Fonte para a nota: Jornal de Letras - Manuel Halpern.
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Para mim, uma lufada de ar fresco: «O experimentar na m'incomoda: Tradição de vanguarda Será um folctrónico ou uma retradição? Talvez seja mesmo necessário inventar uma palavra para classificar o primeiro disco de O Experimentar na m'incomoda. Ou uma expressão aparentemente contraditória, como 'folclore urbano' ou 'tradição de vanguarda'. Notável é que, com canções como Bela Aurora, Caracol ou As Ilhas de Bruma, Pedro Lucas conseguiu fazer um dos melhores discos de 2010. Ou será de 2015?
Será um folctrónico ou uma retradição? Talvez seja mesmo necessário inventar uma palavra para classificar o primeiro disco de O Experimentar na m'incomoda. Ou uma expressão aparentemente contraditória, como 'folclore urbano' ou 'tradição de vanguarda'. Notável é que, com canções como Bela Aurora, Caracol ou As Ilhas de Bruma, Pedro Lucas conseguiu fazer um dos melhores discos de 2010. Ou será de 2015?
Outra forma de ouvir a coisa é pensando que está encontrado o mais fiel herdeiro de João Aguardela e do seu Megafone. O parentesco é mais do que óbvio. Tem mais a ver com o conceito do que com o resultado final. Ambos fazem uma releitura urbana de sons tradicionais. Lucas fechou-se no universo açoriano, principalmente no disco O cantar na m'incomoda, de Carlos Medeiros. Descobriu ali uma base melódica para construir a sua música. E diga-se que não é difícil misturar universos antagónicos, o mundo das remixes está cheio de exemplos. O que é difícil é fazê-lo bem. Que lhe seja dado o mérito.
Aqui temos o campo e a cidade servidos de uma forma híbrida. Sente-se a tradição e sente-se a modernidade. Mas o que conta é que foi construído um novo objeto, que passa de forma fluida. É na encruzilhada entre o cosmopolitismo e a insularidade que se situa Pedro Lucas, não fosse o faial, por tradição, a mais cosmopolita paragem do arquipélago.
Foi ali que Pedro Lucas nasceu há 25 anos. Estudou música no conservatório, aprendeu a tocar guitarra e participou nas filarmónicas locais. Mas na adolescência, naturalmente, fugiu daqueles sons. Já adulto mudou-se para Lisboa e, num curso da Re-start, aprofundou os seus conhecimentos técnicos no domínio da música por computador. A capital não lhe agradou. E regressou rapidamente para o faial. Até que aproveitando a sua condição de cidadão europeu, emigrou para Copenhaga, onde vive há cerca de um ano e trabalha num bar.
Foi enquanto estava nos Açores que, ao ver um concerto de Zeca Medeiros, teve a ideia do projeto. Sobretudo ao ver Carlos Medeiros, que também participava. "O disco faz uma abordagem diferente, de cantautor, sobre a música tradicional. Fiquei fascinado".
Um ponto de partida. Começou a explorar aqueles sons no computador e a fazer experiências, até que o disco ganhou forma. Só a meio do processo se cruzou com o som do Megafone de Aguardela: "Não conhecia. Quando ouvi, percebi que tinha de ir noutro sentido".
Concorreu aos prémios Megafone e foi apurado para a final. Dos três selecionados foi o único sem discos editados. O prémio foi atribuído aos mirandeses Galandum Galundaina, mas Pedro Lucas ganhou uma importante menção honrosa. O concerto foi uma surpresa, apesar de se ter notado a ausência de ensaios. Porque aconteceu ali, em palco, um bonito encontro de gerações, com as participações de Zeca e Carlos de Medeiros. Sobretudo a interpretação de As Ilhas de Bruma, por Zeca Medeiros, como se fosse um blues. O figurino porventura pouco prático. Mas Pedro insiste: "Gostava de ter sempre uma formação de banda, mas já percebi que tenho de ter uma alternativa mais portátil". Experimentar na m'incomoda é um autêntico disco voador.»
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