita à direita, devem estar a querer incluir a senhora verdade, no governo do comissário europeu e do seu ministro das fotocópias. Para falar verdade, MFL não hipotecou Portugal. Hipotecou a verdade. Por isso, não a apresentem como paladina de algo que ela nunca foi.»
Nota de Miguel Marujo no Facebook.
ECOSFERA
«Estudo demonstra que biodiversidade melhora qualidade da água nos rios»
«Quanto mais espécies tiver um habitat, mais depressa os poluentes serão removidos da água, conclui um estudo publicado na revista “Nature” sobre o papel da biodiversidade na melhoria da qualidade dos rios.
Brad Cardinale, da Universidade de Michigan, recriou 150 rios em laboratório para estudar como é que o número de espécies de algas num habitat afecta a velocidade a que os poluentes são removidos da água. Concluiu, então, que em habitats com oito espécies, os nitratos são removidos até 4,5 vezes mais depressa do que em habitats com apenas uma espécie, segundo um comunicado publicado no site da “Nature”.
“Os estudos na natureza mostraram que ecossistemas mais diversos têm concentrações de poluentes mais baixas. Este estudo mostra que a biodiversidade pode controlar um serviço vital para a humanidade, isto é, a purificação da água”, comentou Cardinale.
A explicação que o investigador encontrou relaciona-se com os nichos. Cada espécie de alga está especialmente adaptada a um habitat particular num rio e concentra-se nesse local, ou seja, num nicho ecológico. "À medida que fomos acrescentando algas aos nossos pequenos modelos, mais habitats foram sendo ocupados e o rio passou a ter maior capacidade para absorver os poluentes", explicou.
“O que torna este um estudo único é que analisa pormenorizadamente o impacto da biodiversidade num sistema pouco estudado”, comentou David Tilman, ecólogo na Universidade do Minnesota.
“Não penso que esta investigação sugira que precisamos conservar cada espécie num ecossistema. Mas levanta a questão: de quantas espécies precisamos para termos água com qualidade?”, questionou Cardinale.
Ainda assim, vários especialistas têm dúvidas sobre este trabalho. “Gerar toda uma paisagem num microcosmos é um feito técnico notável. Mas será que este mecanismo é relevante num contexto natural?”, pergunta Jason Fridley, da Universidade Syracuse, em Nova Iorque.
Cardinale explica, então, que já “existem estudos que mostram que ecossistemas mais diversos têm menores concentrações de poluentes. Mas não explicam por quê. Para o fazer precisamos de criar um sistema simplificado em laboratório e controlar tudo, excepto a diversidade”.
“Sabemos que a diversidade de espécie interessa. Mas o que ainda não sabemos é quantas e quais as espécies a conservar”, comentou Cardinale.»
Fonte: Público.
«Quanto mais espécies tiver um habitat, mais depressa os poluentes serão removidos da água, conclui um estudo publicado na revista “Nature” sobre o papel da biodiversidade na melhoria da qualidade dos rios.
Brad Cardinale, da Universidade de Michigan, recriou 150 rios em laboratório para estudar como é que o número de espécies de algas num habitat afecta a velocidade a que os poluentes são removidos da água. Concluiu, então, que em habitats com oito espécies, os nitratos são removidos até 4,5 vezes mais depressa do que em habitats com apenas uma espécie, segundo um comunicado publicado no site da “Nature”.
“Os estudos na natureza mostraram que ecossistemas mais diversos têm concentrações de poluentes mais baixas. Este estudo mostra que a biodiversidade pode controlar um serviço vital para a humanidade, isto é, a purificação da água”, comentou Cardinale.
A explicação que o investigador encontrou relaciona-se com os nichos. Cada espécie de alga está especialmente adaptada a um habitat particular num rio e concentra-se nesse local, ou seja, num nicho ecológico. "À medida que fomos acrescentando algas aos nossos pequenos modelos, mais habitats foram sendo ocupados e o rio passou a ter maior capacidade para absorver os poluentes", explicou.
“O que torna este um estudo único é que analisa pormenorizadamente o impacto da biodiversidade num sistema pouco estudado”, comentou David Tilman, ecólogo na Universidade do Minnesota.
“Não penso que esta investigação sugira que precisamos conservar cada espécie num ecossistema. Mas levanta a questão: de quantas espécies precisamos para termos água com qualidade?”, questionou Cardinale.
Ainda assim, vários especialistas têm dúvidas sobre este trabalho. “Gerar toda uma paisagem num microcosmos é um feito técnico notável. Mas será que este mecanismo é relevante num contexto natural?”, pergunta Jason Fridley, da Universidade Syracuse, em Nova Iorque.
Cardinale explica, então, que já “existem estudos que mostram que ecossistemas mais diversos têm menores concentrações de poluentes. Mas não explicam por quê. Para o fazer precisamos de criar um sistema simplificado em laboratório e controlar tudo, excepto a diversidade”.
“Sabemos que a diversidade de espécie interessa. Mas o que ainda não sabemos é quantas e quais as espécies a conservar”, comentou Cardinale.»
Fonte: Público.
domingo, 17 de abril de 2011
DEMOCRACIA EM EXERCÍCIO II
«Assassinado à queima-roupa por homens encapuzados à frente do filho de um ano. Foi este o desfecho da vida de Juliano Mer-Khamis, o actor árabe-israelita de 53 anos, considerado um símbolo da luta pela causa palestiniana.»
«Perto do teatro que ele próprio fundou, num campo de refugiados na cidade de Jenin, na Palestina, Mer-Khamis foi, nesta segunda-feira, atingido cinco vezes por tiros de militantes de cara tapada. As circunstâncias do seu assassinato estão a ser investigadas pelas forças de segurança israelitas e o Presidente da Palestina, Mahmoud Abbas, já condenou o acto, sublinhando a necessidade de levar à justiça os responsáveis pela morte do actor.
Nascido e criado em Nazaré, no Norte de Israel, Juliano Mer-Khamis era filho de mãe judia israelita, defensora acérrima dos direitos dos palestinianos, e de um pai cristão palestiniano, que liderou o partido comunista em Israel. Fruto de um casamento israelo-árabe - numa terra em que a relação entre as duas populações é de conflito - Mer-Khamis absorveu das suas origens a preocupação com os dois povos, entre os quais afirmava querer ser uma ponte.
Ficou conhecido por ser actor, realizador e activista político, mas principalmente por defender uma “intifada cultural”, que acreditava ter mais sucesso do que uma acção violenta. Nas últimas décadas, Mer-Khamis tornou-se um dos maiores críticos da política israelita face aos palestinianos.
Mas a sua determinação e coragem de dizer o que pensava, valeram-lhe ameaças desde o começo da sua carreira. Acusado de “traição” por ser filho de mãe judia israelita e de “corrupção moral” por desencaminhar os jovens de Jenin com obras de teatro em que se “atrevia” a misturar no mesmo cenários rapazes e raparigas, Mer-Khamis viu o seu teatro incendiado por duas vezes e passaram-lhe pelas mãos folhetos redigidos e distribuídos por islamitas radicais que o ameaçavam de morte. “Se as palavras não o convencem, devemos usar a linguagem das balas”, advertiram os fundamentalistas.
“Seria muito triste se, depois de tudo o que fiz pelos jovens do campo de refugiados de Jenin, fosse morto por uma bala palestiniana”, disse o actor a um jornalista do “El Mundo” na altura em que viu os folhetos.
A morte de Mer-Khamis fez levantar um coro de vozes, chocados com a violenta morte de um homem e com o silenciar de uma opinião diferente.
Entre outras classificações, Juliano Mer-Khamis é descrito como um “grande apoiante do povo palestiniano”, “um fantástico actor, um ser humano extraordinário”, e todos os que lamentam a sua morte sublinham a sua persistência e convicção.
Para Michael Handesaltz, crítico do Haaretz, que trabalhou com Mer-Khamis, a sua morte faz parte da “realidade trágica do seu país” e ele foi “outra vítima da vida no Médio Oriente”.
