«There is no flag large enough to cover the shame of killing innocent people»
Howard Zinn.
Jorge Cadima: Massacres
O presidente do país reúne "todas as terças-feiras com cerca de duas dúzias de oficiais da segurança" para analisar a lista de alvos "a serem mortos ou capturados, sendo que a opção da captura se tornou em grande medida meramente teórica".
Por Jorge Cadima*
"Todas as semanas se juntam mais de cem membros do enorme aparelho de segurança nacional [...] para analisar as biografias dos suspeitos e recomendar ao presidente quem deverá ser o próximo a morrer". "Surge uma suspeita": que o presidente "esteja a evitar as complicações associadas com a detenção, decidindo na prática que não se apanham prisioneiros vivos. Enquanto largas dezenas de suspeitos já foram mortos [...] apenas um foi capturado". O presidente, "que se sente muito tranquilo com o uso da força", decidiu "adotar um método questionável de contabilizar as baixas civis [...]. Na prática, todos os homens em idade militar nas zonas de ataque são contabilizados como combatentes [...] a não ser que postumamente surjam informações explícitas que provem ser inocentes". Logo no "primeiro ataque sob a alçada" do presidente, "foi morto não apenas o alvo visado, mas duas famílias vizinhas, e foi deixado para trás um rasto de bombas de fragmentação que viriam a matar mais inocentes". Este "ataque pouco asseado" levou a que "vídeos de destroços de corpos de crianças e de aldeões enfurecidos surgissem [...] no Youtube, provocando reacções furiosas". Um leitor vítima da martelante campanha de desinformação dos meios de comunicação social pensará que estas citações dizem respeito à Síria e ao presidente Assad. Mas dizem respeito aos EUA. O presidente é a coqueluche dos sectores "liberais" e "social-democratas" do sistema, Barack Obama. A fonte é insuspeita e recente: um artigo do New York Times de 29 de maio.
É prática sistemática dos EUA assassinarem "alvos" a partir de aviões não tripulados (drones), no Afeganistão, Paquistão, Iêmen e Somália. Segundo o britânico Bureau of Investigative Journalism, entre 2004 e 2012 os EUA efetuaram, apenas no Paquistão, 327 deste tipo de ataques covardes, em que terão morrido umas 3000 pessoas, sendo 175 crianças e entre 480 a 830 civis. Apesar dos protestos das populações e dos próprios governos, a "comunidade internacional" não condena. A comunicação social de regime – sempre pronta a chorar civis «
"mortos pelos governos" como pretexto para guerras de agressão – mantém-se silenciosa quando o governo em causa é uma potência imperialista e a guerra de agressão já está em curso.
O recente massacre na aldeia síria de Houla foi macabro: mais de 100 mortos, na maioria mulheres e crianças degoladas ou mortas à queima-roupa. É o estilo dos bandos armados apoiados pelo "Grupo dos Amigos da Síria", ao qual pertencem grandes potências imperialistas, ditaduras fundamentalistas (como a Arábia Saudita e Qatar) e Paulo Portas. Relata a Al Jazeera (2/4/12) que esses "Amigos" criaram um fundo de "muitos milhões de dólares para financiar os membros da oposição armada, conhecidos por Exército Sírio Livreh", incluindo o pagamento dos seus salários (!). Já em Novembro passado o Daily Telegraph (25/11/11) informava que armas e combatentes líbios estavam a ser enviados para a Síria. "Há uma intervenção militar em curso. Dentro de poucas semanas vê-la-ão" afirmava uma "fonte líbia". Até Ban Ki-Moon foi obrigado a declarar (BBC, 18/5/12) que "acredito que a Al-Qaeda esteja por detrás" dos atentados bombistas que sacudiram as maiores cidades sírias nas últimas semanas. Mas apenas depois de "a Síria ter enviado às Nações Unidas uma lista com 26 nomes de estrangeiros presos, alegando que a maioria serão membros da Al-Qaeda". A versão oficial é que os EUA invadiram o Afeganistão para combater a Al-Qaeda. Pelos vistos a Al-Qaeda combate na Síria para que os EUA possam invadir. Confuso? Nem por isso.
Desengane-se quem pensa tratar-se dum problema de "ditadores" ou "direitos humanitários". Os factos são claros: tal como na corrida para a agressão à Iugoslávia, bandos armados ao serviço do imperialismo cometem massacres, que depois são invocados como pretextos para agressões militares. Um imperialismo decadente e em profunda crise está a abrir uma Caixa de Pandora no Médio Oriente.
* Jorge Cadima é articulista do Jornal Avante!»
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