quinta-feira, 29 de agosto de 2013

CORREDOR ECOLÓGICO

«Galerias ribeirinhas mediterrânicas – oásis lineares
A vegetação ribeirinha de rios mediterrânicos estrutura-se em faixas de largura reduzida, com uma identidade muito distinta das áreas envolventes. Conheça estes `oásis lineares´, com grande importância na funcionalidade dos ecossistemas fluviais.

As galerias ribeirinhas – identidade, estrutura e composiçãoUm dos elementos que mais se destacam na paisagem mediterrânica é a rede de sistemas fluviais, distinguida por um gradiente cromático abrupto entre o verde das galerias ribeirinhas e os matos e montados das áreas envolventes. Este contraste é sobretudo evidente nas estações do ano menos pluviosas e em zonas de agricultura de sequeiro ou de matos mediterrânicos.
Estes corredores de vegetação constituem um sistema de interface entre o meio aquático e o meio terrestre (ecótono), com uma identidade florística e estrutural caracterizada pela ocorrência de espécies adaptadas a regimes torrenciais e intermitentes de caudais. Estas características são particularmente evidentes em sistemas fluviais do Centro e Sul da Península Ibérica, onde os corredores ripários são considerados habitats de excepção – “oásis lineares” - numa feliz expressão de González-Bernáldez et al. (1989).
De facto, nas regiões de clima mediterrânico, a vegetação ribeirinha, incluindo a sua componente lenhosa é constrangida por factores hidrológicos, geológicos, climáticos e de uso do solo, estruturando-se em faixas de largura reduzida, frequentemente com menos de 10 metros. Nestas regiões, as expressões galeria ribeirinha ou galeria ripícola assumem a sua verdadeira acepção, uma vez que está implícita a maior importância da dimensão longitudinal face à lateral. Em oposição, as florestas ribeirinhas de regiões com climas tropicais e sub-tropicais possuem uma elevada densidade e extensão lateral, chegando a atingir várias centenas de metros. O termo floresta-galeria deve ser reservado para nomear estas formações. Por sua vez, os bosques ribeirinhos de climas temperados húmidos apresentam um desenvolvimento lateral intermédio, havendo referência a formações lenhosas em zonas aluvionares com cerca de 150 metros de desenvolvimento lateral.
As formações lenhosas típicas dos cursos de água temporários, de regime torrencial e sujeitos a acentuada secura estival (variante mais “rica” do clima mediterrânico) são dominadas por espécies de folha persistente, como o loendro (Nerium oleander), ou com adaptações à secura, como o tamujo (Flueggea tinctoria) e a tamargueira (Tamarix africana). Nestas regiões, de características semi-áridas, a componente herbácea tem uma expressão muito reduzida em termos de cobertura/abundância, mas continua a existir uma riqueza florística relativamente elevada, da ordem das 20-30 espécies recenseadas na área inundável de Inverno, a maior parte sob o copado arbustivo.

Em linhas de água de carácter permanente ou torrencial com menor estiagem, estas espécies são substituídas por bosques caducifólios, como os amiais (amieiros, Alnus glutinosa), salgueirais arbóreo-arbustivos, freixiais (freixos, Fraxinus angustifolia), e mais raramente olmedos (ulmeiros, Ulmus minor), muito dependentes da cambiante edáfica e geomorfológica.
Embora existam formações monoespecíficas, ou seja, amplamente dominadas por uma dada espécie lenhosa, nestes bosques ribeirinhos é frequente encontrar uma zonação transversal na composição da flora lenhosa, dependente do gradiente de humidade, com espécies adaptadas às condições geomorfológicas e edafo-climáticas, e reflectindo em maior ou menor grau a alteração do sistema. Num sistema menos modificado, é frequente ocorrer uma primeira banda de amieiros e/ou salgueiros, seguida de freixos e choupos-negros (Populus nigra). São também frequentes no sub-bosque o pilriteiro (Crataegus monogyna), o sabugueiro (Sambucus nigra), sanguinho-de-água (Frangula alnus), o loureiro (Laurus nobilis). Em contraste, no nosso país, em rios de pequena dimensão e nas zonas montanhosas do Noroeste e Norte-Centro do país (e.g. Serras da Estrela, Peneda, Gerês), surgem sobretudo formações arbustivas dominadas por urze branca (Erica arbórea) e acompanhadas por sanguinho-de-água.
Em sistemas mais perturbados, há uma perda de conectividade longitudinal por fragmentação dos corredores ripários, e uma maior pobreza florística, com intrusão de espécies exóticas, como espécies do género Acácia, a cana (Arundo donax), o ailanto (Ailanthus altíssima), que chegam a formar cordões monoespecíficos. Em locais com grande perturbação física, as silvas, sobretudo a espécie Rubus ulmifolius, apresentam grande cobertura, quer na orla das formações ribeirinhas, quer penetrando no seu interior, ou mesmo substituindo as formações arbustivas em rios de pequena dimensão.

A componente herbácea sob coberto é muito variada, albergando espécies com vários graus de associação ao meio aquático, desde espécies emergentes (ou helófitas) tolerantes à oscilação do nível de água, como os juncos, junças e tabúas, até às espécies higrófitas, espécies que têm como habitat preferencial locais com grande humidade, mas estabelecidas geralmente em substratos não alagados, como por exemplo as espécies do géneros Mentha, Myosotis, Polygonum, Lythrum, e várias espécies de musgos, hepáticas e pteridófitos. Uma característica deste tipo de sistemas é a penetração de espécies terrestres, sendo frequente encontrar um elenco florístico terrestre superior ao das espécies associadas ao meio aquático.
A perturbação e uso antropogénico dos sistemas fluviais, quer no leito, quer nas margens ou nas zonas envolventes é uma constante nos sistemas fluviais da Península Ibérica, sem excepção para os rios de carácter mediterrânico. Esta degradação reflecte-se numa homogeneização florística e na intrusão de espécies ruderais (i.e. próprias de sítios artificializados, como margens de caminhos, entulheiras), espécies adventícias (fugidas de culturas) e nitrófilas (estabelecem-se preferencialmente em habitats ricos em nutrientes).
Para além da influência dos grandes gradientes regionais climáticos e da perturbação humana, as espécies ribeirinhas distribuem-se diferentemente ao longo do perfil longitudinal dos rios, em resultados da variabilidade geográfica (e.g. altitude, declive, topografia) e local (e.g. largura do canal, tipo de substrato). Assim, zonas de cabeceira de vales encaixados e substratos rochosos, suportam geralmente comunidades de fraca complexidade e de estrutura arbustiva ou herbácea. Os troços a jusante, com leitos de cheia frequentemente aluvionares e de solos mais profundos e enriquecidos em nutrientes, permitem o estabelecimento de comunidades de estrutura e composição mais complexa.

Funções e atributos das galerias ribeirinhas
Numerosas funções físicas, biológicas, ecológicas, sociais e económicas são atribuídas às galerias ribeirinhas, estando muitas vezes relacionadas entre si e dependentes do tipo de espécies presentes e da integridade das galerias, traduzida em aspectos como a continuidade, o número de estratos, a densidade, a estrutura etária.
Uma das funcionalidades mais referenciadas é a de suporte ecológico de comunidades bióticas é a promoção da biodiversidade. Várias espécies de mamíferos, insectos, aves, macroinvertebrados aquáticos, peixes, anfíbios, entre outros, utilizam e dependem directa ou indirectamente das galerias ribeirinhas nas suas várias vertentes: habitat, repouso, refúgio, reprodução e alimentação. Para estas funções, contribuem atributos específicos que favorecem uma maior complexidade estrutural e biológica das galerias, como a heterogeneidade florísitica, a renovação sazonal ou desfasada da folhagem (espécies caducifólias e/ou perenifólias), a “contínua” incorporação no sistema de materiais orgânicos, a existência de estratégias diversas de reprodução, propagação e dispersão, a elevada produtividade e elevada eficiência no uso da água. Por outro lado, a natureza linear das galerias contribui para a função de “corredor ecológico”, conectando populações e permitindo a migração de indivíduos no seu interior. Este aspecto está amplamente dependente de factores estruturais, como a largura da galeria, o modo de ocupação do espaço aéreo (ou seja, a distribuição de estratos) e radicular, a heterogeneidade florística e a continuidade longitudinal.
As funções físicas são também de enorme importância em climas mediterrânicos, assegurando a retenção de sedimentos provenientes da elevada erosão hídrica decorrente do regime torrencial de caudais e contribuindo para a estabilização das margens. A situação de interface entre dois sistemas – o meio aquático e o terrestre – permite a actuação das galerias como zona-tampão (ou filtro biológico) de nutrientes e substâncias tóxicas provenientes de actividades agrícolas e industriais das áreas confinantes, além de incorporar material e organismos de ambos os ecossistemas. Não menos importante, a regulação biofísica do meio, com efeitos na moderação do crescimento excessivo de algas e espécies eutróficas, na protecção das comunidades e do meio aquático, proporciona amenidade climática em relação a temperatura, vento e luminosidade excessivas.
Outras funcionalidades menos visíveis são as de âmbito social e económico. No contexto sócio-cultural, contam-se as funções recreativas e educativas, como a melhoria da qualidade cénica da paisagem, fornecendo um gradiente cromático e textural esteticamente aprazível, e a oferta de áreas de lazer, de turismo de natureza e de educação ambiental (percursos pedestres, visitas temáticas).
O valor económico das galerias estende-se para além do uso da madeira, estando referenciadas uma multiplicidade de usos. Nas espécies lenhosas, para além do uso da madeira, algumas espécies são melíferas como o ulmeiro e o pilriteiro, outras têm folhagem com bom aproveitamento para forragem como o freixo e ulmeiro, ou podem ser usadas em doçaria, como é o caso do uso dos frutos de sabugueiro, no fabrico de bebidas alcoólicas (pilriteiro), medicamentos (e.g. choupo-negro, sabugueiro, tamujo, salgueiros) e até em tinturaria (tamujo, loendro). Mais conhecido é o uso dos ramos de alguns salgueiros (Salix sp.), do choupo-negro e do sanguinho-de-água em cestaria. São também numerosos os exemplos de utilizações económicas das espécies ribeirinhas herbáceas, sobretudo a nível cosmético (e.g. erva-sabão, Saponaria officinalis), medicinal (e.g. hipericão, Hypericum sp.), na alimentação (e.g. poejo, Mentha pulegium) ou como melíferas (e.g. verbena, Verbena officinalis). Em oposição, um valor que se rege por ópticas não economicistas é o puramente eco-cêntrico ou eco-altruísta, encarando estes sistemas pelo seu valor ecológico único, numa perspectiva conservacionista, visando a protecção de espécies, da biodiversidade e de habitats.