Avi Nesher, realizador de um dos filmes em que Mer-Khamis entrou, frisou a ironia do fim do actor: “É tão irónico que ele tenha sido morto por uma série de tiros, na vida real tal como num filme”.»
Fonte: Público.
«Perto do teatro que ele próprio fundou, num campo de refugiados na cidade de Jenin, na Palestina, Mer-Khamis foi, nesta segunda-feira, atingido cinco vezes por tiros de militantes de cara tapada. As circunstâncias do seu assassinato estão a ser investigadas pelas forças de segurança israelitas e o Presidente da Palestina, Mahmoud Abbas, já condenou o acto, sublinhando a necessidade de levar à justiça os responsáveis pela morte do actor.
Nascido e criado em Nazaré, no Norte de Israel, Juliano Mer-Khamis era filho de mãe judia israelita, defensora acérrima dos direitos dos palestinianos, e de um pai cristão palestiniano, que liderou o partido comunista em Israel. Fruto de um casamento israelo-árabe - numa terra em que a relação entre as duas populações é de conflito - Mer-Khamis absorveu das suas origens a preocupação com os dois povos, entre os quais afirmava querer ser uma ponte.
Ficou conhecido por ser actor, realizador e activista político, mas principalmente por defender uma “intifada cultural”, que acreditava ter mais sucesso do que uma acção violenta. Nas últimas décadas, Mer-Khamis tornou-se um dos maiores críticos da política israelita face aos palestinianos.
Mas a sua determinação e coragem de dizer o que pensava, valeram-lhe ameaças desde o começo da sua carreira. Acusado de “traição” por ser filho de mãe judia israelita e de “corrupção moral” por desencaminhar os jovens de Jenin com obras de teatro em que se “atrevia” a misturar no mesmo cenários rapazes e raparigas, Mer-Khamis viu o seu teatro incendiado por duas vezes e passaram-lhe pelas mãos folhetos redigidos e distribuídos por islamitas radicais que o ameaçavam de morte. “Se as palavras não o convencem, devemos usar a linguagem das balas”, advertiram os fundamentalistas.
“Seria muito triste se, depois de tudo o que fiz pelos jovens do campo de refugiados de Jenin, fosse morto por uma bala palestiniana”, disse o actor a um jornalista do “El Mundo” na altura em que viu os folhetos.
A morte de Mer-Khamis fez levantar um coro de vozes, chocados com a violenta morte de um homem e com o silenciar de uma opinião diferente.
Entre outras classificações, Juliano Mer-Khamis é descrito como um “grande apoiante do povo palestiniano”, “um fantástico actor, um ser humano extraordinário”, e todos os que lamentam a sua morte sublinham a sua persistência e convicção.
Para Michael Handesaltz, crítico do Haaretz, que trabalhou com Mer-Khamis, a sua morte faz parte da “realidade trágica do seu país” e ele foi “outra vítima da vida no Médio Oriente”.
Avi Nesher, realizador de um dos filmes em que Mer-Khamis entrou, frisou a ironia do fim do actor: “É tão irónico que ele tenha sido morto por uma série de tiros, na vida real tal como num filme”.»
Fonte: Público.
sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011
MUDANÇA
A alegria do povo egípcio é evindente e não dá para enganar. A mudança era obrigatória. Para muitos que acompanharam de fora e pelos media a contestação foi individualizada e dirigida a Mubarak. Mas não, a contestação é muito mais profunda. É dirigida a Mubarak, ao sistema que suportou Mubarak e aos amigos externos de Mubarak, União Europeia e Estados Unidos da América.
No seguimento deste raciocínio gostaria de partilhar esta informação, à vinda para casa ouvi na rádio o desenvolvimento da situação política e social no Egípto. Nesta moldura o General Loureiro dos Santos fazia a sua análise e entre imensa informação exposta, referiu que existe uma enorme diferença entre Mubarak e o presente quadro do exército. O primeiro foi treinado e educado na antiga União Soviética, o segundo já foi e é preparado pelos EUA. Embora morta a URSS ainda tem as costas largas. O descaramento deste senhor...
Quanto à mudança, era obrigatória, que seja para melhor.
No seguimento deste raciocínio gostaria de partilhar esta informação, à vinda para casa ouvi na rádio o desenvolvimento da situação política e social no Egípto. Nesta moldura o General Loureiro dos Santos fazia a sua análise e entre imensa informação exposta, referiu que existe uma enorme diferença entre Mubarak e o presente quadro do exército. O primeiro foi treinado e educado na antiga União Soviética, o segundo já foi e é preparado pelos EUA. Embora morta a URSS ainda tem as costas largas. O descaramento deste senhor...
Quanto à mudança, era obrigatória, que seja para melhor.
sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011
PROTESTO À PRECARIEDADE
Primeiro vi no blogue "5 dias", não percebi o que se passava. Depois a ANTENA1 e o Telejornal na RTP1 explicaram. Foi ontem. Hoje, sobre isto, os Deolinda emitem o comunicado.
sábado, 29 de janeiro de 2011
SER SOLIDÁRIO
SER SOLIDÁRIO
Intérprete: José Mário Branco
Composição: José Mário Branco
Letra: José Mário Branco
Ver vídeo: aqui.
Ser solidário assim pr’além da vida
Por dentro da distância percorrida
Fazer de cada perda uma raiz
E improvavelmente ser feliz
De como aqui chegar não é mister
Contar o que já sabe quem souber
O estrume em que germina a ilusão
Fecundará por certo esta canção
Ser solidário assim tão longe e perto
No coração de mim por mim aberto
Amando a inquietação que permanece
Pr’além da inquietação que me apetece
De como aqui chegar nada direi
Senão que tu já sentes o que eu sei
Apenas o momento do teu sonho
No amor intemporal que nos proponho
Ser solidário sim, por sobre a morte
Que depois dela só o tempo é forte
E a morte nunca o tempo a redime
Mas sim o amor dos homens que se exprime
De como aqui chegar não vale a pena
Já que a moral da história é tão pequena
Que nunca por vingança eu te daria
No ventre das canções sabedoria
Intérprete: José Mário Branco
Composição: José Mário Branco
Letra: José Mário Branco
Ver vídeo: aqui.
Ser solidário assim pr’além da vida
Por dentro da distância percorrida
Fazer de cada perda uma raiz
E improvavelmente ser feliz
De como aqui chegar não é mister
Contar o que já sabe quem souber
O estrume em que germina a ilusão
Fecundará por certo esta canção
Ser solidário assim tão longe e perto
No coração de mim por mim aberto
Amando a inquietação que permanece
Pr’além da inquietação que me apetece
De como aqui chegar nada direi
Senão que tu já sentes o que eu sei
Apenas o momento do teu sonho
No amor intemporal que nos proponho
Ser solidário sim, por sobre a morte
Que depois dela só o tempo é forte
E a morte nunca o tempo a redime
Mas sim o amor dos homens que se exprime
De como aqui chegar não vale a pena
Já que a moral da história é tão pequena
Que nunca por vingança eu te daria
No ventre das canções sabedoria
terça-feira, 18 de janeiro de 2011
IR MAIS FUNDO - EXPERIMENTAR
Fonte para a nota: Jornal de Letras - Manuel Halpern.
Vídeo: Aqui.
Para mim, uma lufada de ar fresco: «O experimentar na m'incomoda: Tradição de vanguarda Será um folctrónico ou uma retradição? Talvez seja mesmo necessário inventar uma palavra para classificar o primeiro disco de O Experimentar na m'incomoda. Ou uma expressão aparentemente contraditória, como 'folclore urbano' ou 'tradição de vanguarda'. Notável é que, com canções como Bela Aurora, Caracol ou As Ilhas de Bruma, Pedro Lucas conseguiu fazer um dos melhores discos de 2010. Ou será de 2015?
Será um folctrónico ou uma retradição? Talvez seja mesmo necessário inventar uma palavra para classificar o primeiro disco de O Experimentar na m'incomoda. Ou uma expressão aparentemente contraditória, como 'folclore urbano' ou 'tradição de vanguarda'. Notável é que, com canções como Bela Aurora, Caracol ou As Ilhas de Bruma, Pedro Lucas conseguiu fazer um dos melhores discos de 2010. Ou será de 2015?