Conservação, gestão e requalificaçãoAs galerias mediterrânicas têm uma importância desproporcionada em relação à pequena área que ocupam, sendo essencial a sua conservação, gestão ou requalificação/restauro. A protecção e conservação são processos preferíveis à requalificação dos sistemas fluviais, mas nem sempre é possível reformular acções de protecção e gestão sustentável em sistemas com grandes desvios ecológicos dos sistemas naturais. O restauro destes ecossistemas é um processo complexo e dinâmico, que envolve a integração e conhecimento de um vasto conjunto de processos hidrológicos, geomorfológicos, edáficos, microclimáticos e biológicos.
O conhecimento dos padrões de composição e estrutura das galerias ribeirinhas assume um papel primário no restauro das formações lenhosas ribeirinhas, a par da avaliação e monitorização da qualidade ecológica dos sistemas fluviais. Não é raro observar a plantação de espécies exóticas ao longo de cursos de água, no sentido de “recuperar” a vegetação, ou a introdução de espécies sem atender às suas preferências habitacionais, edafo-climáticas e aos padrões biogeográficos. Por outro lado, a requalificação não pode ter o objectivo insensato de retorno à situação pristina, impraticável e insustentável do ponto de vista científico, económico e ecológico. O ecossistema ripário restaurado de forma adequada deve possuir capacidade de auto-sustentabilidade estrutural e funcional, e demonstrar resiliência à variabilidade natural, além de garantir a ligação entre os ecossistemas aquático e terrestre e a manutenção das funções, serviços e atributos que desempenharia em condições ditas naturais (i.e. minimamente perturbadas).
A Directiva Quadro da Água da União Europeia (DQA; 2000/60/EC) constitui de momento, o principal instrumento da política comunitária relativa à água, estando já transposta para a legislação nacional (Lei da Água, Lei nº 58/2005 de 29 de Dezembro, complementada pelo Dec. Lei nº 77/2006 de 30 de Março). A gestão e recuperação de sistemas fluviais estão aqui contempladas, estando prevista a recuperação e monitorização de sistemas fluviais degradados, de modo a atingir uma boa qualidade ecológica até 2015. Urge, assim, uma tomada de consciência por parte de gestores, técnicos, consultores, e decisores na aplicação dos conhecimentos técnicos e científicos sobre os processos fluviais e a flora ribeirinha na recuperação de ecossistemas degradados. Por outro lado, é necessário reconhecer que cada acção de restauro tem um carácter único e integrador dos ecossistemas envolventes, necessitando de uma gestão abrangente e dinâmica, devidamente regulada pela monitorização da qualidade ecológica.


Documentos Recomendados
 
FONTE: Naturlink

MATARÓN A CHAVEZ

«Rebelión.org /Aporrea.org.- El escritor, político y filósofo indicó que desde principios de la década de los 70, la CIA ha desarrollado tecnologías para inocular células cancerígenas o para generar infartos en enemigos políticos.

El escritor, político y filósofo argentino Atilio Borón señaló que cada vez se encuentra más convencido que la muerte del Comandante Supremo Hugo Chávez, fue el resultado de un magnicidio preparado por los Estados Unidos.
Aseguró que la Agencia Central de Inteligencia (CIA) norteamericana desde principios de la década de los 70 desarrolla tecnologías para inocular células cancerígenas o para generar infartos a sus enemigos políticos.
“Con los avances tecnológicos que ha habido a mi no me cabe duda que esta gente tuvo que haber desarrollado un vector, para generar procesos cancerígenos a través de células malignas”, dijo.
Precisó durante una entrevista en el programa Contragolpe que transmite Venezolana de Televisión, que una fuente científica confiable le confesó que existe un método donde se pueden activar procesos de radiación de células malignas, contenidas en un micrófono, que al ser colocado frente al jefe de Estado podría ser activado desde alguna especie de centro de comando para introducir las partículas microscópicas letales.
En este sentido, instó a los Presidentes de las naciones progresistas de Latinoamérica a que sean más cuidadosos y extremas las medidas de precaución.
“Creo que mataron a Chávez, cada día estoy más convencido y creo que van a seguir matando (…) pueden continuar con el presidente (Nicolás) Maduro, con Evo (Morales) y (Rafael) Correa”, advirtió el ganador del Premio Libertador al Pensamiento Crítico.
“Hay que trabajar con los mejores científicos que están moviéndose en todo este tema de las ciencias biológicas, para ver cómo desarrollamos mecanismos anticuerpos que permitan neutralizar esas armas”, puntualizó.
Exhortó a las autoridades a que se adelante una minuciosa investigación, en aras de determinar la presunta responsabilidad de los EEUU en las causas de la enfermedad que causó la desaparición física del líder de la Revolución Bolivariana.
 
ES POSIBLE LA INOCULACIÓN DEL CÁNCER
 
En un trabajo publicado por el periodista y ensayista español Pascual Serrano en la página web Rebelion.org, se cita el testimonio del doctor Carlos Cardona, médico especialista en oncología molecular, que ha estado 16 años investigando esta enfermedad en universidades tan prestigiosas como Cambridge y Birmingham , en Inglaterra, o en el Centro de Investigación del Cáncer Fred Hutchinson de Seattle, donde hicieron el trasplante de médula ósea al tenor José Carreras.
En unas declaraciones al diario ABC Cardona afirma que “al contrario de lo que piensa mucha gente, técnicamente es posible que el cáncer que terminó con la vida de Hugo Chávez fuera inoculado con la intención de asesinarle” (ABC, 15-3-2013).
En dicho trabajo se asegura que “tan solo hace falta una inyección puesta en cualquier parte del cuerpo cuyo contenido llegue a la sangre”.
Una de las formas -señaló el investigador- sería “inyectar líneas celulares de un tumor que conoces previamente, incluso de pacientes que murieron hace 50 años; a través de un oncovirus, es decir, un virus que tú has preparado y que lleva los genes de tumores supresores que se introducen en las células y producen el cáncer, o inyectando directamente carcinógenos químicos”.
“Si Chávez, por ejemplo, hubiera ido al dentista, éste podría haberle puesto una anestesia y después inocularle un oncovirus o un carcinógeno. El paciente no se va a enterar y al cabo de varios meses puede desarrollar el cáncer.
Hay carcinógenos químicos que son específicos de un órgano y otros generalizados que provocan cáncer de manera discriminada. Los hay, por ejemplo, que pueden provocan el cáncer en la zona pélvica, que es donde afectó a Chávez.»
FONTE: Cubainformación

ESA ESTA CRECIENDO

«Discurso del Comandante Che Guevara en la Asamblea General de las Naciones Unidas
12 de diciembre de 1964


Señor Presidente,
Señores Delegados:
La representación de Cuba ante esta Asamblea se complace en cumplir, en primer término, el agradable deber de saludar la incorporación de tres nuevas naciones al importante número de las que aquí discuten problemas del mundo. Saludamos, pues, en las personas de su Presidente y Primeros Ministros, a los pueblos de Zambia, Malawi y Malta y hacemos votos porque estos países se incorporen desde el primer momento al grupo de naciones no alineadas que luchan contra el imperialismo, el colonialismo y el neocolonialismo.
Hacemos llegar también nuestra felicitación al Presidente de esta Asamblea, cuya exaltación a tan alto cargo tiene singular significación, pues ella refleja esta nueva etapa histórica de resonantes triunfos para los pueblos de Africa, hasta ayer sometidos al sistema colonial del imperialismo y que hoy, en su inmensa mayoría, en el ejercicio legítimo de su libre determinación, se han constituido en Estados soberanos. Ya ha sonado la hora postrera del colonialismo y millones de habitantes de Africa, Asia y América Latina se levantan al encuentro de una nueva vida e imponen su irrestricto derecho a la autodeterminación y el desarrollo independiente de sus naciones. Le deseamos, Señor Presidente, el mayor de los éxitos en la tarea que le fuera encomendada por los países miembros. 
Cuba viene a fijar su posición sobre los puntos más importantes de controversia y lo hará con todo el sentido de la responsabilidad que entraña el hacer uso de esta tribuna, pero, al mismo tiempo, respondiendo al deber insoslayable de hablar con toda claridad y franqueza.
Quisiéramos ver desperezarse a esta Asamblea y marchar hacia adelante, que las Comisiones comenzaran su trabajo y que éste no se detuviera en la primera confrontación. El imperialismo quiere convertir esta reunión en un vano torneo oratorio en vez de resolver los graves problemas del mundo; debemos impedírselo. Esta Asamblea no debiera recordarse en el futuro sólo por el número XIX que la identifica. A lograr ese fin van encaminados nuestros esfuerzos.
Nos sentimos con el derecho y la obligación de hacerlo debido a que nuestro país es uno de los puntos constantes de fricción, uno de los lugares donde los principios que sustentan los derechos de los países pequeños a su soberanía están sometidos a prueba día a día, y minuto a minuto y, al mismo tiempo, una de las trincheras de la libertad del mundo situada a pocos pasos de imperialismo norteamericano para mostrar con su acción, con su ejemplo diario, que los pueblos sí pueden liberarse y sí pueden mantenerse libres en las actuales condiciones de la humanidad. Desde luego, ahora existe un campo socialista cada día más fuerte y con armas de contención más poderosas. Pero se requieren condiciones adicionales para la supervivencia: mantener la cohesión interna, tener fe en los propios destinos y decisión irrenunciable de luchar hasta la muerte en defensa del país y de la revolución. En Cuba se dan esas condiciones, Señores Delegados.
 
De todos los problemas candentes que deben tratarse en esta Asamblea, uno de los que para nosotros tiene particular significación y cuya definición creemos debe hacerse en forma que no deje dudas a nadie, es el de la coexistencia pacífica entre Estados de diferentes regímenes económico-sociales. Mucho se ha avanzado en el mundo en este campo; pero el imperialismo -norteamericano sobre todo- ha pretendido hacer creer que la coexistencia pacífica es de uso exclusivo de las grandes potencias de la tierra. Nosotros expresamos aquí lo mismo que nuestro Presidente expresara en El Cairo y lo que después quedara plasmado en la declaración de la Segunda Conferencia de Jefes de Estado o de Gobierno de países No Alineados: que no puede haber coexistencia pacífica entre poderosos solamente, si se pretende asegurar la paz del mundo. La coexistencia pacífica debe ejercitarse entre todos los Estados, independientemente de su tamaño, de las anteriores relaciones históricas que los ligara y de los problemas que se suscitaren entre algunos de ellos, en un momento dado.
Actualmente, el tipo de coexistencia pacífica a que nosotros aspiramos no se cumple en multitud de casos. El reino de Cambodia, simplemente por mantener una actitud neutral y no plegarse a las maquinaciones del imperialismo norteamericano se ha visto sujeto a toda clase de ataques alevosos y brutales partiendo de las bases que los yanquis tienen en Viet Nam del Sur. Laos, país dividido, ha sido objeto también de agresiones imperialistas de todo tipo, su pueblo masacrado desde el aire, las convenciones que se firmaran en Ginebra han sido violadas y parte del territorio está en constante peligro de ser atacado a mansalva por las fuerzas imperialistas. La República Democrática de Viet Nam, que sabe de todas estas historias de agresiones como pocos pueblos en la tierra, ha visto una vez más violadas sus fronteras, ha visto como aviones de bombardeo y cazas enemigos disparaban contra sus instalaciones; como los barcos de guerra norteamericanos, violando aguas territoriales, atacaban sus puesto navales. En estos instantes, sobre la República Democrática de Viet Nam pesa la amenaza de que los guerreristas norteamericanos extiendan abiertamente sobre su territorio y su pueblo la guerra que, desde hace varios años, están llevando a cabo contra el pueblo de Viet Nam del Sur. La Unión Soviética y la República Popular China, han hecho advertencias serias a los Estados Unidos. Estamos frente a un caso en el cual la paz del mundo está en peligro, pero, además, la vida de millones de seres de toda esta zona del Asia está constantemente amenazada, dependiendo de los caprichos del invasor norteamericano.
La coexistencia pacífica también se ha puesto a prueba en una forma brutal en Chipre debido a presiones del gobierno turco y de la OTAN, obligando a una heroica y enérgica defensa de su soberanía hecha por el pueblo de Chipre y su gobierno.
En todos estos lugares del mundo, el imperialismo trata de imponer su versión de lo que debe ser la coexistencia; son los pueblos oprimidos, en alianza con el campo socialista, los que le deben enseñar cuál es la verdadera, y es obligación de las Naciones Unidas apoyarlos.
También hay que esclarecer que no solamente en relaciones en las cuales están imputados Estados soberanos, los conceptos sobre la coexistencia pacífica deben ser bien definidos. Como marxistas, hemos mantenido que la coexistencia pacífica ente naciones no engloba la coexistencia entre explotadores y explotados, entre opresores y oprimidos. Es, además, un principio proclamado en el seno de esta Organización, el derecho a la plena independencia contra todas las formas de opresión colonial. Por eso, expresamos nuestra solidaridad hacia los pueblos, hoy coloniales, de la Guinea llamada portuguesa, de Angola o Mozambique, masacrados por el delito de demandar su libertad y estamos dispuestos a ayudarlos en la medida de nuestras fuerzas, de acuerdo con la declaración del Cairo.
Expresamos nuestra solidaridad al pueblo de Puerto Rico y su gran líder, Pedro Albizu Campos, el que, en un acto más de hipocresía, ha sido dejado en libertad a la edad de 72 años, sin habla casi, paralítico después de haber pasado en la cárcel toda una vida. Albizu Campos es un símbolo de la América todavía irredenta pero indómita. Años y años de prisiones, presiones casi insoportables en la cárcel, torturas mentales, la soledad, el aislamiento total de su pueblo y de su familia, la insolencia del conquistador y de sus lacayos en la tierra que le vio nacer; nada dobló su voluntad. La Delegación de Cuba rinde, en nombre de su pueblo, homenaje de admiración y gratitud a un patriota que dignifica a nuestra América.
Los norteamericanos han pretendido durante años convertir a Puerto Rico en un espejo de cultura híbrida; habla española con inflexiones en inglés, habla española con bisagras en el lomo para inclinarlo ante el soldado yanqui. Soldados portorriqueños han sido empleados como carne de cañón en guerras del imperio, como en Corea, y hasta para disparar contra sus propios hermanos, como es la masacre perpetrada por el ejército norteamericano, hace algunos meses, contra el pueblo inerme de Panamá -una de las más recientes fechorías del imperialismo yanqui.
Sin embargo, a pesar de esa tremenda violentación de su voluntad y su destino histórico, el pueblo de Puerto Rico ha conservado su cultura, su carácter latino, sus sentimientos nacionales, que muestran por sí mismos la implacable vocación de independencia yacente en las masas de la isla latinoamericana.
También debemos advertir que el principio de la coexistencia pacífica no entraña el derecho a burlar la voluntad de los pueblos, como ocurre en el caso de la Guayana llamada británica, en que el gobierno del Primer Ministro Cheddy Jagan ha sido víctima de toda clase de presiones y maniobras y se ha ido dilatando el instante de otorgarle la independencia, en la búsqueda de métodos que permitan burlar los deseos populares y asegurar la docilidad de un gobierno distinto al actual colocado allí por turbios manejos, para entonces otorgar una libertad castrada a este pedazo de tierra americana.
Cualesquiera que sean los caminos que la Guayana se vea obligada a seguir para obtenerla, hacia su pueblo va el apoyo moral y militante de Cuba.
Debemos señalar, asimismo, que las islas de Guadalupe y Martinica están luchando por su autonomía desde hace tiempo, sin lograrla, y ese estado de cosas no debe seguir.
Una vez más elevamos nuestra voz para alertar al mundo sobre lo que está ocurriendo en Sur Africa; la brutal política del «Apartheid» se aplica ante los ojos de las naciones del mundo. Los pueblos de Africa se ven obligados a soportar que en ese continente todavía se oficialice la superioridad de una raza sobre otra, que se asesine impunemente en nombre de esa superioridad racial. ¿Las Naciones Unidas no harán nada para impedirlo?
Quería referirme específicamente al doloroso caso del Congo, único en la historia del mundo moderno, que muestra cómo se pueden burlar con la más absoluta impunidad, con el cinismo más insolente, el derecho de los pueblos. Las ingentes riquezas que tiene el Congo y que las naciones imperialistas quieren mantener bajo su control son los motivos directos de todo esto. En la intervención que hubiera de hacer, a raíz de su primera visita a las Naciones Unidas, el compañero Fidel Castro advertía que todo el problema de la coexistencia entre las naciones se reducía al problema de la apropiación indebida de riquezas ajenas, y hacía la advocación siguiente: «cese la filosofía del despojo y cesará la filosofía de la guerra.» Pero la filosofía del despojo no sólo no ha cesado, sino que se mantiene más fuerte que nunca y, por eso, los mismos que utilizaron el nombre de las Naciones Unidas para perpetrar el asesinato de Lumumba, hoy, en nombre de la defensa de la raza blanca, asesinan a millares de congoleños.
¿Cómo es posible que olvidemos la forma en que fue traicionada la esperanza que Patricio Lumumba puso en las Naciones Unidas? ¿Cómo es posible que olvidemos los rejuegos y maniobras que sucedieron a la ocupación de ese país por las tropas de las Naciones Unidas, bajo cuyos auspicios actuaron impunemente los asesinos del gran patriota africano?
¿Cómo podremos olvidar, Señores Delegados, que quien desacató la autoridad de las Naciones Unidas en el Congo, y no precisamente por razones patrióticas, sino en virtud de pugnas entre imperialistas, fue Moisé Tshombe, que inició la secesión de Katanga con el apoyo belga?
¿Y cómo justificar, cómo explicar que, al final de toda la acción de las Naciones Unidas, Tshombe, desalojado de Katanga, regrese dueño y señor del Congo? ¿Quién podría negar el triste papel que los imperialistas obligaron a jugar a la Organización de Naciones Unidas?
En resumen se hicieron aparatosas movilizaciones para evitar la escisión de Katanga y hoy Tshombe está en el poder, las riquezas del Congo en manos imperialistas... y los gastos deben pagarlos las naciones dignas. ¡Qué buen negocio hacen los mercaderes de la guerra! Por eso, el gobierno de Cuba apoya la justa actitud de la Unión Soviética, al negarse a pagar los gastos del crimen.
Para colmo de escarnio, nos arrojan ahora al rostro estas últimas acciones que han llenado de indignación al mundo.
¿Quiénes son los autores? Paracaidistas belgas, transportados por aviones norteamericanos que partieron de bases inglesas. Nos recordamos que ayer, casi, veíamos a un pequeño país de Europa, trabajador y civilizado, el reino de Bélgica, invadido por las hordas hitlerianas; amargaba nuestra conciencia el saber de ese pequeño pueblo masacrado por el imperialismo germano y lo veíamos con cariño. Pero esta otra cara de la moneda imperialista era la que muchos no percibíamos.
Quizás hijos de patriotas belgas que murieran por defender la libertad de su país, son los que asesinaran a mansalva a millares de congoleños en nombre de la raza blanca, así como ellos sufrieron la bota germana porque su contenido de sangre aria no era suficientemente elevado. 
Nuestros ojos libres se abren hoy a nuevos horizontes y son capaces de ver lo que ayer nuestra condición de esclavos coloniales nos impedía observar; que la «civilización occidental» esconde bajo su vistosa fachada un cuadro de hienas y chacales. Porque nada más que ese nombre merecen los que han ido a cumplir tan «humanitarias» tareas al Congo. Animal carnicero que se ceba en los pueblos inermes; eso es lo que hace el imperialismo con el hombre, eso es lo que distingue al «blanco» imperial.
Todos los hombres libres del mundo deben aprestarse a vengar el crimen del Congo.
Quizás muchos de aquellos soldados, convertidos en subhombres por la maquinaria imperialista, piensen de buena fe que están defendiendo los derechos de una raza superior; pero en esta Asamblea son mayoritarios los pueblos que tienen sus pieles tostadas por distintos soles, coloreadas por distintos pigmentos, y han llegado a comprender plenamente que la diferencia entre los hombres no está dada por el color de la piel, sino por las formas de propiedad de los medios de producción, por las relaciones de producción.
La delegación cubana hace llegar su saludo a los pueblos de Rhodesia del Sur y Africa Sudoccidental, oprimidos por minorías de colonos blancos. A Basutolandia, Bechuania y Swazilandia, a la Somalia francesa, al pueblo árabe de Palestina, a Adén y los protectorados, a Omán y a todos los pueblos en conflicto con el imperialismo o el colonialismo y les reitera su apoyo. Formula además votos por una justa solución al conflicto que la hermana República de Indonesia encara con Malasia.
Señor Presidente: uno de los temas fundamentales de esta Conferencia es el del desarme general y completo. Expresamos nuestro acuerdo con el desarme general y completo; propugnamos además, la destrucción total de los artefactos termonucleares y apoyamos la celebración de una conferencia de todos los países del mundo para llevar a cabo estas aspiraciones de los pueblos. Nuestro Primer Ministro advertía, en su intervención ante esta Asamblea, que siempre las carreras armamentistas han llevado a la guerra. Hay nuevas potencias atómicas en el mundo; las posibilidades de una confrontación crecen.