Outra forma de ouvir a coisa é pensando que está encontrado o mais fiel herdeiro de João Aguardela e do seu Megafone. O parentesco é mais do que óbvio. Tem mais a ver com o conceito do que com o resultado final. Ambos fazem uma releitura urbana de sons tradicionais. Lucas fechou-se no universo açoriano, principalmente no disco O cantar na m'incomoda, de Carlos Medeiros. Descobriu ali uma base melódica para construir a sua música. E diga-se que não é difícil misturar universos antagónicos, o mundo das remixes está cheio de exemplos. O que é difícil é fazê-lo bem. Que lhe seja dado o mérito.
Aqui temos o campo e a cidade servidos de uma forma híbrida. Sente-se a tradição e sente-se a modernidade. Mas o que conta é que foi construído um novo objeto, que passa de forma fluida. É na encruzilhada entre o cosmopolitismo e a insularidade que se situa Pedro Lucas, não fosse o faial, por tradição, a mais cosmopolita paragem do arquipélago.
Foi ali que Pedro Lucas nasceu há 25 anos. Estudou música no conservatório, aprendeu a tocar guitarra e participou nas filarmónicas locais. Mas na adolescência, naturalmente, fugiu daqueles sons. Já adulto mudou-se para Lisboa e, num curso da Re-start, aprofundou os seus conhecimentos técnicos no domínio da música por computador. A capital não lhe agradou. E regressou rapidamente para o faial. Até que aproveitando a sua condição de cidadão europeu, emigrou para Copenhaga, onde vive há cerca de um ano e trabalha num bar.
Foi enquanto estava nos Açores que, ao ver um concerto de Zeca Medeiros, teve a ideia do projeto. Sobretudo ao ver Carlos Medeiros, que também participava. "O disco faz uma abordagem diferente, de cantautor, sobre a música tradicional. Fiquei fascinado".
Um ponto de partida. Começou a explorar aqueles sons no computador e a fazer experiências, até que o disco ganhou forma. Só a meio do processo se cruzou com o som do Megafone de Aguardela: "Não conhecia. Quando ouvi, percebi que tinha de ir noutro sentido".
Concorreu aos prémios Megafone e foi apurado para a final. Dos três selecionados foi o único sem discos editados. O prémio foi atribuído aos mirandeses Galandum Galundaina, mas Pedro Lucas ganhou uma importante menção honrosa. O concerto foi uma surpresa, apesar de se ter notado a ausência de ensaios. Porque aconteceu ali, em palco, um bonito encontro de gerações, com as participações de Zeca e Carlos de Medeiros. Sobretudo a interpretação de As Ilhas de Bruma, por Zeca Medeiros, como se fosse um blues. O figurino porventura pouco prático. Mas Pedro insiste: "Gostava de ter sempre uma formação de banda, mas já percebi que tenho de ter uma alternativa mais portátil". Experimentar na m'incomoda é um autêntico disco voador.»
Vídeo: Aqui.
Para mim, uma lufada de ar fresco: «O experimentar na m'incomoda: Tradição de vanguarda Será um folctrónico ou uma retradição? Talvez seja mesmo necessário inventar uma palavra para classificar o primeiro disco de O Experimentar na m'incomoda. Ou uma expressão aparentemente contraditória, como 'folclore urbano' ou 'tradição de vanguarda'. Notável é que, com canções como Bela Aurora, Caracol ou As Ilhas de Bruma, Pedro Lucas conseguiu fazer um dos melhores discos de 2010. Ou será de 2015?
Será um folctrónico ou uma retradição? Talvez seja mesmo necessário inventar uma palavra para classificar o primeiro disco de O Experimentar na m'incomoda. Ou uma expressão aparentemente contraditória, como 'folclore urbano' ou 'tradição de vanguarda'. Notável é que, com canções como Bela Aurora, Caracol ou As Ilhas de Bruma, Pedro Lucas conseguiu fazer um dos melhores discos de 2010. Ou será de 2015?
Outra forma de ouvir a coisa é pensando que está encontrado o mais fiel herdeiro de João Aguardela e do seu Megafone. O parentesco é mais do que óbvio. Tem mais a ver com o conceito do que com o resultado final. Ambos fazem uma releitura urbana de sons tradicionais. Lucas fechou-se no universo açoriano, principalmente no disco O cantar na m'incomoda, de Carlos Medeiros. Descobriu ali uma base melódica para construir a sua música. E diga-se que não é difícil misturar universos antagónicos, o mundo das remixes está cheio de exemplos. O que é difícil é fazê-lo bem. Que lhe seja dado o mérito.
Aqui temos o campo e a cidade servidos de uma forma híbrida. Sente-se a tradição e sente-se a modernidade. Mas o que conta é que foi construído um novo objeto, que passa de forma fluida. É na encruzilhada entre o cosmopolitismo e a insularidade que se situa Pedro Lucas, não fosse o faial, por tradição, a mais cosmopolita paragem do arquipélago.
Foi ali que Pedro Lucas nasceu há 25 anos. Estudou música no conservatório, aprendeu a tocar guitarra e participou nas filarmónicas locais. Mas na adolescência, naturalmente, fugiu daqueles sons. Já adulto mudou-se para Lisboa e, num curso da Re-start, aprofundou os seus conhecimentos técnicos no domínio da música por computador. A capital não lhe agradou. E regressou rapidamente para o faial. Até que aproveitando a sua condição de cidadão europeu, emigrou para Copenhaga, onde vive há cerca de um ano e trabalha num bar.
Foi enquanto estava nos Açores que, ao ver um concerto de Zeca Medeiros, teve a ideia do projeto. Sobretudo ao ver Carlos Medeiros, que também participava. "O disco faz uma abordagem diferente, de cantautor, sobre a música tradicional. Fiquei fascinado".
Um ponto de partida. Começou a explorar aqueles sons no computador e a fazer experiências, até que o disco ganhou forma. Só a meio do processo se cruzou com o som do Megafone de Aguardela: "Não conhecia. Quando ouvi, percebi que tinha de ir noutro sentido".
Concorreu aos prémios Megafone e foi apurado para a final. Dos três selecionados foi o único sem discos editados. O prémio foi atribuído aos mirandeses Galandum Galundaina, mas Pedro Lucas ganhou uma importante menção honrosa. O concerto foi uma surpresa, apesar de se ter notado a ausência de ensaios. Porque aconteceu ali, em palco, um bonito encontro de gerações, com as participações de Zeca e Carlos de Medeiros. Sobretudo a interpretação de As Ilhas de Bruma, por Zeca Medeiros, como se fosse um blues. O figurino porventura pouco prático. Mas Pedro insiste: "Gostava de ter sempre uma formação de banda, mas já percebi que tenho de ter uma alternativa mais portátil". Experimentar na m'incomoda é um autêntico disco voador.»
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IR MAIS FUNDO - MEGAFONE
Fonte da nota: Palco Principal.
Vídeo: Aqui.
Feliz aquele que pensou em misturar três estilos musicais tão distintos. Pessoalmente, não tinha particular predilecção por qualquer deles. Agora gosto dos três: música tradicional portuguesa, drum’n’bass e jungle. Em 2005, no círculo de amizade dos Amigos do Cáster, apresentaram-me este projecto do João Aguardela. Chamava-se "Megafone". A saber «Megafone foi um projecto do músico português João Aguardela (1969-2009), que esteve também envolvido na criação d’Os Sitiados, da Linha da Frente e d’A Naifa. Em 1997, foi lançado o álbum Megafone I, que vestia com roupagens electrónicas (em que o jungle e o drum ‘n bass são notórios) as recolhas de música tradicional efectuadas por Michel Giacometti e José Alberto Sardinha. A frase de Aguardela “música para uma nova tradição” é citada frequentemente como um resumo do propósito e da atitude do músico neste seu trabalho.»