Nosotros consideramos que es necesaria esta conferencia con el objetivo de lograr la destrucción total de las armas termonucleares y, como primera medida, la prohibición total de las pruebas. Al mismo tiempo, debe establecerse claramente la obligación de todos los países de respetar las actuales fronteras de otros estados; de no ejercer acción agresiva alguna, aun cuando sea con armas convencionales.
Al unirnos a la voz de todos los países del mundo que piden el desarme general y completo, la destrucción de todo el arsenal atómico, el cese absoluto de la fabricación de nuevos artefactos termonucleares y las pruebas atómicas de cualquier tipo, creemos necesario puntualizar que, además, debe también respetarse la integridad territorial de las naciones y debe detenerse el brazo armado del imperialismo, no menos peligroso porque solamente empuñe armas convencionales. Quienes asesinaron miles de indefensos ciudadanos del Congo, no se sirvieron del arma atómica; han sido armas convencionales, empuñadas por el imperialismo, las causantes de tanta muerte.
Aun cuando las medidas aquí preconizadas, de hacerse efectivas, harían inútil la mención, es conveniente recalcar que no podemos adherirnos a ningún pacto regional de desnuclearización mientras Estados Unidos mantenga bases agresivas en nuestro propio territorio, en Puerto Rico, Panamá, y otros estados americanos donde se considera con derecho a emplazar, sin restricción alguna, tanto armas convencionales que nucleares. Descontando que las últimas resoluciones de la OEA, contra nuestro país, al que se podría agredir invocando el Tratado de Río, hace necesaria la posesión de todos los medios defensivos a nuestro alcance.
Creemos que, si la conferencia de que hablábamos lograra todos esos objetivos, cosa difícil, desgraciadamente, sería la más trascendental en la historia de la humanidad. Para asegurar esto sería preciso contar con la presencia de la República Popular China, y de ahí el hecho obligado de la realización de una reunión de ese tipo. Pero sería mucho más sencillo para los pueblos del mundo reconocer la verdad innegable de que existe la República Popular China, cuyos gobernantes son representantes únicos de su pueblo y darle el asiento a ella destinado, actualmente usurpado por la camarilla que con apoyo norteamericano mantiene en su poder la provincia de Taiwan.
El problema de la representación de China en las Naciones Unidas no puede considerarse en modo alguno como el caso de un nuevo ingreso en la Organización sino de restaurar los legítimos derecho de la República Popular China.
Debemos repudiar enérgicamente el complot de las «dos Chinas». La camarilla Chiangkaishekista de Taiwan no puede permanecer en la Organización de las Naciones Unidas. Se trata, repetimos, de expulsar al usurpador e instalar al legítimo representante del pueblo chino.
Advertimos además contra la insistencia del Gobierno de los Estados Unidos en presentar el problema de la legítima representación de China en la ONU como una «cuestión importante» al objeto de imponer el quórum extraordinario de votación de las dos terceras partes de los miembros presentes y votantes.
El ingreso de la República Popular China al seno de las Naciones Unidas es realmente una cuestión importante para el mundo en su totalidad, pero no para el mecanismo de las Naciones Unidas donde debe constituir una mera cuestión de procedimiento. De esta forma se haría justicia, pero casi tan importante como hacer justicia quedaría, además, demostrado de una vez que esta augusta asamblea tiene ojos para ver, oídos para oír, lengua propia para hablar, criterio certero para elaborar decisiones.
La difusión de armas atómicas entre los países de la OTAN y, particularmente la posesión de estos artefactos de destrucción en masa por la República Federal Alemana, alejarían más aún la posibilidad de un acuerdo sobre el desarme, y unido a estos acuerdos va el problema de la reunificación pacífica de Alemania. Mientras no se logre un entendimiento claro, debe reconocerse la existencia de dos Alemanias, la República Democrática Alemana y la República Federal. El problema alemán no puede arreglarse si no es con la participación directa en las negociaciones de la República Democrática Alemana, con plenos derechos.
Tocaremos solamente los temas sobre desarrollo económico y comercio internacional que tienen amplia representación en la agenda. En este mismo año del 64 se celebró la Conferencia de Ginebra donde se trataron multitud de puntos relacionados con estos aspectos de las relaciones internacionales. Las advertencias y predicciones de nuestra delegación se han visto confirmadas plenamente, para desgracia de los países económicamente dependientes.
Sólo queremos dejar señalado que, en lo que a Cuba respecta, los Estados Unidos de América no han cumplido recomendaciones explícitas de esa Conferencia y, recientemente, el Gobierno norteamericano prohibió también la venta de medicinas a Cuba, quitándose definitivamente la máscara de humanitarismo con que pretendió ocultar el carácter agresivo que tiene el bloqueo contra el pueblo de Cuba.
Por otra parte, expresamos una vez más que las lacras coloniales que detienen el desarrollo de los pueblos no se expresan solamente en relaciones de índole política: el llamado deterioro de los términos de intercambio no es otra cosa que el resultado del intercambio desigual entre países productores de materia prima y países industriales que dominan los mercados e imponen la aparente justicia de un intercambio igual de valores.
Mientras los pueblos económicamente dependientes no se liberen de los mercados capitalistas y, en firme bloque con los países socialistas, impongan nuestras relaciones entre explotadores y explotados, no habrá desarrollo económico sólido, y se retrocederá, en ciertas ocasiones volviendo a caer los países débiles bajo el domino político de los imperialistas y colonialistas.
Por último, Señores Delegados, hay que establecer claramente que se están realizando en el área del Caribe maniobras y preparativos para agredir a Cuba. En las costas de Nicaragua sobre todo, en Costa Rica también, en la zona del Canal de Panamá, en las Islas Vieques de Puerto Rico, en la Florida; probablemente, en otros puntos del territorio de los Estados Unidos y, quizás, también en Honduras, se están entrenando mercenarios cubanos y de otras nacionalidades con algún fin que no debe ser el más pacífico.
Después de un sonado escándalo, el Gobierno de Costa Rica, se afirma, ha ordenado la liquidación de todos los campos de adiestramiento de cubanos exiliados en ese país. Nadie sabe si esa actitud es sincera o si constituye una simple coartada, debido a que los mercenarios entrenados allí estén a punto de cometer alguna fechoría. Esperamos que se tome clara conciencia de la existencia real de bases de agresión, lo que hemos denunciado desde hace tiempo, y se medite sobre la responsabilidad internacional que tiene el gobierno de un país que autoriza y facilita el entrenamiento de mercenarios para atacar a Cuba.
Es de hacer notar que las noticias sobre el entrenamiento de mercenarios en distintos puntos del Caribe y la participación que tiene en tales actos el Gobierno norteamericano se dan con toda naturalidad en los periódicos de los Estados Unidos. No sabemos de ninguna voz latinoamericana que haya protestado oficialmente por ello. Esto nos muestra el cinismo con que manejan los Estados Unidos a sus peones. Los sutiles Cancilleres de la OEA que tuvieron ojos para ver escudos cubanos y encontrar pruebas «irrefutables» en las armas yanquis exhibidas en Venezuela, no ven los preparativos de agresión que se muestran en los Estados Unidos, como no oyeron la voz del presidente Kennedy que se declaraba explícitamente agresor de Cuba en Playa Girón.
En algunos casos es una ceguera provocada por el odio de las clases dominantes de países latinoamericanos sobre nuestra Revolución; en otros, más tristes aún, es producto de los deslumbrantes resplandores de Mammon.
Como es de todos conocido, después de la tremenda conmoción llamada crisis del Caribe, los Estados Unidos contrajeron con la Unión Soviética determinados compromisos que culminaron en la retirada de cierto tipo de armas que las continuas agresiones de aquel país -como el ataque mercenario de Playa Girón y las amenazas de invadir nuestra patria- nos obligaron a emplazar en Cuba en acto de legítima e irrenunciable defensa.
Pretendieron los norteamericanos, además, que las Naciones Unidas inspeccionaran nuestro territorio, a lo que nos negamos enfáticamente, ya que Cuba no reconoce el derecho de los Estados Unidos, ni de nadie en el mundo, a determinar el tipo de armas que pueda tener dentro de sus fronteras.
En este sentido, sólo acataríamos acuerdos multilaterales, con iguales obligaciones para todas las partes.
Como ha dicho Fidel Castro: «Mientras el concepto de soberanía exista como prerrogativa de las naciones y de los pueblos independientes; como derecho de todos los pueblos, nosotros no aceptamos la exclusión de nuestro pueblo de ese derecho. Mientras el mundo se rija por esos principios, mientras el mundo se rija por esos conceptos que tengan validez universal, porque son universalmente aceptados y consagrados por los pueblos, nosotros no aceptaremos que se nos prive de ninguno de esos derechos, nosotros no renunciaremos a ninguno de esos derechos.»
El señor Secretario General de las Naciones Unidas, U Thant, entendió nuestras razones. Sin embargo, los Estados Unidos pretendieron establecer una nueva prerrogativa arbitraria e ilegal: la de violar el espacio aéreo de cualquier país pequeño. Así han estado surcando el aire de nuestra patria aviones U-2 y otros tipos de aparatos espías que, con toda impunidad, navegan en nuestro espacio aéreo. Hemos hecho todas las advertencias necesarias para que cesen las violaciones aéreas, así como las provocaciones que los marinos yanquis hacen contra nuestras postas de vigilancia en la zona de Guantánamo, los vuelos rasantes de aviones sobre buques nuestros o de otras nacionalidades en aguas internacionales, los ataques piratas a barcos de distintas banderas y las infiltraciones de espías, saboteadores y armas en nuestra isla.
Nosotros queremos construir el socialismo; nos hemos declarado partidarios de los que luchan por la paz; nos hemos declarado dentro del grupo de países no alineados, a pesar de ser marxistas leninistas, porque los no alineados, como nosotros, luchan contra el imperialismo. Queremos paz, queremos construir una vida mejor para nuestro pueblo y, por eso, eludimos al máximo caer en las provocaciones maquinadas por los yanquis, pero conocemos la mentalidad de sus gobernantes; quieren hacernos pagar muy caro el precio de esa paz. Nosotros contestamos que ese precio no puede llegar más allá de las fronteras de la dignidad.
Y Cuba reafirma, una vez más, el derecho a tener en su territorio la armas que le conviniere y su negativa a reconocer el derecho de ninguna potencia de la tierra, por potente que sea, a violar nuestro suelo, aguas jurisdiccionales o espacio aéreo.
Si en alguna asamblea Cuba adquiere obligaciones de carácter colectivo, las cumplirá fielmente; mientras esto no suceda, mantiene plenamente todos sus derechos, igual que cualquier otra nación.
Ante las exigencias del imperialismo, nuestro Primer Ministro planteó los cinco puntos necesarios para que existiera una sólida paz en el Caribe. Estos son:
«Primero: Cese del bloqueo económico y de todas las medidas de presión comercial y económica que ejercen los Estados Unidos en todas partes del mundo contra nuestro país.
Segundo: Cese de todas las actividades subversivas, lanzamiento y desembarco de armas y explosivos por aire y mar, organización de invasiones mercenarias, filtración de espías y saboteadores, acciones todas que se llevan a cabo desde el territorio de los Estados Unidos y de algunos países cómplices.
Tercero: Cese de los ataques piratas que se llevan a cabo desde bases existentes en los Estados Unidos y en Puerto Rico.
Cuarto: Cese de todas las violaciones de nuestro espacio aéreo y naval por aviones y navíos de guerra norteamericanos.
Quinto: Retirada de la Base Naval de Guantánamo y devolución del territorio cubano ocupado por los Estados Unidos.» No se ha cumplido ninguna de estas exigencias elementales, y desde la Base Naval de Guantánamo, continúa el hostigamiento de nuestras fuerzas. Dicha Base se ha convertido en guarida de malhechores y catapulta de introducción de éstos en nuestro territorio.