Vídeo: Aqui.
Feliz aquele que pensou em misturar três estilos musicais tão distintos. Pessoalmente, não tinha particular predilecção por qualquer deles. Agora gosto dos três: música tradicional portuguesa, drum’n’bass e jungle. Em 2005, no círculo de amizade dos Amigos do Cáster, apresentaram-me este projecto do João Aguardela. Chamava-se "Megafone". A saber «Megafone foi um projecto do músico português João Aguardela (1969-2009), que esteve também envolvido na criação d’Os Sitiados, da Linha da Frente e d’A Naifa. Em 1997, foi lançado o álbum Megafone I, que vestia com roupagens electrónicas (em que o jungle e o drum ‘n bass são notórios) as recolhas de música tradicional efectuadas por Michel Giacometti e José Alberto Sardinha. A frase de Aguardela “música para uma nova tradição” é citada frequentemente como um resumo do propósito e da atitude do músico neste seu trabalho.»
sábado, 8 de janeiro de 2011
REFLEXO DE DOIS MUNDOS
TRAVESSIA DO DESERTO
Intérprete: José Mário Branco
Composição: José Mário Branco
Letra: José Mário Branco
Ver vídeo: aqui.
Descobri esta canção em 2009, interpretada pelo autor, por Sérgio Godinho e por Fausto Bordalo Dias. Ao que reza a história, «inspirada num poema de Sophia de Mello Breyner e escrita em 1977 para a peça "Em Maio", da Comuna». Esta composição serve como reflexo de dois mundos, o exterior e o interior e ainda a descrição de um estado «de introspecção e febre criativa».
Que caminho tão longo!
Que viagem tão comprida!
Que deserto tão grande grande
Sem fronteira nem medida!
Águas do pensamento
Vinde regar o sustento
Da minha vida
Este peso calado
Queima o sol por trás do monte
Queima o tempo parado
Queima o rio com a ponte
Águas dos meus cansaços
Semeai os meus passos
Como uma fonte
Ai que sede tão funda!
Ai que fome tão antiga!
Quantas noites se perdem
No amor de cada espiga!
Ventre calmo da terra
Leva-me na tua guerra
Se és minha amiga
Intérprete: José Mário Branco
Composição: José Mário Branco
Letra: José Mário Branco
Ver vídeo: aqui.
Descobri esta canção em 2009, interpretada pelo autor, por Sérgio Godinho e por Fausto Bordalo Dias. Ao que reza a história, «inspirada num poema de Sophia de Mello Breyner e escrita em 1977 para a peça "Em Maio", da Comuna». Esta composição serve como reflexo de dois mundos, o exterior e o interior e ainda a descrição de um estado «de introspecção e febre criativa».
Que caminho tão longo!
Que viagem tão comprida!
Que deserto tão grande grande
Sem fronteira nem medida!
Águas do pensamento
Vinde regar o sustento
Da minha vida
Este peso calado
Queima o sol por trás do monte
Queima o tempo parado
Queima o rio com a ponte
Águas dos meus cansaços
Semeai os meus passos
Como uma fonte
Ai que sede tão funda!
Ai que fome tão antiga!
Quantas noites se perdem
No amor de cada espiga!
Ventre calmo da terra
Leva-me na tua guerra
Se és minha amiga
A HISTÓRIA DE "SER SOLIDÁRIO"
Porque o álbum, “Ser Solidário”, contém a música que actualmente mais gosto de José Mário Branco, “Travessia do Deserto”, copio para o meu blog a história deste disco, através de um artigo escrito por Nuno Pacheco, em 1996, no livreto da reedição. Um texto que permite conhecer com maior profundidade esta obra deste cantautor. Uma obra que abrange muitos estilos musicais, com referencias e associações a grande poetas/escritores, a filósofos, mas sobretudo resultante da sua vivência e capacidade criativa. Este «foi elogiado pelos críticos, referindo-se ao seu autor como "um dos mais originais, sensíveis e competentes orquestradores portugueses")». Esta obra e esta individualidade são marcos da cultura portuguesa.
Então cá vai: «Há momentos, na vida de todos os dias, em que pessoas e coisas parecem confluir para um ajuste de contas com a História. 1980 foi um ano pródigo em momentos assim, limiar de décadas e de mundos em mudança. Nele perderam a vida Sartre e Lennon, o arcebispo Óscar Romero e o marechal Tito, Marcello Caetano e Sá Carneiro. Cada morte a encerrar pequenos ciclos, a desfazer encruzilhadas ou, como no caso da Jugoslávia pós-Tito, a reacender longínquas faúlhas de guerra.
Ser Solidário revela-se ao mundo na voragem desses dias. Na noite de 21 de Novembro de 1980, nove anos depois do lançamento histórico de Mudam-se os Tempos, Mudam-se as Vontades, o cantor e compositor José Mário Branco sobe ao palco do Teatro Aberto, em Lisboa, para a estreia de um novo espectáculo musical. Vestido de branco, silhueta recortada na penumbra da sala, começa por cantar, dedilhando a guitarra: "Que caminho tão longo!/ que viagem tão comprida! / que deserto tão grande/ sem fronteira nem medida!/ águas do pensamento/ vinde regar o sustento/ da minha vida." Um caminho aberto em Paris, continuado no Portugal revolucionário de 74/75, desgastado entre a música e a política por sucessivas desilusões no final da década de 70.
E, sempre presente, o teatro. Não aquele, palco passageiro onde agora cantava, mas outros, onde nos últimos anos tinha empregue muito do seu esforço criativo: a Comuna, primeiro; o Teatro do Mundo, depois. Da Comuna acabara por sair em Janeiro de 1979, solidário com um grupo de actores então expulsos por divergências de estratégia e reportório. O Teatro do Mundo, fundara-o pouco depois da cisão, a 23 de Janeiro desse ano, juntamente com outros actores vindos da Comuna: Manuela de Freitas, Jean-Pierre Taillade, Fernanda Neves, Gabriela Morais. E ainda Cucha Carvalheiro, actriz que José Mário Branco já conhecia do exílio em França, e António Branco, sobrinho do cantor. Por graça, na estreia de Ser Solidário, ele não resistiu a dizer que demorara dois anos a atravessar a Praça de Espanha (o Teatro Aberto ficava mesmo em frente do casarão cor-de-rosa da Comuna, do outro lado da praça). Dois anos de travessia do deserto, à semelhança do que diz a canção (composta para uma peça da Comuna), mas também de introspecção e febre criativa.
Mas Ser Solidário tinha sido pensado para estrear como disco — este, que agora se reedita, com 15 temas mais o F.M.I. — e não propriamente como espectáculo. Pronta em Março de 79, a maqueta circulou pelas editoras sem que nenhuma lhe pegasse. José Mário Branco e o Teatro do Mundo pensaram então em levá-lo aos palcos. Esperaram até Setembro de 1980 e, como o disco se mostrasse inviável, montaram o espectáculo. Disponível a sala do Teatro Aberto, planearam doze actuações com uma sequência rara em espectáculos do género: quintas, sextas e sábados às 21h45 e domingos às 18h30.
Da ficha de Ser Solidário, produzido pelo Teatro do Mundo com direcção artística de Trindade Santos, constavam os nomes de Júlio Pereira (cordas), Pedro Luís (teclados), Rui Cardoso (sopros), Zé da Cadela (bateria) e José Mário Branco (cordas e voz). Nos coros, estavam Fernanda Neves (actriz no Teatro do Mundo), António Branco e Gustavo Sequeira (membros do Quarteto Música em Si, que em Março de 1980 se apresentara no Festival RTP da Canção com "Esta Página em Branco" — cujo arranjo, assinado por José Mário Branco, foi elogiado pelos críticos, referindo-se ao seu autor como "um dos mais originais, sensíveis e competentes orquestradores portugueses").
Mas voltemos ao palco do Teatro Aberto. Naqueles dias de Novembro, a sala esgotou a lotação. Um êxito de bilheteira, entradas a 150$00 para um espectáculo com um orçamento de produção na casa dos 500 contos. Quanto ao disco, recusado no circuito comercial, foi posta a circular uma carta-cupão onde se propunha um original contrato com o público: "Quer você ajudar a produzir o meu próximo LP?", escrevia José Mário Branco na carta, para quem o quisesse ler. "Bastará que o compre já, ao preço barato de 500$00, que sinta alguma razão para nos confiar essa quantia, e que possa esperar dois ou três meses para ter nas suas mãos o duplo álbum Ser Solidário." Esperariam cerca de ano e meio, mas nenhum dos subscritores do cupão (perto de 800), preenchido à saída do espectáculo ou por via de publicação graciosa em jornais e revistas, se mostrou muito incomodado com o atraso. E quando finalmente o disco viu a luz do dia, a 14 de Abril de 1982, a ocasião foi celebrada com um único que superlotou a sala da Aula Magna da Reitoria da Universidade de Lisboa. De novo a travessia do deserto, a raiva e a esperança, o exorcizar de velhos fantasmas, a evidência da morte no ciclo da vida. E a certeza de ter cumprido uma meta, fechado um ciclo geracional. Falando sobre o disco, disse ele então ao "Expresso" (9/4/82): "Ser Solidário é uma obra feita já a olhar para a frente, embora não fale daquilo para que está a olhar. Mas fala de tal maneira definitivamente que encerra mesmo um ciclo, pelo menos no que diz respeito à minha obra. Mas não só. Talvez tenha sido eu - e digo-o sem vaidade, com a maior lucidez possível - a tomar a iniciativa de encerrar um ciclo aberto há dez anos com Mudam-se os Tempos, Mudam-se as Vontades e com as Cantigas do Maio do Zeca Afonso, e que fica encerrado com este álbum. Daqui para a frente já nada poderá ser a mesma coisa."
Ser Solidário, entretanto, continua a esgotar lotações. O espectáculo mantém-se até ao fim da primeira semana de Dezembro, sai de cena e repõe a 15 de Abril de 81. Desta vez em sessões contínuas: todos os dias às 21h30, domingos às 15h00, descanso às segundas. Um horário semelhante ao do teatro. As lotações voltam a esgotar. Por isso, antes de levar o espectáculo em digressão pelo país (onde volta a encher salas e a atrair público), o Teatro do Mundo decide prolongá-lo para além de 30 de Abril com mais três "sessões especiais": a l, 2 e 3 de Maio. E é numa dessas sessões que se procede à gravação, ao vivo, do tema F.M.I. .
Nunca, até Ser Solidário, um cantor se expusera desta maneira. Quem assiste mais do que uma vez ao espectáculo, vê a cena repetir-se, como um ritual, noite após noite. Num crescendo, a música vai conquistando espaço por entre a plateia, rendida em aplausos. Quase duas horas após o início, já num "estado de aquecimento emocional" (como lhe chamou José Mário Branco), o público exige o regresso do cantor ao palco. É então que ele apresenta o tão ansiado F.M.I. . "Um texto que eu escrevi de um só jorro, numa noite de Fevereiro de 1979". Começa irónico, mordaz, a provocar sorrisos de autocomplacência ou assentimento. Mas depressa impõe um pesado silêncio pelo tropel das palavras, o desafio, o insulto. Partindo de um tema que no discurso musical lembra "Talking Union", de Pete Seeger, José Mário Branco evolui para algo muito próximo das invectivas radicais de Ferre ou da ironia provocatóría de Almada Negreiros na "Cena do Ódio". Mas vai mais longe: como numa espiral, a raiva acumulada cede lugar ao choro, ao sussurro, ao desencanto. "Não pode haver razão para tanto sofrimento...", diz, em voz velada, exausto, passada a violenta tempestade de sentimentos contraditórios que o leva a gritar bem alto o seu ódio ao vazio: "Mãe, ó mãe!!/ Eu quero ficar sozinho/ Eu não quero pensar mais./ Mãe, eu quero morrer, mãe/ Quero... desnascer/ Ir-me embora/ sem sequer ter de me ir embora..." Mas a esperança subsiste para lá de todas as tempestades do espírito. E o deserto consente a miragem redentora, a vitória da luz sobre as trevas, o "d" de solidário a afastar o "t" de solitário (trocadilho presente na capa do disco e inspirado num conto de Camus) num abrir de braços para um futuro sem tempo, algures no cosmos: "O meu sonho é a luz que vem do fim do mundo, dos vossos antepassados que ainda não nasceram". Assim, "para lã da vida". "Por sobre a morte". Para concluir, na simplicidade da paz reencontrada: "Dizia, valeu a pena a travessia?... Valeu, pois."
Nascido na ressaca do processo de expulsão da Comuna, com retroactivos por ter sido expulso do PCP(R) em 1979, o F.M.I. surge para José Mário Branco da "necessidade de encontrar um sentido para a vida fora dos clichés ideológicos". E é, tal como a primeira peça do Teatro do Mundo ("A Secreta Família", estreada em Julho de 1979), uma espécie "de vómito" emotivo. "Um texto profundamente confessional e catártico, uma conversa que me é permitida exclusivamente com a gente da minha geração... E na qual as outras gerações (a de antes e a de depois) são só atingidas por tabela" ("Expresso", 9/4/ 82). Daí que, em 1982, o F.M.I. surgisse num disco à parte, em maxi-single, e selado com a seguinte indicação: "Por determinação expressa do autor fica proibida a audição pública, total ou integral, deste disco."
Passados quinze anos sobre a primeira edição, Ser Solidário acaba por reencontrar em CD o formato original, com o F.M.I. como estação derradeira de uma viagem proposta ao longo das restantes quinze canções, compostas em parte entre 1979 e 1980, e onde diversos géneros musicais se cruzam e fundem, como num caleidoscópio, da balada urbana ao rock, passando pelo Jazz, a marcha, o fado, a chula:
"Travessia do Deserto": inspirada num poema de Sophia de Mello Breyner e escrita em 1977 para a peça "Em Maio", da Comuna;
"Queixa das Almas Jovens Censuradas": composta no exílio, em Paris, sobre um poema de Natália Correia, e integrada em 1971 no álbum "Mudam-se os Tempos, Mudam-se as Vontades";
"Vá, Vá...": também composta em Paris. "É uma reacção radical minha, no exílio, ao que se poderia chamar os defeitos dos intelectuais de esquerda de café" ("Público", 14/2/96). Vã-Vá, nome de um célebre café da Avenida de Roma, dá o mote e o título;
"A Morte Nunca Existiu": de novo o belíssimo poema de António Joaquim Lança, já incluído no álbum "Margem de Certa Maneira", em 1972, mas agora com novos arranjos;
"Fado da Tristeza": o primeiro de dois fados incluídos no disco. "A minha primeira parceria a sério com Manuela de Freitas";
"Fado Penélope": escrito e musicado por José Mário Branco, regista a sua reconciliação com um género musical, o fado, que por influência de Fernando Lopes Graça ele sempre desprezara.
"Qual é a Tua, ó Meu?": um tema onde nomes de ruas e bairros lisboetas configuram uma marcha popular quase brejeira num elogio à liberdade;
"Eu Vim de Longe, eu Vou p'ra Longe (Chulinha)": composta já no contexto do Teatro do Mundo, em 1979, é uma espécie de retraio pragmático do percurso político do cantor, das suas crenças e desilusões; um dos temas mais repetidos à data da edição do LP, em concertos ou na rádio;
"Inquietação": escrita ainda na Comuna, na fase de ensaios da peça "Homem Morto, Homem Posto", em 1979;
"Não te Prendas a uma Onda Qualquer": composta sobre um poema de Brecht, em 1978, para a peça "Homem Morto, Homem Posto", da Comuna;
"Linda Olinda": uma brincadeira onomatopaica escrita por Mário Jorge Bonito, em Paris, e musicada por José Mário Branco; a "linda Olinda" é Cucha Carvalheiro, actriz de teatro e amiga de ambos;
"Treze Anos, Nove Meses": outro balanço, desta vez do primeiro casamento do cantor, no momento em que ele chegava ao fim (o título corresponde ao tempo que durou a relação); letra e música foram escritas de um fôlego, numas férias em Odeceixe, em 1977;
"Sopram Ventos Adversos": mais um poema de Manuela de Freitas, preexistente à sua passagem a canção; o tema "Maiden Voyage", de Herbie Hancock, foi integrado na música por sugestão de Trindade Santos;
"Eu Vi Este Povo a Lutar": texto militante, música épica, bombos e timbalões a marcarem o compasso; canção escrita originalmente para o filme "A Confederação", de Luís Galvão Teles, estreado em 1978;
"Ser Solidário": composta também durante o período de trabalho com a Comuna, ao mesmo tempo que "Inquietação". É o corolário sofrido e consciente dos "ventos adversos", das "inquietações" latentes, das raivas soltas. " Ser solidário assim, pr'além da vida/ Por dentro da distância percorrida/ fazer de cada perda uma raiz/ E improvavelmente ser feliz".