Cansaríamos a esta Asamblea si hiciéramos un relato medianamente detallado de la multitud de provocaciones de todo tipo. Baste decir que el número de ellas, incluidos los primeros días de este mes de diciembre, alcanza la cifra de 1.323, solamente en 1964.
La lista abarca provocaciones menores, como violación de la línea divisoria, lanzamiento de objetos desde territorio controlado por los norteamericanos, realización de actos de exhibicionismo sexual por norteamericanos de ambos sexos, ofensas de palabra; otros de carácter más grave como disparos de armas de pequeño calibre, manipulación de armas apuntando a nuestro territorio y ofensas a nuestra enseña nacional; provocaciones gravísimas son: el cruce de la línea divisoria provocando incendios en instalaciones del lado cubano y disparos con fusiles, hecho repetido 78 veces durante el año, con el saldo doloroso de la muerte del soldado Ramón López Peña, de resultas de dos disparos efectuados por las postas norteamericanas situadas a 3,5 kilómetros de la costa por el límite noroeste. Esta gravísima provocación fue hecha a las 19:07, del día 19 de julio de 1964, y el Primer Ministro de nuestro Gobierno manifestó públicamente, el 26 de Julio, que de repetirse el hecho, se daría orden a nuestras tropas de repeler la agresión. Simultáneamente, se ordenó el retiro de las líneas de avanzada de las fuerzas cubanas hacia posiciones más alejadas de la divisoria y la construcción de casamatas adecuadas.
1.323 provocaciones en 340 días significan aproximadamente 4 diarias. Sólo un ejército perfectamente disciplinado y con la moral del nuestro puede resistir tal cúmulo de actos hostiles sin perder la ecuanimidad.
47 países reunidos en la Segunda Conferencia de Jefes de Estado o de Gobierno de países No Alineados, en El Cairo, acordaron, por unanimidad:
«La Conferencia advirtiendo con preocupación que las bases militares extranjeras constituyen, en la práctica, un medio para ejercer presión sobre las naciones, y entorpecen su emancipación y su desarrollo, según sus concepciones ideológicas, políticas, económicas y culturales, declara que apoya sin reserva a los países que tratan de lograr la supresión de las bases extranjeras establecidas en su territorio y pide a todos los Estados la inmediata evacuación de las tropas y bases que tienen en otros países.
La Conferencia considera que el mantenimiento por los Estados Unidos de América de una base militar en Guantánamo (Cuba), contra la voluntad del Gobierno y del pueblo de Cuba, y contra las disposiciones de la Declaración de la Conferencia de Belgrado, constituye una violación de la soberanía y de la integridad territorial de Cuba.
La Conferencia, considerando que el Gobierno de Cuba se declara dispuesto a resolver su litigio con el Gobierno de los Estados Unidos de América acerca de la base de Guantánamo en condiciones de igualdad, pide encarecidamente al Gobierno de los Estados Unidos que entable negociaciones con el Gobierno de Cuba para evacuar esa base.»
El gobierno de los Estados Unidos no ha respondido a esa instancia de la Conferencia de El Cairo y pretende mantener indefinidamente ocupado por la fuerza un pedazo de nuestro territorio, desde el cual lleva a cabo agresiones como las detalladas anteriormente.
La Organización de Estados Americanos, también llamada por los pueblos Ministerio de las Colonias norteamericanas, nos condenó «enérgicamente», aun cuando ya antes nos había excluido de su seno, ordenando a los países miembros que rompieran relaciones diplomáticas y comerciales con Cuba. La OEA autorizó la agresión a nuestro país, en cualquier momento, con cualquier pretexto, violando las más elementales leyes internacionales e ignorando por completo a la Organización de las Naciones Unidas.
A aquella medida se opusieron con sus votos los países de Uruguay, Bolivia, Chile y México; y se opuso a cumplir la sanción, una vez aprobada, el gobierno de los Estados Unidos Mexicanos; desde entonces no tenemos relaciones con países latinoamericanos salvo con aquel Estado, cumpliéndose así una de las etapas previas de la agresión directa del imperialismo.
Queremos aclarar, una vez más, que nuestra preocupación por Latinoamérica está basada en los lazos que nos unen: la lengua que hablamos, la cultura que sustentamos, el amo común que tuvimos. Que no nos anima otra causa para desear la liberación de Latinoamérica del yugo colonial norteamericano. Si alguno de los países latinoamericanos aquí presentes decidiera restablecer relaciones con Cuba, estaríamos dispuestos a hacerlo sobre bases de igualdad y no con el criterio de que es una dádiva a nuestro gobierno el reconocimiento como país libre del mundo, porque ese reconocimiento lo obtuvimos con nuestra sangre en los días de la lucha de liberación, lo adquirimos con sangre en la defensa de nuestras playas frente a la invasión yanqui.
Aun cuando nosotros rechazamos que se nos pretenda atribuir ingerencias en los asuntos internos de otros países, no podemos negar nuestra simpatía hacia los pueblos que luchan por su liberación y debemos cumplir con la obligación de nuestro gobierno y nuestro pueblo de expresar contundentemente al mundo que apoyamos moralmente y nos solidarizamos con los pueblos que luchan en cualquier parte del mundo para hacer realidad los derechos de soberanía plena proclamados en la Carta de las Naciones Unidas.
Los Estados Unidos sí intervienen; lo han hecho históricamente en América. Cuba conoce desde fines del siglo pasado esta verdad, pero la conocen también Colombia, Venezuela, Nicaragua y la América Central en general, México, Haití, Santo Domingo.
En años recientes, además de nuestro pueblo, conocen de la agresión directa Panamá, donde los «marines» del Canal tiraron a mansalva sobre el pueblo inerme; Santo Domingo, cuyas costas fueron violadas por la flota yanqui para evitar el estallido de la justa ira popular, luego del asesinato de Trujillo; y Colombia, cuya capital fue tomada por asalto a raíz de la rebelión provocada por el asesinato de Gaitán.
Se producen intervenciones solapadas por intermedio de las misiones militares que participan en la represión interna, organizando las fuerzas destinadas a ese fin en buen número de países, y también en todos los golpes de estado, llamados «gorilazos», que tantas veces se repitieron en el continente americano durante los últimos tiempos.
Concretamente, intervienen fuerzas de los Estados Unidos en la represión de los pueblos de Venezuela, Colombia y Guatemala que luchan con las armas por su libertad. En el primero de los países nombrados, no sólo asesoran al ejército y a la policía, sino que también dirigen los genocidios efectuados desde el aire contra la población campesina de amplias regiones insurgentes y, las compañías yanquis instaladas allí, hacen presiones de todo tipo para aumentar la ingerencia directa.
Los imperialistas se preparan a reprimir a los pueblos americanos y están formando la internacional del crimen. Los Estados Unidos intervienen en América invocando la defensa de las instituciones libres. Llegará el día en que esta Asamblea adquiera aún más madurez y le demande al gobierno norteamericano garantías para la vida de la población negra y latinoamericana que vive en este país, norteamericanos de origen o adopción, la mayoría de ellos. ¿Cómo puede constituirse en gendarme de la libertad quien asesina a sus propios hijos y los discrimina diariamente por el color de la piel, quien deja en libertad a los asesinos de los negros, los protege además, y castiga a la población negra por exigir el respeto a sus legítimos derechos de hombres libres?
Comprendemos que hoy la Asamblea no está en condiciones de demandar explicaciones sobre hechos, pero debe quedar claramente sentado que el gobierno de los Estados Unidos no es gendarme de la libertad, sino perpetuador de la explotación y la opresión contra los pueblos del mundo y contra buena parte de su propio pueblo.
Al lenguaje anfibológico con que algunos delegados han dibujado el caso de Cuba y la OEA nosotros contestamos con palabras contundentes y proclamamos que los pueblos de América cobrarán a los gobiernos entreguistas su traición.
Cuba, señores delegados, libre y soberana, sin cadenas que la aten a nadie, sin inversiones extranjeras en su territorio, sin procónsules que orienten su política, puede hablar con la frente alta en esta Asamblea y demostrar la justeza de la frase con que la bautizaran: «Territorio Libre de América.»
Nuestro ejemplo fructificará en el Continente como lo hace ya, en cierta medida en Guatemala, Colombia y Venezuela.
No hay enemigo pequeño ni fuerza desdeñable, porque ya no hay pueblos aislados. Como establece la Segunda Declaración de La Habana: «Ningún pueblo de América Latina es débil, porque forma parte de una familia de doscientos millones de hermanos que padecen las mismas miserias, albergan los mismos sentimientos, tienen el mismo enemigo, sueñan todos un mismo mejor destino y cuentan con la solidaridad de todos los hombres y mujeres honrados del mundo.
Esta epopeya que tenemos delante la van a escribir las masas hambrientas de indios, de campesinos sin tierra, de obreros explotados; la van a escribir las masas progresistas, los intelectuales honestos y brillantes que tanto abundan en nuestras sufridas tierras de América Latina. Lucha en masas y de ideas, epopeya que llevarán adelante nuestros pueblos maltratados y despreciados por el imperialismo, nuestros pueblos desconocidos hasta hoy, que ya empiezan a quitarle el sueño. Nos consideraban rebaño impotente y sumiso y ya se empieza a asustar de ese rebaño, rebaño gigante de doscientos millones de latinoamericanos en los que advierte ya sus sepultureros el capital monopolista yanqui.
La hora de su reivindicación, la hora que ella misma se ha elegido, la vienen señalando con precisión también de un extremo a otro del Continente. Ahora esta masa anónima, esta América de color, sombría, taciturna, que canta en todo el Continente con una misma tristeza y desengaño, ahora esta masa es la que empieza a entrar definitivamente en su propia historia, la empieza a escribir con su sangre, la empieza a sufrir y a morir, porque ahora los campos y las montañas de América, por las faldas de sus sierras, por sus llanuras y sus selvas, entre la soledad o el tráfico de las ciudades, en las costas de los grandes océanos y ríos, se empieza a estremecer este mundo lleno de corazones con los puños calientes de deseos de morir por lo suyo, de conquistar sus derechos casi quinientos años burlados por unos y por otros. Ahora sí la historia tendrá que contar con los pobres de América, con los explotados y vilipendiados, que han decidido empezar a escribir ellos mismos, para siempre, su historia. Ya se los ve por los caminos un día y otro, a pie, en marchas sin término de cientos de kilómetros, para llegar hasta los «olimpos» gobernantes a recabar sus derechos. Ya se les ve, armados de piedras, de palos, de machetes, en un lado y otro, cada día, ocupando las tierras, afincando sus garfios en las tierras que les pertenecen y defendiéndolas con sus vidas; se les ve, llevando sus cartelones, sus banderas, sus consignas; haciéndolas correr en el viento, por entre las montañas o a lo largo de los llanos. Y esa ola de estremecido rencor, de justicia reclamada, de derecho pisoteado, que se empieza a levantar por entre las tierras de Latinoamérica, esa ola ya no parará más. Esa ola irá creciendo cada día que pase. Porque esa ola la forman los más, los mayoritarios en todos los aspectos, los que acumulan con su trabajo las riquezas, crean los valores, hacen andar las ruedas de la historia y que ahora despiertan del largo sueño embrutecedor a que los sometieron.
Porque esta gran humanidad ha dicho "¡Basta!" y ha echado a andar. Y su marcha, de gigantes, ya no se detendrá hasta conquistar la verdadera independencia, por la que ya han muerto más de una vez inútilmente. Ahora, en todo caso, los que mueran, morirán como los de Cuba, los de Playa Girón, morirán por su única, verdadera e irrenunciable independencia.»
Todo eso, Señores Delegados, esta disposición nueva de un continente, de América, está plasmada y resumida en el grito que, día a día, nuestras masas proclaman como expresión irrefutable de su decisión de lucha, paralizando la mano armada del invasor. Proclama que cuenta con la comprensión y el apoyo de todos los pueblos del mundo y especialmente, del campo socialista, encabezado por la Unión Soviética.
Esa proclama es: Patria o muerte. »
FONTE: Periódico Revolución, 12 de diciembre de 1964