Em Dezembro de 1982, numa entrevista à revista "Mundo da Canção", José Mário Branco insistia na ideia de que este disco "encerra realmente um ciclo. Por isso ele é tão heterogéneo, tão multi-estilístico. É, como eu tenho dito, um disco repositório de experiências, um disco património."
E será também, para quem assim o entenda e queira, um testemunho essencial à compreensão das contradições e ansiedades de uma geração que fez do radicalismo de esquerda bandeira e que, mais tarde, da descrença nele guardou as dores e cicatrizes de um estado de alma. Uma inquietação permanente, como diz o cantor: "Há sempre qualquer coisa que eu tenho de fazer/ Qualquer coisa que eu devia resolver/ Porquê, não sei/ Mas sei/ Que essa coisa... é que é linda".»
Encontrei este texto neste sítio.
Então cá vai: «Há momentos, na vida de todos os dias, em que pessoas e coisas parecem confluir para um ajuste de contas com a História. 1980 foi um ano pródigo em momentos assim, limiar de décadas e de mundos em mudança. Nele perderam a vida Sartre e Lennon, o arcebispo Óscar Romero e o marechal Tito, Marcello Caetano e Sá Carneiro. Cada morte a encerrar pequenos ciclos, a desfazer encruzilhadas ou, como no caso da Jugoslávia pós-Tito, a reacender longínquas faúlhas de guerra.
Ser Solidário revela-se ao mundo na voragem desses dias. Na noite de 21 de Novembro de 1980, nove anos depois do lançamento histórico de Mudam-se os Tempos, Mudam-se as Vontades, o cantor e compositor José Mário Branco sobe ao palco do Teatro Aberto, em Lisboa, para a estreia de um novo espectáculo musical. Vestido de branco, silhueta recortada na penumbra da sala, começa por cantar, dedilhando a guitarra: "Que caminho tão longo!/ que viagem tão comprida! / que deserto tão grande/ sem fronteira nem medida!/ águas do pensamento/ vinde regar o sustento/ da minha vida." Um caminho aberto em Paris, continuado no Portugal revolucionário de 74/75, desgastado entre a música e a política por sucessivas desilusões no final da década de 70.
E, sempre presente, o teatro. Não aquele, palco passageiro onde agora cantava, mas outros, onde nos últimos anos tinha empregue muito do seu esforço criativo: a Comuna, primeiro; o Teatro do Mundo, depois. Da Comuna acabara por sair em Janeiro de 1979, solidário com um grupo de actores então expulsos por divergências de estratégia e reportório. O Teatro do Mundo, fundara-o pouco depois da cisão, a 23 de Janeiro desse ano, juntamente com outros actores vindos da Comuna: Manuela de Freitas, Jean-Pierre Taillade, Fernanda Neves, Gabriela Morais. E ainda Cucha Carvalheiro, actriz que José Mário Branco já conhecia do exílio em França, e António Branco, sobrinho do cantor. Por graça, na estreia de Ser Solidário, ele não resistiu a dizer que demorara dois anos a atravessar a Praça de Espanha (o Teatro Aberto ficava mesmo em frente do casarão cor-de-rosa da Comuna, do outro lado da praça). Dois anos de travessia do deserto, à semelhança do que diz a canção (composta para uma peça da Comuna), mas também de introspecção e febre criativa.
Mas Ser Solidário tinha sido pensado para estrear como disco — este, que agora se reedita, com 15 temas mais o F.M.I. — e não propriamente como espectáculo. Pronta em Março de 79, a maqueta circulou pelas editoras sem que nenhuma lhe pegasse. José Mário Branco e o Teatro do Mundo pensaram então em levá-lo aos palcos. Esperaram até Setembro de 1980 e, como o disco se mostrasse inviável, montaram o espectáculo. Disponível a sala do Teatro Aberto, planearam doze actuações com uma sequência rara em espectáculos do género: quintas, sextas e sábados às 21h45 e domingos às 18h30.
Da ficha de Ser Solidário, produzido pelo Teatro do Mundo com direcção artística de Trindade Santos, constavam os nomes de Júlio Pereira (cordas), Pedro Luís (teclados), Rui Cardoso (sopros), Zé da Cadela (bateria) e José Mário Branco (cordas e voz). Nos coros, estavam Fernanda Neves (actriz no Teatro do Mundo), António Branco e Gustavo Sequeira (membros do Quarteto Música em Si, que em Março de 1980 se apresentara no Festival RTP da Canção com "Esta Página em Branco" — cujo arranjo, assinado por José Mário Branco, foi elogiado pelos críticos, referindo-se ao seu autor como "um dos mais originais, sensíveis e competentes orquestradores portugueses").
Mas voltemos ao palco do Teatro Aberto. Naqueles dias de Novembro, a sala esgotou a lotação. Um êxito de bilheteira, entradas a 150$00 para um espectáculo com um orçamento de produção na casa dos 500 contos. Quanto ao disco, recusado no circuito comercial, foi posta a circular uma carta-cupão onde se propunha um original contrato com o público: "Quer você ajudar a produzir o meu próximo LP?", escrevia José Mário Branco na carta, para quem o quisesse ler. "Bastará que o compre já, ao preço barato de 500$00, que sinta alguma razão para nos confiar essa quantia, e que possa esperar dois ou três meses para ter nas suas mãos o duplo álbum Ser Solidário." Esperariam cerca de ano e meio, mas nenhum dos subscritores do cupão (perto de 800), preenchido à saída do espectáculo ou por via de publicação graciosa em jornais e revistas, se mostrou muito incomodado com o atraso. E quando finalmente o disco viu a luz do dia, a 14 de Abril de 1982, a ocasião foi celebrada com um único que superlotou a sala da Aula Magna da Reitoria da Universidade de Lisboa. De novo a travessia do deserto, a raiva e a esperança, o exorcizar de velhos fantasmas, a evidência da morte no ciclo da vida. E a certeza de ter cumprido uma meta, fechado um ciclo geracional. Falando sobre o disco, disse ele então ao "Expresso" (9/4/82): "Ser Solidário é uma obra feita já a olhar para a frente, embora não fale daquilo para que está a olhar. Mas fala de tal maneira definitivamente que encerra mesmo um ciclo, pelo menos no que diz respeito à minha obra. Mas não só. Talvez tenha sido eu - e digo-o sem vaidade, com a maior lucidez possível - a tomar a iniciativa de encerrar um ciclo aberto há dez anos com Mudam-se os Tempos, Mudam-se as Vontades e com as Cantigas do Maio do Zeca Afonso, e que fica encerrado com este álbum. Daqui para a frente já nada poderá ser a mesma coisa."
Ser Solidário, entretanto, continua a esgotar lotações. O espectáculo mantém-se até ao fim da primeira semana de Dezembro, sai de cena e repõe a 15 de Abril de 81. Desta vez em sessões contínuas: todos os dias às 21h30, domingos às 15h00, descanso às segundas. Um horário semelhante ao do teatro. As lotações voltam a esgotar. Por isso, antes de levar o espectáculo em digressão pelo país (onde volta a encher salas e a atrair público), o Teatro do Mundo decide prolongá-lo para além de 30 de Abril com mais três "sessões especiais": a l, 2 e 3 de Maio. E é numa dessas sessões que se procede à gravação, ao vivo, do tema F.M.I. .