domingo, 25 de agosto de 2013

BLOCO DE LESTE

Ontem morreu Alexander Donner. Aproveitei para fazer uma pesquisa na internet sobre ele e as suas origens. Dessa pesquisa resultou esta entrevista que apresenta o testemunho de três atletas que desenvolveram atividade profissional aqui em Portugal e nos seus países de origem.
Conhecer a vida para além do antigo muro de Berlim, antes da sua queda, é algo que me seduz  incomensuravelmente. Assim, transcrevo uma entrevista com o testemunho pessoal de três atletas que têm a experiência de vida do lado de cá e do lado lá, antes e depois da queda do Muro de Berlim. Pareceu-me muito interessante.

«Suplemento de Domingo: Ion Timofte, Alexander Donner e Svetlana Kabelevskaia recordam antigo bloco de Leste
ATLETAS ERAM MAIS FORTES MAS A SUA VIDA CONTROLADA

A COMEMORAÇÃO do décimo aniversário da queda do Muro de Berlim foi pretexto para juntar três figuras de proa do desporto em Portugal, nas suas respectivas modalidades, oriundos da Europa de Leste: o futebolista romeno Ion Timofte, o treinador ucraniano de andebol do ABC, de Braga, e ex-seleccionador nacional, Alexander Donner, e a voleibolista russa Svetlana Kabelevskaia, que representa uma das melhores equipas nacionais, a Senhora da Hora. A ideia era pô-los a falar sobre o desporto na Europa de Leste antes da queda do Muro de Berlim e da derrocada do sistema socialista e contarem-nos as suas experiências.


A conversa fluiu com naturalidade perante a qualidade dos interlocutores. Timofte exprime-se melhor na língua de Camões que a maioria dos seus colegas de profissão portugueses; Svetlana, casada com um português e à espera do deferimento para o pedido de naturalização que formulou de forma a poder representar a selecção portuguesa, idem aspas; Donner, um anti-estalinista e anti-Gorbatchov convicto, não tem a mesma fluência, mas é uma personalidade interessantíssima, de outra geração, com uma vivência muito rica, da qual nos revelou algumas facetas, que por falta de espaço não pudemos reproduzir nestas páginas. Aliás, o treinador do ABC foi uma surpresa na medida em que nos tinham alertado para o seu feitio sisudo e impenetrável e acabou por se revelar uma pessoa aberta, com um sentido de humor subtil, e um jeito particular para contar anedotas...


Entre os três, a curiosidade de terem vindo para Portugal no mesmo ano, em 1991. Uma coincidência. Apesar da sua avó materna ser russa, Timofte não conseguia comunicar com Svetlana e Donner nessa língua, dada a origem latina do romeno, pelo que o fez sempre em bom português. Pena foi que o espaço tivesse sido escasso para contar outras experiências dos nossos convidados e dar a conhecer a estrutura em que assentava o desporto no Bloco de Leste em termos do acesso da população à prática desportiva.


RECORD - Como é que funcionava, em linhas gerais, o modelo base sobre o qual assentava o desporto de alta competição no antigo Bloco de Leste e que tão bons resultados desportivos proporcionou durante anos a fio?


ION TIMOFTE - Diziam que havia um modelo amador, mas era totalmente profissional. Os clubes eram das câmaras municipais e quem mandava era o partido, que tinha representantes em cada cidade, em cada região. Os dirigentes dos clubes eram, também, nomeados pelo partido. Quem quisesse subir na hierarquia, em qualquer actividade, tinha de pertencer ao partido. Dou-lhe um exemplo: num plantel de vinte jogadores de um clube, dois ou três eram empregados da EDP, outros da Companhia das Águas e por aí fora. Eram distribuídos por empresas ou departamentos do Estado. Havia como que um entendimento: o chefe do partido nessa região ou cidade ia ter com o presidente de uma empresa e dizia-lhe que precisava que dois ou três jogadores se tornassem empregados dessa empresa e que esta lhes pagasse ao fim do mês. Realmente os jogadores iam lá receber o ordenado, mas só lá punham os pés no fim do mês. Só os prémios eram pagos pelo clube. Eles diziam que os jogadores eram amadores, que tinham os seus empregos, mas a verdade é que só jogavam à bola e eram totalmente profissionais. Havia alguns que estudavam...


ALEXANDER DONNER - E outros eram militares, até havia coronéis...


I. T. - Não sei se na Rússia era como na Roménia...


SVETLANA KABELEVSKAIA - Por exemplo, uma atleta que fosse sargento e ganhasse uma competição importante era promovida a uma patente superior...


I. T. - Na Roménia havia o Dínamo, que era o clube da polícia, e o Steaua, que era o clube do exército. Quem mandava era o ministro das Internas - o correspondente cá ao ministro da Administração Interna. Todos os jogadores que iam para o Dínamo tinham logo a patente de tenente e depois eram promovidos consoante o peso que tinham na equipa e os títulos que ganhavam. Por exemplo, se um jogador do Dínamo era mandado parar pela polícia de trânsito, apresentava um cartão que tinha e ainda o cumprimentavam e pediam desculpa pelo incómodo. (risos) Um jogador jovem que brilhasse num clube pequeno e que despertasse o interesse do Steaua, era logo contratado porque lhe prometiam livrar da tropa, que era uma vida dura.


A. D. - Na União Soviética a rivalidade era grande entre o Dínamo de Moscovo, que era o clube da polícia, e o CSKA de Moscovo, que era o clube central do exército, porque havia outros CSKA's...


GANHAR ACIMA DA MÉDIA


I. T. - [metendo a colher no futebol soviético] Por exemplo, quando jogava o CSKA de Moscovo contra o CSKA de Leninegrado era obrigatório ganhar o de Moscovo...


A. D. [acusando o toque] Na Roménia era a mesma coisa com o Steaua e o Dínamo...


I. T. - Sim, sim, por isso é que eram sempre as duas melhores equipas... Se um jogador, mesmo já credenciado, recusasse ir para o Dínamo pagava um preço alto por isso. Lembro-me de um caso de um jogador que não quis ir para o Dínamo. O pai desse jogador tinha um pequeno negócio e eles chegaram ao cúmulo de enviar a polícia económica para o prender, alegando que não tinha os papéis em ordem, para obrigar o filho a ir jogar para o Dínamo.


I. T. - Quem pagava era o partido. Os melhores jogadores ganhavam um pouco mais do que os outros, por isso eram colocados em cargos superiores no emprego para justificar os melhores ordenados que lhes pagavam.


R. - Quer dizer que o craque da equipa podia ser o presidente da empresa...


I. T. - Lembro-me que um ano antes da revolução, estava na I Divisão, pelo Timisoara, e ganhava muito acima da média, melhor do que um engenheiro ou um médico... Dava para ter uma boa vida...


R. - Qual era o salário médio de um futebolista romeno?


I. T. - Tinha meses em que... Bem, ganhava em função dos resultados, as vitórias davam direito a prémio, embora não fossem muito elevados.


R. - Pode atirar um número só para ter uma ideia?


I. T. - Em moeda portuguesa?!... Não posso fazer...


S. K. - (rindo-se) Não dá...


I. T. - Não dá, não, porque eram outros tempos, não havia inflação...


A. D. - Só dá comparando com um engenheiro ou um médico...


S. K. - Na Rússia os médicos ganhavam muito mal... e hoje é a mesma coisa... Quando jogava no Dínamo de Moscovo, lembro-me que nós, atletas, não sabíamos quanto iríamos receber no fim do mês. Eu também era muito novinha, tinha 19 anos... Diziam, por exemplo, que eu ia ganhar 100 rublos por mês e depois não era assim. A disciplina era muito rigorosa e durante os treinos não podíamos falar, não podíamos rir. Se o fizéssemos, éramos multados, por exemplo, em dez rublos, descontados depois no ordenado.


I. T. - Metiam ao bolso...


S. K. - Pois metiam... E hoje em dia acontece o seguinte: a um atleta que sai para o estrangeiro dizem-lhe que vai ganhar xis e depois uma parte vai para o treinador, outra para o clube. Sei disso porque tenho colegas a quem isso aconteceu não há muito tempo.


R. - Não sei que a Svetlana era de rir e falar nos treinos, mas, mesmo com os descontos, quanto é que lhe sobrava para viver?


S. K. - Ganhava mais do dobro que a minha mãe, que era médica...


R. - Também tinha um emprego fictício?


S. K. - Não tinha emprego, mas frequentava a universidade. Frequentava... é uma maneira de dizer. Treinava duas, e às vezes três vezes por dia, não sobrava tempo para estudar. Quando tinha um exame, facilitavam, não o ia fazer, mas no fim do ano passava.


CARROS NOVOS E USADOS


R. - Como é que surgiu a oportunidade de jogar em Portugal?


S. K. - Através do meu treinador, que era muito amigo do presidente da Federação Russa. Nessa altura jogava noutra equipa, o Mopi, e ganhámos os Jogos Universitários, em 1990, que era um competição de prestígio na Rússia...


A. D. - Eu sou do século dezanove... (gargalhada geral)


S. K. - O clube vivia com dificuldades e o treinador disse-me que ia jogar um ano para Portugal e que cerca de metade do ordenado que ia ganhar seria para mim, e a outra metade para ele e para a equipa. Vim e acabei por ficar - já cá estou há oito anos...


A. D. - Comecei a praticar desporto, não no século dezanove, e como quase todos da geração que nasceu depois da II Guerra, crescemos na rua e fomos atraídos para modalidades como o boxe e lutas de vários tipos, que pratiquei bastante, mas no fim acabei por optar pelo andebol. Aquela geração praticava desporto mais por gosto do que por dinheiro. Naquela altura o desporto era a única forma de um jovem, que não fosse filho de uma família de um funcionário do partido ou de um engenheiro famoso, subir na vida [o meu pai era "chauffer"] e conhecer o mundo. Sabíamos que havia a Europa, a América e sonhávamos em lá ir e ver como era... Como atleta ganhei uma miséria, o que ganhava um sargento do exército que eu era, um falso sargento. Até menos que o meu pai. Mas havia uma diferença. O meu pai tinha mulher e três filhos e vivíamos num T0, eu dormia com o meu irmão na cozinha e a minha irmã com os pais no único quarto. E podíamos considerar-nos uma família feliz porque muitas outras não tinham sequer isso. Naquele tempo era o Estado que oferecia os apartamentos, não se podia comprar. O meu pai, como trabalhador, esperou dezoito anos por esse apartamento. Eu, como atleta, ao fim de dois anos casei e deram-me um T0. Outra vantagem dos atletas: para comprar carro qualquer pessoa na União Soviética, mesmo que tivesse dinheiro, tinha de esperar anos.


I. T. - Qual era o carro? O “Volga”?


A. D. - “Volga” era só para campeões dos Jogos Olímpicos... As coisas funcionavam assim: se ganhássemos um campeonato da União Soviética não pagavam prémios, mas o General não sei quantos passava-nos um papel a autorizar que este e aquele atleta podiam comprar um carro. Com o dinheiro que eu ganhava não precisava de carro, mas essa compra ia render-me mais tarde. A União Soviética era o único país no mundo onde um carro usado valia cinco vezes mais do que um carro novo... Porque para comprar um novo tinha de se esperar anos e anos e um usado podia ser logo utilizado. Até faziam "bicha" para comprar um usado...


JOGAR COM DEDOS PARTIDOS


R. - Quer dizer que havia um controlo absoluto das autoridades sobre a vida pessoal e desportiva dos atletas...


A. D. - Lá um treinador era Deus...


I. T. - Não havia respeito, mas sim medo...


A. D. - Se o treinador dizia não, acabava a conversa... Imagine que o ABC ia jogar a França e um dos atletas não andava a treinar em condições... Eu dizia-lhe: não vais a Paris! Qual é o problema para ele? Lá, naquela altura, imagine o que era o treinador chegar ao pé de um jogador e dizer-lhe que já não ia Paris... Era uma tragédia! Primeiro porque era a única hipótese de atravessar a fronteira, segundo porque num torneio no estrangeiro, um atleta ganhava mais do que num ano no clube. Por isso é que muitos futebolistas e atletas de bom nível que jogam na Rússia chegam a Portugal e se perdem. Não estão habituados a trabalhar assim, sem ninguém a controlar.


I. T. - Antes de 1989 só fiz uma viagem ao estrangeiro, à República Checa, pelo Timisoara. Não tínhamos passaporte individual, havia uma tabela com os nomes que era controlada por agentes da polícia secreta que vinham na comitiva para vigiar os jogadores. Nessa viagem parámos duas a três horas em Budapeste e dois colegas meus fugiram com a ajuda de uns amigos da Alemanha. Não queira saber o que passámos, os outros que ficaram, nessa semana, foram massacrados com interrogatórios.


R. - Acalentava, também, o sonho de dar o salto para o Ocidente?


I. T. - O futebol profissional para mim aparece por acaso. Era um bom aluno e o meu sonho era tirar o curso universitário. Jogava num pequeno clube, da II Divisão B de lá, fiz um campeonato bom e o Timisoara, que é o clube do meu coração e não o Boavista (risos), foi buscar-me. A partir daí comecei a dar nas vistas, cheguei à selecção e vi que o futebol podia ser o meu futuro. Se não fosse isso, seria hoje, provavelmente, um anónimo professor de educação física na Roménia.


R. - Se vos pedisse que apontassem as virtudes e os defeitos do modelo que existia na URSS em relação ao desporto de alta competição, o que diriam?


S. K. - Um aspecto positivo desse modelo era a noção muito clara que os jovens tinham de que para subir na vida era preciso fazer sacrifícios e ter um carácter forte. Penso que isso nos ajudava muito a vencer na competição... Como coisa negativa eu diria a forma como éramos vistos e tratados, como se fossemos máquinas... Hoje as coisas já não são assim, mas lembro-me que a primeira vez que fui à Bulgária jogar, pelo Dínamo, houve uma reunião com pessoas do KGB que depois seguiram na viagem e que nos deram instruções muito claras que não podíamos falar ou contactar com ninguém de fora, nem sequer olhar...


A. D. - Em termos de desporto de alta competição acho que as coisas funcionavam melhor lá do que cá, no Ocidente. Quando cá cheguei disseram-me logo: os portugueses, coitadinhos, não podem ficar longe da família mais de duas semanas, e outras conversas desse género. É ridículo e não aceito isso. A minha primeira viagem fora do país, como atleta, foi à Jordânia e também fomos acompanhados por um agente do KGB, que foi substituir o nosso treinador adjunto, e que obrigou o dono do hotel a retirar todos os televisores dos quartos. Para não sermos seduzidos... Mas, por outro lado, o espírito dos atletas do Leste da Europa era muito mais forte. Parti quatro vezes os dedos da mão [mostrando as sequelas dessas fracturas], mas nunca pedi a nenhum médico para faltar a um jogo por causa de um dedo partido. Ninguém me perceberia, nem o treinador nem os companheiros. Tinha de pôr uma ligadura e ir jogar. Uma vez joguei com uma costela partida, com uma esponja no peito que parecia a Marilyn Monroe... (ri-se) E era guarda-redes...


PROPAGANDA DO REGIME?


R. - Consideram que todo esse investimento do regime comunista no desporto servia como forma de propaganda e instrumento para desviar as atenções da população para a falta de liberdade e para os problemas sociais?


S. K. - Penso que sim...


A. D. - A verdade é que o alto nível que o Desporto atingiu foi muito mais importante para a população. Os sucessos desportivos faziam esquecer o nível de vida, o pouco dinheiro para comprar comida, sapatos, etc. Era o orgulho nacional em causa e que foi importante na época da guerra fria. Desporto e o exército eram as duas áreas onde o Governo ou o regime mais investiam (...) Até aos 30 anos acreditei em toda aquela propaganda, não tenho vergonha de dizer isto. Que éramos melhores, que estávamos a ajudar metade do mundo, da África à Nicarágua e ao Vietname. Eu era militar, participei na entrada das tropas russas na Checoslováquia e mais tarde quis oferecer-me como voluntário para a guerra do Afeganistão. Mas não me deixaram porque já tinha ultrapassado o limite da idade, tinha acabado nessa altura a carreira de jogador. Acreditei naquilo que lia nos jornais e ouvia e via nas rádios e na televisão, que nós tentávamos salvar o pobre povo do Afeganistão, que não podíamos passar a fronteira porque apareciam dezenas de agentes da CIA, que só devíamos andar acompanhados, etc., e quando comecei a sair para o estrangeiro com o andebol verifiquei que, afinal, ninguém vinha ter comigo... Além disso, lia muito, tinha uma biblioteca grande, com alguns livros proibidos na URSS, de Soljenine, por exemplo, que comprava lá fora, e se fosse apanhado ia preso (...) Quando vim para Portugal pensei: vou trabalhar dois anos, ganhar dinheiro e regressar para ter uma boa vida. Quem trabalhava fora garantia o futuro. Mas, entretanto, o Estado desmoronou-se e tudo o que ganhei cá não dá para comprar um apartamento lá. Infelizmente, não sou treinador de futebol...