Nunca, até Ser Solidário, um cantor se expusera desta maneira. Quem assiste mais do que uma vez ao espectáculo, vê a cena repetir-se, como um ritual, noite após noite. Num crescendo, a música vai conquistando espaço por entre a plateia, rendida em aplausos. Quase duas horas após o início, já num "estado de aquecimento emocional" (como lhe chamou José Mário Branco), o público exige o regresso do cantor ao palco. É então que ele apresenta o tão ansiado F.M.I. . "Um texto que eu escrevi de um só jorro, numa noite de Fevereiro de 1979". Começa irónico, mordaz, a provocar sorrisos de autocomplacência ou assentimento. Mas depressa impõe um pesado silêncio pelo tropel das palavras, o desafio, o insulto. Partindo de um tema que no discurso musical lembra "Talking Union", de Pete Seeger, José Mário Branco evolui para algo muito próximo das invectivas radicais de Ferre ou da ironia provocatóría de Almada Negreiros na "Cena do Ódio". Mas vai mais longe: como numa espiral, a raiva acumulada cede lugar ao choro, ao sussurro, ao desencanto. "Não pode haver razão para tanto sofrimento...", diz, em voz velada, exausto, passada a violenta tempestade de sentimentos contraditórios que o leva a gritar bem alto o seu ódio ao vazio: "Mãe, ó mãe!!/ Eu quero ficar sozinho/ Eu não quero pensar mais./ Mãe, eu quero morrer, mãe/ Quero... desnascer/ Ir-me embora/ sem sequer ter de me ir embora..." Mas a esperança subsiste para lá de todas as tempestades do espírito. E o deserto consente a miragem redentora, a vitória da luz sobre as trevas, o "d" de solidário a afastar o "t" de solitário (trocadilho presente na capa do disco e inspirado num conto de Camus) num abrir de braços para um futuro sem tempo, algures no cosmos: "O meu sonho é a luz que vem do fim do mundo, dos vossos antepassados que ainda não nasceram". Assim, "para lã da vida". "Por sobre a morte". Para concluir, na simplicidade da paz reencontrada: "Dizia, valeu a pena a travessia?... Valeu, pois."
Nascido na ressaca do processo de expulsão da Comuna, com retroactivos por ter sido expulso do PCP(R) em 1979, o F.M.I. surge para José Mário Branco da "necessidade de encontrar um sentido para a vida fora dos clichés ideológicos". E é, tal como a primeira peça do Teatro do Mundo ("A Secreta Família", estreada em Julho de 1979), uma espécie "de vómito" emotivo. "Um texto profundamente confessional e catártico, uma conversa que me é permitida exclusivamente com a gente da minha geração... E na qual as outras gerações (a de antes e a de depois) são só atingidas por tabela" ("Expresso", 9/4/ 82). Daí que, em 1982, o F.M.I. surgisse num disco à parte, em maxi-single, e selado com a seguinte indicação: "Por determinação expressa do autor fica proibida a audição pública, total ou integral, deste disco."
Passados quinze anos sobre a primeira edição, Ser Solidário acaba por reencontrar em CD o formato original, com o F.M.I. como estação derradeira de uma viagem proposta ao longo das restantes quinze canções, compostas em parte entre 1979 e 1980, e onde diversos géneros musicais se cruzam e fundem, como num caleidoscópio, da balada urbana ao rock, passando pelo Jazz, a marcha, o fado, a chula:
"Travessia do Deserto": inspirada num poema de Sophia de Mello Breyner e escrita em 1977 para a peça "Em Maio", da Comuna;
"Queixa das Almas Jovens Censuradas": composta no exílio, em Paris, sobre um poema de Natália Correia, e integrada em 1971 no álbum "Mudam-se os Tempos, Mudam-se as Vontades";
"Vá, Vá...": também composta em Paris. "É uma reacção radical minha, no exílio, ao que se poderia chamar os defeitos dos intelectuais de esquerda de café" ("Público", 14/2/96). Vã-Vá, nome de um célebre café da Avenida de Roma, dá o mote e o título;
"A Morte Nunca Existiu": de novo o belíssimo poema de António Joaquim Lança, já incluído no álbum "Margem de Certa Maneira", em 1972, mas agora com novos arranjos;
"Fado da Tristeza": o primeiro de dois fados incluídos no disco. "A minha primeira parceria a sério com Manuela de Freitas";
"Fado Penélope": escrito e musicado por José Mário Branco, regista a sua reconciliação com um género musical, o fado, que por influência de Fernando Lopes Graça ele sempre desprezara.
"Qual é a Tua, ó Meu?": um tema onde nomes de ruas e bairros lisboetas configuram uma marcha popular quase brejeira num elogio à liberdade;
"Eu Vim de Longe, eu Vou p'ra Longe (Chulinha)": composta já no contexto do Teatro do Mundo, em 1979, é uma espécie de retraio pragmático do percurso político do cantor, das suas crenças e desilusões; um dos temas mais repetidos à data da edição do LP, em concertos ou na rádio;
"Inquietação": escrita ainda na Comuna, na fase de ensaios da peça "Homem Morto, Homem Posto", em 1979;
"Não te Prendas a uma Onda Qualquer": composta sobre um poema de Brecht, em 1978, para a peça "Homem Morto, Homem Posto", da Comuna;
"Linda Olinda": uma brincadeira onomatopaica escrita por Mário Jorge Bonito, em Paris, e musicada por José Mário Branco; a "linda Olinda" é Cucha Carvalheiro, actriz de teatro e amiga de ambos;
"Treze Anos, Nove Meses": outro balanço, desta vez do primeiro casamento do cantor, no momento em que ele chegava ao fim (o título corresponde ao tempo que durou a relação); letra e música foram escritas de um fôlego, numas férias em Odeceixe, em 1977;
"Sopram Ventos Adversos": mais um poema de Manuela de Freitas, preexistente à sua passagem a canção; o tema "Maiden Voyage", de Herbie Hancock, foi integrado na música por sugestão de Trindade Santos;
"Eu Vi Este Povo a Lutar": texto militante, música épica, bombos e timbalões a marcarem o compasso; canção escrita originalmente para o filme "A Confederação", de Luís Galvão Teles, estreado em 1978;
"Ser Solidário": composta também durante o período de trabalho com a Comuna, ao mesmo tempo que "Inquietação". É o corolário sofrido e consciente dos "ventos adversos", das "inquietações" latentes, das raivas soltas. " Ser solidário assim, pr'além da vida/ Por dentro da distância percorrida/ fazer de cada perda uma raiz/ E improvavelmente ser feliz".
Em Dezembro de 1982, numa entrevista à revista "Mundo da Canção", José Mário Branco insistia na ideia de que este disco "encerra realmente um ciclo. Por isso ele é tão heterogéneo, tão multi-estilístico. É, como eu tenho dito, um disco repositório de experiências, um disco património."
E será também, para quem assim o entenda e queira, um testemunho essencial à compreensão das contradições e ansiedades de uma geração que fez do radicalismo de esquerda bandeira e que, mais tarde, da descrença nele guardou as dores e cicatrizes de um estado de alma. Uma inquietação permanente, como diz o cantor: "Há sempre qualquer coisa que eu tenho de fazer/ Qualquer coisa que eu devia resolver/ Porquê, não sei/ Mas sei/ Que essa coisa... é que é linda".»
Encontrei este texto neste sítio.
domingo, 2 de janeiro de 2011
MEMÓRIAS 2000-2010
No meu ponto de vista, a década passada foi marcada pela consolidação e expansão da rede "internet", através dos seguintes suportes: correio electrónico, domínios, sítios, blogues, plataformas de vídeo, redes sociais - Facebook e Twitter. A mim e a muitos pares, estes instrumentos proporcionaram-nos, descobertas e conconcretização de conhecimentos, experiências e gostos, assim como, a partilha com individualidades e colectividades.