R. - Como é que justificam a perda de competitividade do desporto dos países de Leste europeu desde a falência do sistema socialista?


A. D. - Não vou discutir com a Svetlana [que tinha acabado de referir que o voleibol na Rússia hoje está melhor do que estava na ex-URSS]. Mas pergunto: quem é hoje o campeão europeu de clubes de voleibol, masculino e feminino? Não é a Rússia, pois não!?, e antes era. Acho que piorou e vai piorar mais. Hoje um atleta de vólei ou outra modalidade da I Divisão na Rússia ganha muito mais do que qualquer outra pessoa. Mas o nível desse atleta, comparando com outro de há dez, quinze anos atrás, não tenho dúvidas que este era muito mais forte do que aquele. Antes os russos ganhavam, até no voleibol, os JO, os campeonatos do mundo... No andebol a selecção russa actual joga com "dinossauros", atletas de 35, 36 anos, e os novos valores são cada vez menos. Só que a Rússia é um país imenso e sempre aparecem dez ou quinze bons, mesmo que ninguém trabalhe a sério com eles. Comparando: Portugal tem um campeonato de andebol com mais força que a Rússia. Quem pensaria há dez anos que isso fosse possível?


S. K. - No voleibol a melhor equipa portuguesa só pode jogar na II Divisão da Rússia (...) Concordo com o que disse o sr. Donner, mas o voleibol na Rússia é hoje um caso à parte (...)


I. T. - Antes o desporto era fomentado ao nível do Estado, em particular o futebol. Hoje se este vai sobrevivendo, as outras modalidades, em algumas das quais a Roménia era uma potência mundial, como o andebol, podem desaparecer de um dia para outro. Não sabem se no fim-de-semana seguinte há dinheiro para pagar uma viagem.


«DOPING» NO DESPORTO DOS PAÍSES DE LESTE


A.D. - Na minha altura não existia “doping”. Infelizmente, nos últimos anos é que a Rússia e as outras repúblicas começaram, com um atraso de muitos anos, a sofrer os efeitos das drogas, da revolução sexual... O único “doping” no desporto que havia era o vodka... (gargalhada) Aliás, nós nem médico tínhamos nos clubes da I Divisão, como é que podíamos sequer pensar em “doping” (...) Na antiga RDA era diferente. Eu na altura estudei no mesmo curso de andebol com um alemão, que me contou algumas coisas a esse respeito. Ele tinha um caderno com informações que nunca dava a ler a ninguém, com um carimbo de "top-secret". Depois da II Guerra, muitos campos de concentração foram tomados pelas tropas russas e mais tarde passaram para a responsabilidade da Alemanha Democrática. E nesses campos havia muitas informações e dados sobre experiências médicas com prisioneiros, acerca da resistência do organismo humano a determinadas substâncias dopantes e os seus efeitos, resistência a cargas físicas, etc. Eles aproveitaram todo esse conhecimento aplicando-o no desporto, sobretudo em determinadas modalidades, sobretudo no atletismo e na natação.


S.K. - Eu era muito jovem, mas nunca me apercebi de alguma coisa que me levasse a suspeitar na existência de “doping”. Pelo menos, no voleibol feminino não havia de certeza...


I.T. - No futebol romeno também arrisco a dizer que não. Era difícil haver “doping” sem que os jogadores se apercebessem. Além disso, essa substâncias dopantes deveriam ser muito caras e dinheiro era coisa que não abundava na Roménia.


QUEDA DO MURO DE BERLIM


I.T. -- Provocou um sentimento geral de esperança. Tive logo a percepção que ia haver uma mudança radical, a vários níveis, sobretudo da liberdade de movimentos e de expressão. E houve. Só que as pessoas continuaram a viver tão mal ou pior, o seu nível de vida degradou-se (...) No desporto profissional, os clubes começaram a ter graves problemas económicos e deixaram extinguir várias modalidades para sobreviverem. No futebol a corrupção tomou conta da sua estrutura. Os resultados são falsificados. Antes da queda do Muro, quando se jogava com um clube mais forte, o delegado do partido falava com o treinador e este com o capitão, para ordenar que deixássemos ganhar o adversário. Aconteceu comigo quando estava no Timisoara. Não tínhamos como deixar de cumprir a ordem, embora nos custasse bastante. E nada transpirava cá para fora. Hoje em dia são os arranjos e as combinações que fazem lei no futebol romeno. Por isso é que o público deixou de ir aos jogos porque o descrédito é total. (...) Só a selecção é sagrada e mantém um bom nível porque a "geração de ouro", como é chamada na Roménia, saiu quase toda ao mesmo tempo para o estrangeiro, para bons clubes e campeonatos competitivos. Aliás, o actual seleccionador, Piturca, tentou o ano passado uma aposta na juventude, mas os resultados foram maus e tiveram de recorrer outra vez ao Hagi, ao Sabau e outros mais.


A.D. -- As mudanças no sistema na União Soviética, incluindo na área do Desporto, começaram antes da queda do Muro de Berlim, com a ascensão de Gorbatchov ao Poder. Foi um terramoto. Ele conseguiu destruir tudo em pouco tempo. Reconheço o mérito e o talento dele (risos). O que há hoje na Rússia não sei o que é. Há quem diga que é capitalismo, mas se é, é um capitalismo selvagem! Tudo piorou. Tenho três filhos, dois deles no desemprego (...) Não estou a dizer que o sistema anterior era um modelo de virtudes, longe disso. Nunca fui comunista. A “cortina de ferro” isolou-nos do mundo e deixou as pessoas "cegas". A censura que existia, enfim... havia muitas coisas más, mas, também, muitas coisas boas... Acho que o fomento do Desporto não deve estar nas mãos de “sponsors”, mas sim do Estado, a quem tem de caber a planificação e gestão. Aliás, os resultados alcançados pelos países de Leste nas grandes competições internacionais antes e depois do colapso do sistema comunista falam por si. A queda do Muro foi um símbolo e, se bem que eu, pessoalmente, não alimentasse muitas esperanças, havia um sentimento geral de que as coisas iriam melhorar. Mas ao fim de dois anos a ouvir diariamente Gorbatchov, percebi que era só treta... Nem ele próprio sabia o que tinha iniciado nem como ia acabar...


JOÃO CARTAXANA»

FONTE: Record

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

KRONOS

Álbum Kronos - Cristina Branco

1 Trago Um Fado
Acoustic Bass – Fernando Maia Guitar [Portuguese] – Bernardo Couto Lyrics By – Manuel Alegre Music By – Ricardo J. Dias Piano – Ricardo J. Dias Viola – Alexandre Silva
3:17
2 Eterno Retorno
Acoustic Bass – Fernando Maia Guitar [Portuguese] – Bernardo Couto Lyrics By – Hélia Correia Music By – Janita Salomé Piano – Ricardo J. Dias Viola – Alexandre Silva
2:58
3 Bomba Relógio
Acoustic Bass – Fernando Maia Guitar [Portuguese] – Bernardo Couto Lyrics By – Sérgio Godinho Music By – Sérgio Godinho Piano – Ricardo J. Dias Viola – Alexandre Silva
3:46
4 Longe Do Sul
Acoustic Bass – Fernando Maia Guitar [Portuguese] – Bernardo Couto Lyrics By – Miguel Farias Music By – Carlos Bica Piano – Ricardo J. Dias Viola – Alexandre Silva
3:36
5 Margarida
Acoustic Bass – Fernando Maia Guitar [Portuguese] – José Manuel Neto Lyrics By – Álvaro De Campos Music By – Mário Laginha Piano – Ricardo J. Dias Viola – Alexandre Silva Vocals – Jorge Palma
2:33
6 O Meu Calendário
Accordion – Ricardo J. Dias Double Bass – Bernardo Moreira Guitar [Classical ] – Mário Delgado Lyrics By – Amélia Muge Music By – Amélia Muge
3:50
7 Bichinhos Distraídos
Acoustic Bass – Fernando Maia Guitar [Portuguese] – José Manuel Neto Lyrics By – José Mário Branco Music By – José Mário Branco Piano – Ricardo J. Dias Viola – Alexandre Silva
3:41
8 Tango
Double Bass – Bernardo Moreira Guitar [Portuguese] – Bernardo Couto Lyrics By – Vasco Graça Moura Music By – Mário Laginha
4:02
9 Eléctrico Amarelo
Acoustic Guitar – Mário Delgado Double Bass – Bernardo Moreira Lyrics By – Carlos Tê Music By – Rui Veloso Piano – Ricardo J. Dias Resonator Guitar – Mário Delgado
3:32
10 O Rapaz Do Trapézio Voador
Acoustic Bass – Fernando Maia Guitar [Portuguese] – José Manuel Neto Lyrics By – Vitorino Music By – Vitorino Piano – Ricardo J. Dias Viola – Alexandre Silva
3:07
11 O Sítio
Lyrics By – João Paulo Esteves Da Silva* Music By – João Paulo Esteves Da Silva* Piano – João Paulo Esteves Da Silva*
4:47
12 Uma Outra Noite
Acoustic Guitar – Mário Delgado Double Bass – Bernardo Moreira Lyrics By – João Paulo Esteves Da Silva* Music By – Ricardo J. Dias Piano – Ricardo J. Dias
2:58
13 Fado Do Mal Passado
Acoustic Bass – Fernando Maia Guitar [Portuguese] – José Manuel Neto Lyrics By – Júlio Pomar Music By – António Victorino D'Almeida Piano – Ricardo J. Dias Viola – Alexandre Silva
2:28
14 Histórias Do Tempo
Acoustic Bass – Fernando Maia Guitar [Portuguese] – Bernardo Couto Lyrics By – Amélia Muge Music By – Ricardo J. Dias Piano – Ricardo J. Dias Viola – Alexandre Silva
3:21

FONTE: Discogs