No meu caso pessoal, passo a identificar algumas das individualidades, entidades, experiências, conhecimentos e gostos que se atravessaram neste pedaço de vida: Amigos do Cáster, Fotografia, Fotografia de Vida Selvagem, Fotógrafos de Natureza, Fotojornalistas, Formação e Educação, conceitos físicos "Energia", "Trabalho", "Potência", Festa do Avante, Ernesto Che Guevara, Buena Vista Social Club, Douro Abaixo 2004, Sport Lisboa e Benfica, Nick Cave and the Bad Seeds, Rufus Wainright, José Afonso, Sérgio Godinho, Carlos Paredes, Chico Buarque, Tom Jobim, Carlos Alberto Moniz e Maria do Amparo, Victor Jara, Brigada Victor Jara, Cuba - The American Dream, Morrissey, Yeah Yeah Yeahs, Interpol, Pablo Milanés, Silvio Rodriguez, Carlos Puebla, Arcade Fire, Editors, Franz Ferdinand, Digitalism, Maria João e Mário Laginha, Gabriel o Pensador, Tribalistas, Seu Jorge, Vanessa da Mata, Rihanna, Sunshine Underground, The Whip, She Wants Revenge, LCD Sound System, The Killers, The Presets, White Lies, Cansei de Ser Sexy, Spoon, New Young Pony Club, Airborne Toxic Event, Au Revoir Simone, José Mário Branco, Adriano Correia de Oliveira, U2, Gossip, Massive Attack, Mark Lanegan, Fanfarlo, Lykke Li, Gogol Bordello, Cut Copy, MGMT, Santo gold, National, Crystal Castles, Artic Monkeys, Kate Bush, Bloc Party, Tegan and Sara, Klaxons, Ting Tings, Rachid Taha, Ali Farka Touré, Vampire Weekend, M.I.A., Gui Borratto, Air, Radiohead, Fields of the Nephilim, Royksopp, N.A.S.A. (A banda), Bjork, XX, Deolinda, Bravery, Ladytron, ABBA, Shoes, Roman Revutsky, O Children. 2001 Odisseia no Espaço, Apocalypse Now, Dr. Strangelove, Lost in Translation, One Million Dollar Baby, Dário de Motocicleta, Transe de Teresa Villaverde, Stanley Kubrick, Fernando Lopes Graça, Johann Sebastian Bach, Wilhelm Richard Wagner, Richard Strauss, Johann Pachelbel, Charles-François Gounod, Antonio Lucio Vivaldi, Franz Schubert, Tomaso Giovanni Albinoni, Giacomo Puccini, Samuel Barber, Carlos Pinto Coelho.
Não pretendendo apagar parte do passado, retiro lições e deixo para trás, aspectos pessoais, profissionais e físicos que não correram bem.
No meu caso pessoal, passo a identificar algumas das individualidades, entidades, experiências, conhecimentos e gostos que se atravessaram neste pedaço de vida: Amigos do Cáster, Fotografia, Fotografia de Vida Selvagem, Fotógrafos de Natureza, Fotojornalistas, Formação e Educação, conceitos físicos "Energia", "Trabalho", "Potência", Festa do Avante, Ernesto Che Guevara, Buena Vista Social Club, Douro Abaixo 2004, Sport Lisboa e Benfica, Nick Cave and the Bad Seeds, Rufus Wainright, José Afonso, Sérgio Godinho, Carlos Paredes, Chico Buarque, Tom Jobim, Carlos Alberto Moniz e Maria do Amparo, Victor Jara, Brigada Victor Jara, Cuba - The American Dream, Morrissey, Yeah Yeah Yeahs, Interpol, Pablo Milanés, Silvio Rodriguez, Carlos Puebla, Arcade Fire, Editors, Franz Ferdinand, Digitalism, Maria João e Mário Laginha, Gabriel o Pensador, Tribalistas, Seu Jorge, Vanessa da Mata, Rihanna, Sunshine Underground, The Whip, She Wants Revenge, LCD Sound System, The Killers, The Presets, White Lies, Cansei de Ser Sexy, Spoon, New Young Pony Club, Airborne Toxic Event, Au Revoir Simone, José Mário Branco, Adriano Correia de Oliveira, U2, Gossip, Massive Attack, Mark Lanegan, Fanfarlo, Lykke Li, Gogol Bordello, Cut Copy, MGMT, Santo gold, National, Crystal Castles, Artic Monkeys, Kate Bush, Bloc Party, Tegan and Sara, Klaxons, Ting Tings, Rachid Taha, Ali Farka Touré, Vampire Weekend, M.I.A., Gui Borratto, Air, Radiohead, Fields of the Nephilim, Royksopp, N.A.S.A. (A banda), Bjork, XX, Deolinda, Bravery, Ladytron, ABBA, Shoes, Roman Revutsky, O Children. 2001 Odisseia no Espaço, Apocalypse Now, Dr. Strangelove, Lost in Translation, One Million Dollar Baby, Dário de Motocicleta, Transe de Teresa Villaverde, Stanley Kubrick, Fernando Lopes Graça, Johann Sebastian Bach, Wilhelm Richard Wagner, Richard Strauss, Johann Pachelbel, Charles-François Gounod, Antonio Lucio Vivaldi, Franz Schubert, Tomaso Giovanni Albinoni, Giacomo Puccini, Samuel Barber, Carlos Pinto Coelho.
Não pretendendo apagar parte do passado, retiro lições e deixo para trás, aspectos pessoais, profissionais e físicos que não correram bem.
ORIGEM
FALA DO HOMEM NASCIDO
Interprete: Adriano Correia de Oliveira
Poema: António Gedeão
Música: José Nisa
Ver vídeo: aqui
Venho da terra assombrada,
Do ventre de minha mãe;
Não pretendo roubar nada
Nem fazer mal a ninguém.
Só quero o que me é devido
Por me trazerem aqui,
Que eu nem sequer fui ouvido
No acto de que nasci.
Trago boca para comer
E olhos para desejar.
Tenho pressa de viver,
Que a vida é água a correr.
Venho do fundo do tempo;
Não tenho tempo a perder.
Minha barca aparelhada
Solta o pano rumo ao norte;
Meu desejo é passaporte
Para a fronteira fechada.
Não há ventos que não prestem
Nem marés que não convenham,
Nem forças que me molestem,
Correntes que me detenham.
Quero eu e a Natureza,
Que a Natureza sou eu,
E as forças da Natureza
Nunca ninguém as venceu.
Com licença! Com licença!
Que a barca se fez ao mar.
Não há poder que me vença.
Mesmo morto hei-de passar.
Com licença! Com licença!
Com rumo à estrela polar.
(in "Cantaremos", Orfeu, 1970, reed. Movieplay, 1999)
Interprete: Adriano Correia de Oliveira
Poema: António Gedeão
Música: José Nisa
Ver vídeo: aqui
Venho da terra assombrada,
Do ventre de minha mãe;
Não pretendo roubar nada
Nem fazer mal a ninguém.
Só quero o que me é devido
Por me trazerem aqui,
Que eu nem sequer fui ouvido
No acto de que nasci.
Trago boca para comer
E olhos para desejar.
Tenho pressa de viver,
Que a vida é água a correr.
Venho do fundo do tempo;
Não tenho tempo a perder.
Minha barca aparelhada
Solta o pano rumo ao norte;
Meu desejo é passaporte
Para a fronteira fechada.
Não há ventos que não prestem
Nem marés que não convenham,
Nem forças que me molestem,
Correntes que me detenham.
Quero eu e a Natureza,
Que a Natureza sou eu,
E as forças da Natureza
Nunca ninguém as venceu.
Com licença! Com licença!
Que a barca se fez ao mar.
Não há poder que me vença.
Mesmo morto hei-de passar.
Com licença! Com licença!
Com rumo à estrela polar.
(in "Cantaremos", Orfeu, 1970, reed. Movieplay, 1999)
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